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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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CINEMA DIGITAL

Tecnologia de "Matrix" toma filmes nacionais; produtoras começam a ser requisitadas por estrangeiros

Brasil tenta vôo ousado com efeitos especiais

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Você está pronto para conhecer o futuro? Mais ou menos como quem oferece a pílula de Matrix, o supervisor de efeitos especiais Marcelo Siqueira tem percorrido o escritório de produtores e diretores do cinema brasileiro com uma tentadora proposta: que tal filmar usando o processo digital?
Cacá Diegues, de "Deus É Brasileiro", topou. Jorge Furtado, de "O Homem que Copiava", também. Roberto d'Ávila e Patrick Siaretta, de "O Martelo de Vulcano", novo longa baseado na série "Ilha Rá-Tim-Bum", entraram de cabeça: com um orçamento relativamente baixo e um prazo de produção de quatro meses, fizeram aquele que, defendem, é "a obra cinematográfica brasileira com a maior quantidade de efeitos especiais já feita".
"O cinema digital é uma tendência mundial, muito mais fácil, rápido e controlado", defende Siqueira, do grupo TeleImage, que realiza desde as etapas mais simples do processo digital, como a transferência de vídeo para película, em alta definição, até a criação de cenários e personagens virtuais, como em "O Martelo de Vulcano", parceria entre a empresa, a TV Cultura e a Warner Bros.
Roteiros e investimentos à parte, a verdade é que já é possível, no país, trabalhar com os mesmíssimos equipamentos e softwares que deram origem a produções de padrão hollywoodiano como "Matrix" e "O Senhor dos Anéis".
"Deus É Brasileiro" e "O Martelo de Vulcano" -que estréia no dia 10 de outubro-, utilizaram os mesmos supercomputadores Maya, Cyborg e Inferno que os blockbusters americanos usaram para compor e editar suas imagens.
E dá para fazer um "Senhor dos Anéis" aqui? "Se aparecer alguém com dinheiro e prazo para isso, dá. A mão-de-obra é excelente, as técnicas e equipamentos são iguais e a gente tem um método de trabalho flexível. Além disso, o custo, por causa do dólar, é menor", diz o supervisor de efeitos, que já empregou as mesmas técnicas de "Matrix Reloaded" para realizar vôos em "O Martelo...".
Prática cada vez mais comum na indústria de animação americana, o mercado internacional de pós-produção já começa a buscar bons negócios no Brasil. A TeleImage fechou parcerias com a produção franco-chinesa "All Tomorrow's Parties" e com a Miramax, para trabalhar em "Voando Alto", de Bruno Barreto.
Mas, mesmo aqui, o trabalho de convencimento está apenas começando. "O Cacá [Diegues] queria fazer ["Deus É Brasileiro'] em processo óptico. No início, foi muito papo para convencê-lo a fazer um teste. Depois de 270 horas dentro de uma sala, literalmente brincando com as imagens dele, já estava querendo que a mata não fosse verde, mas amarela, mostarda", lembra Siqueira.
Outra passagem curiosa se deu com o fotógrafo Lauro Escorel, que trabalhou em "Uma Vida em Segredo", de Suzana Amaral: "O filme não tinha nada em digital e teve um plano superdifícil dramaticamente que acabou ficando com um pêlo na tela. E era só aquele plano. Eles rodaram outros dois e disseram "não, tem que ser esse". Tive de fazer oito testes diferentes até chegar à textura exata que agradasse ao Escorel. Um tempo depois, quando estávamos vendo o filme, ele falou: "Pô, sabe que eu nem lembro mais qual era a cena agora?". Isso para mim é a glória!".



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