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TV
"Estrada do Pecado", achada no "baú", põe em xeque a história da teledramaturgia; redes tentam comprar obras da autora
Novela inédita marca "volta" de Janete Clair
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma garota rica apaixona-se
por um homem mais velho. O romance começa a esquentar quando ele descobre que ela é filha de
uma paixão do passado. A mãe,
infeliz no casamento, aproveita
esse reencontro para viver um
grande amor, ou deixa o galã para
a filha, que sofre de grave doença?
Esse é o dilema de "Estrada do
Pecado", novela inédita de Janete
Clair perdida provavelmente por
quase 40 anos entre milhares de
papéis datilografados pela autora.
Com 80 capítulos, seria pioneira
do formato atual de telenovelas e,
por isso, é considerada um "tesouro". Foi encontrada graças a
um minucioso garimpo no acervo
de Janete Clair, dona da maior
produção de telenovelas do país.
A pesquisa dá início a um "revival" da escritora, que neste ano
completaria seu 80º aniversário.
O projeto de recuperação de sua
memória será divulgado amanhã,
Dia da Televisão, em evento na
Academia Brasileira de Letras, no
Rio. Na presença de pesquisadores da USP, Boni, Glória Perez,
Daniel Filho e outros globais serão lançados o Instituto Janete
Clair e uma reedição do romance
"Nenê Bonet" (publicado em formato de folhetim na revista
"Manchete, na década de 70).
Mais do que conservar fisicamente os originais das cerca de
300 obras datilografadas por Clair
(1925-1983) ao longo de sua carreira, seus herdeiros querem trazer o nome da mãe de volta à TV.
O produtor cultural Luque Daltrozo, 39, foi designado pela família como agente para negociar as
novelas com emissoras de TV. Ele
só não poderá vender as 12 histórias escritas para a Globo, que
comprou os direitos em contrato
assinado em 1996 com o escritor
Dias Gomes, viúvo de Clair.
Antes de ganhar fama como
"rainha" das novelas das oito da
Globo, Clair havia obtido sucesso
como autora de radionovelas. Foram 37 textos, que poderão ser
adaptados para a televisão.
A família também colocou à
venda duas histórias transmitidas
pela TV Tupi ("O Acusador" e
"Paixão Proibida"), uma para a
TV Rio ("Acorrentados") e as exibidas pela Globo, mas produzidas
originalmente para o rádio.
Band, Record, uma emissora da
Argentina e uma de Portugal demonstraram interesse em adquirir um texto com a grife Clair.
R$ 1 milhão
Uma das novelas mais cobiçadas é "Véu de Noiva". Exibida pela Globo em 1969, marcou a consolidação da emissora como produtora de teledramaturgia e líder
de audiência. Foi adaptada pela
autora do original "Vende-se um
Véu de Noiva", escrita por ela para o rádio, quatro anos antes.
Para a exibição na televisão,
Clair aproveitou a ascensão do piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipald e usou esse universo como
pano de fundo da história central.
Além de explorar um tema contemporâneo, "Véu de Noiva" inovou por misturar realidade com
ficção, ferramenta hoje muito utilizada pelos autores. Para definir
quem ficaria com uma criança,
ela convenceu um juiz a participar
da novela e conduziu o julgamento com tom jornalístico. Nem o
elenco conhecia o veredicto.
A Bandeirantes avalia a possibilidade de comprar o texto, mas esbarra no valor pedido pela família. O agente Luque Daltrozo não
revela o preço das obras e diz que
depende da negociação, da quantidade de títulos a ser comprada.
Mas a Folha apurou que o original de "Véu de Noiva" não sai por
menos de R$ 1 milhão (uma novela bem-sucedida fora da Globo
pode gerar faturamento entre R$
25 milhões e R$ 30 milhões).
Mofo
Desde a morte de Clair por câncer, em 1983, seu acervo permaneceu "morto". Primeiro, no escritório de Dias Gomes, com quem
ela foi casada durante quase 40
anos. Quando o escritor morreu
de acidente, em 1999, os papéis foram empilhados num guarda-roupas de Alfredo (um dos filhos
do casal), onde muitos se degradaram em razão da umidade.
Por intermédio de Glória Perez,
"aprendiz" de Clair e amiga da família, o acervo passou para as
mãos do diretor e roteirista de TV
Márcio Tavolari, 38, e de pesquisadores do Núcleo de Telenovela
da USP, que formaram o Instituto
Janete Clair. O grupo passou meses na casa de Alfredo, no Rio de
Janeiro, organizando o material.
Já em caixas adequadas à conservação, foi trazido para um escritório em São Paulo. O próximo
passo é angariar fundos para obter uma sede e criar um site.
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