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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Festival de Edimburgo aumenta carga erótica de seus espetáculos

JAMES MORRISON
DO "INDEPENDENT"

Este é o Festival de Edimburgo (Escócia) mais sexy da história, feito para chocar. O evento, que teve início na semana passada, nunca ofereceu antes uma amostra tão farta de nudez, sexo e pornografia. Mais de 60 dos espetáculos do Fringe deste ano têm temas sexuais ou incluem nudez ou erotismo.
Entre as produções mais bizarras que estão sendo apresentadas, figura ""TalkSexShow", no qual o veterano Paul Davies, passando-se por guru sexual tântrico, convida membros da platéia a se juntarem a ele no palco, nus. O espetáculo, anunciado como ""sessão de treinamento em fazer amor", inclui uma sequência em que um homem e uma mulher simulam atos sexuais, vestindo ""roupas de nu" grudadas ao corpo.
Outro que integra a programação de Edimburgo é ""The Floating Brothel" (O Bordel Flutuante), uma farsa sobre prostitutas do século 18 enviadas para entreter os detentos de uma colônia penal na Austrália. A peça inclui nudez frontal completa e um narrador que fala com a platéia enquanto se masturba. A peça já foi descrita por seus promotores como tendo ""mais pênis do que o Puppetry" -uma referência ao espetáculo de ""origami genital" ""Puppetry of the Penis", que está voltando à cidade.
Ainda outros espetáculos encenados no Fringe incluem ""The Whore's Tale" (A História da Prostituta), em que uma atriz vestindo saiote e suspensórios repassa a história da prostituição fazendo malabarismos sobre uma cama em formato de coração, além do ""Dance Japanesque Vagina".
Os organizadores do festival afirmam que a maioria dos espetáculos que incluem teor sexual o fazem de maneira original e justificada. O argumento não convenceu a todos.
Sir Jonathan Miller, escritor e diretor que deslanchou nos anos 60, descreveu o recurso a temas sexuais como ""monótono". ""O que aconteceu", disse, ""é que o Fringe se tornou um empreendimento cada vez mais comercial, e o que dá dinheiro hoje é sexo".
O ex-diretor do Fringe disse que a natureza repetitiva da programação reflete o interesse cada vez maior da mídia por sexo e a incapacidade britânica de se livrar da obsessão por nudez, satirizada pelo clássico ""Oh, Calcutta!", de 1967, do crítico Kenneth Tynan.
""É estranho que esse assunto continue a preocupar as pessoas depois de Ken Tynan ter criado "Calcutta", mas é a mesma coisa com a mídia: se ela não está cozinhando ou reformando as casas das pessoas, está mexendo com suas partes íntimas", afirmou.
Os responsáveis pelos espetáculos eróticos deste ano não lamentam o que fazem. Davies diz que a intenção de ""TalkSexShow" é satirizar essa obsessão. ""A sexualização de tudo em nossa sociedade é feita de maneira maquiavélica, e, ao deixarmos de utilizar uma iluminação teatral tradicional e fazer um espetáculo típico, estamos tentando dizer: "Vamos tratar esse assunto de maneira séria, direta"", disse. ""A idéia é sermos mais clínicos. Queremos dizer: "Ok, este é um pênis. Alguém quer subir aqui e nos mostrar seu pênis?"."
Mas Davies reconheceu que é provável que sua produção atraia um certo tipo de público. ""Fizemos um teste do espetáculo, e parece que a tendência é recebermos "swingers'", comentou.
Peter Machen, astro do ""The Floating Brothel", diz que chegou a pensar em incluir sexo ao vivo na produção. Ele afirma que a peça, que é altamente explícita, precisa disso para transmitir aos espectadores uma série de idéias históricas e sociológicas.
""Quisemos virar de ponta-cabeça a idéia de que as pessoas do século 18 não passavam de animais movidos por desejos básicos", disse. ""Procuramos atrair o público com aquilo que ele pensa que quer, mas então lhe oferecemos algo que tem um pouco mais de sensibilidade e substância."


Tradução Clara Allain


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