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ARTES PLÁSTICAS
Michelângelo convenceu
Deus e todo mundo
da Reportagem Local
O mestre renascentista Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni, o Michelângelo, foi um dos
casos raros de unanimidade no
meio artístico. E isso ainda em vida. Seu "Davi", por exemplo, foi
admirado por contemporâneos
ilustres, como Leonardo da Vinci,
Botticelli, Perugino e Filippino
Lippi.
Foi definido como um artista enviado por Deus pelo historiador e
artista Giorgio Vasari (1511-1574).
"E o Senhor do Paraíso decidiu
enviar à Terra um artista que possuísse aptidão para todas as artes,
cuja obra servisse para nos ensinar
como atingir a perfeição", escreveu Vasari.
Mesmo a Igreja Católica, com todos os seus dogmas, aceitava seus
caprichos e o erotismo latente de
seus trabalhos. Os nus de "Juízo
Final", por exemplo, escandalizaram o papado, que só mandou cobri-los depois da morte do mestre.
O encarregado foi Daniel de Volterra, seu aluno e admirador.
O nível de adoração do papado
era tamanho que o papa Júlio 2º, o
primeiro dos sete papas com quem
trabalhou, dizia que doaria seu
sangue e alguns anos de sua vida
apenas para prolongar a de Michelângelo.
Foi Júlio 2º que, em 1505, lhe encomendou uma de suas empresas
mais difíceis: o próprio túmulo do
papa. A obra, que teria mais de 30
estátuas, foi finalizada apenas em
1547 e em versão reduzida, já que
Michelângelo foi interrompido
por várias outras encomendas papais.
Nem o apoio dado à República
de Florença, em sua luta contra o
papado, lhe indispôs com a igreja,
que, passada a guerra, volta a exigir seus trabalhos.
Michelângelo sempre se considerou um escultor, mesmo quando empenhado nos trabalhos mais
importantes de sua vida, como os
afrescos da Capela Sistina, que
aceitou a contragosto. "Junto com
o leite de minha ama, engoli o
martelo e o formão que uso para
fazer minhas estátuas", disse.
Apenas com a escultura Michelângelo conseguiria recuperar o
ideal de beleza da Grécia antiga,
baseado no equilíbrio das formas e
na reunião de figuras laicas e sacras.
Mesmo sendo um dos artífices
do Renascimento, é possível pressentir em Michelângelo também o
fim do movimento. O artista negou as conquistas da perspectiva,
rompeu com o ilusionismo e com
a harmonia renascentista. A veemência das formas anatômicas humanas anunciavam o barroco, como no desenho desta página, preparatório para a cena "Expulsão
do Paraíso", nos afrescos da Capela Sistina.
"A mostra nasce a partir de um
projeto de divulgação da Casa
Buonarroti no mundo, que está sediada em um local onde viveu Michelângelo em Florença. É um
convite para que pessoas muito
longe de nós conheçam um pouco
de nossa realidade museológica",
disse Pina Ragionieri, diretora da
Casa Buonarroti.
A mostra será enriquecida com
uma exposição de arte italiana do
acervo do Masp, do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) e de
outras coleções brasileiras, curada
pelo professor Luiz Marques.
"Procurei não repetir os mesmos empréstimos feitos para a
mostra de arte italiana do final do
ano passado. Também tentei, mesmo que de maneira relativamente
tênue, fazer com que a mostra tivesse relações com Michelângelo,
privilegiando, por exemplo, o nu",
disse.
(CELSO FIORAVANTE)
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