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Tráfico de órgãos é tema de Frears
DO ENVIADO A VENEZA
O 59º Festival de Cinema de Veneza, que terminou no último domingo, teve ao menos duas pérolas na competição oficial: "Dirty
Pretty Things", do inglês Stephen
Frears, e "Dolls", do japonês Takeshi Kitano. Nenhum deles, porém, foi premiado na mostra.
O filme de Kitano são três histórias de amor que se entrecruzam,
todas elas fatalistas, narradas
muito livremente, com um formidável trabalho de cores e formas.
É cinema de poesia.
O filme de Frears é uma prosa
ultracontemporânea sobre o
mundo da imigração ilegal na Inglaterra. O diretor está na sua melhor forma, recuperando a atualidade que fez sua fama em "Minha
Adorável Lavanderia".
A atriz francesa Audrey Tautou,
de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", faz uma imigrante
turca que sonha em imigrar para
os EUA. Trabalha num hotel onde
funciona uma máfia de tráfico de
órgãos humanos, que negocia
com os imigrantes miseráveis a
troca de um rim, por exemplo,
por novo passaporte e algum dinheiro.
Leia a seguir a entrevista feita
pela Folha com Frears em Veneza, junto com mais quatro jornalistas de várias partes do mundo.
Folha - A história do tráfico de órgãos parece a de um "snuff movie".
Isso acontece de fato na realidade?
Stephen Frears - Evidentemente,
vê-se o tempo todo nos jornais ingleses. Na semana passada, um
médico que fazia transplantes ilícitos foi pego pela polícia. Alguém
diz: "Você me vende seu rim e eu
te dou dinheiro e passaporte". As
pessoas aceitam negociar com
seus órgãos, na esperança de ter
uma vida melhor.
Folha - Por que os EUA representam uma sociedade melhor para os
seus personagens?
Frears - Porque a América é
mais rica. É para onde todo mundo quer ir. É uma espécie de paraíso.
Folha - É um paraíso também para a imigração, ao contrário da Europa?
Frears - É o que as pessoas vêem
na televisão: uma vida melhor,
com mais prazeres, mais conforto, mais riqueza, um clima bom
em qualquer parte.
Folha - "Dirty Pretty Things" é
um filme político?
Frears - Claro. Mas é também
um filme romântico, de horror,
um thriller. Você pode encarar o
filme seriamente ou como um entretenimento. O que eu gosto nele
é que tudo é contado de maneira
pop.
Folha - Se ele é político, é a respeito do quê?
Frears - É sobre uma uma sociedade em que o nível de desigualdade é tão grande que você acaba
tendo muitos problemas, como
crimes e tráfico de órgãos. Essa é a
lógica da economia de mercado.
Meu filme é também sobre economia política.
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