São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

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música

Pegou geral

Nova geração de sertanejos rompe preconceitos e vira trilha sonora de pegação em baladas das classes A e B

CARLOS MESSIAS
MARCUS PRETO

DE SÃO PAULO

"Estamos unindo as classes sociais. Se, até algum tempo atrás, o [gênero] sertanejo era música consumida só pelas classes C, D e E, ele agora chegou para o público A e B. Todo mundo -rico ou pobre- ouve a mesma música."
Quem fala é Paula Fernandes, 26, cantora e compositora mineira que acabada de alçar 1 milhão de cópias vendidas do CD e DVD "Ao Vivo".
A marca é sinal de que o novo sertanejo -chamado de sertanejo universitário, sertanejo pop ou pop rural, como a cantora prefere- deixou de ser atração exclusiva do universo de rodeios e feiras de agronegócios.
A geração de artistas que surgiu, no começo dos anos 2000, em cidades universitárias -sobretudo em Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais e Paraná- ganhou adeptos e é trilha em baladas frequentadas pela elite do país.
"É uma bagunça. O clima é para dançar e beijar muito na boca", diz Bruno Araújo, da dupla Juliani & Bruno, que faz show no clube Vila Country, em São Paulo.
Nesse mesmo espírito, chega a sua segunda edição o Sertanejo Pop Festival. No ano passado, o evento reuniu 33 mil pessoas. Neste ano espera-se 40 mil em dois dias.
Marcados para este fim de semana, na Chácara do Jockey, os shows são produzidos pela XYZ Live, mesma empresa que trouxe Amy Winehouse ao país em janeiro, no festival Summer Soul.
São 11 atrações, incluindo os líderes de arrecadação do Ecad: as duplas Victor & Leo e Fernando & Sorocaba. "Hoje, o público do sertanejo é universitário e tem bom poder aquisitivo", diz Paulo Octavio Almeida, diretor do festival. "Até dois anos atrás, o máximo que esses artistas podiam almejar era a plateia do festival de Barretos."
Envolvidos em cifras elevadas em vendas de CDs e shows, a maior parte desses artistas não têm problema em romper com a estética da música sertaneja "de raiz".
É comum a mistura de pop, baião, forró, axé e pagode na receita (leia ao lado). "A música sertaneja propicia essas misturas", diz César Menotti, da dupla César Menotti & Fabiano, uma das precursoras dessa nova geração.
Em contrapartida, artistas das "ondas anteriores", como o axé e o pagode, vêm pegando carona no sucesso do gênero. Ivete Sangalo participa do DVD de Luan Santana. O Exaltasamba gravou com Maria Cecília & Rodolfo.

SEM CHIFRES
A nova geração sertaneja também remodelou a linguagem "poética" das canções. Se antes o amor e a vida no campo eram o foco, hoje as letras abordam temas como internet e, com mais sucesso, "pegar geral na balada".
"Eu não aguentava mais aquelas histórias do cara que vai para a roça e toma um par de chifres", diz Sorocaba. Chitãozinho, que há 30 anos transformou a música sertaneja em fenômeno mercadológico ao lado de Xororó, é favorável às mudanças. "Na nossa época, as duplas eram formadas na fazenda, enquanto trabalhavam na lavoura. Hoje, os sertanejos se conhecem na faculdade e trazem esse caráter urbano para a música deles", diz.
O veterano ressalta a falta de preocupação dos novatos com o apuro técnico: a nova geração quer soar sempre como se fosse ao vivo. Nesse clima, os neossertanejos vêm derrubando porteiras e ganhando terreno.
"Antigamente, uma pessoa dizia: 'Não ouço isso, é sertanejo!', muitos concordavam e davam risadas em tom de chacota", diz Leo, que faz dupla com Victor. "Agora, a pessoa que age dessa forma não acha aliados e é interpretada como preconceituosa."

SERTANEJO POP FESTIVAL
QUANDO sáb., a partir das 14h, e dom., a partir das 13h
ONDE Chácara do Jockey (av. Pirajussara, s/no, Vila Sônia)
QUANTO de R$ 100 a R$ 300
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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