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"O CAMINHO DAS NUVENS"
Filme do cineasta Vicente Amorim é baseado em trajetória real de migrantes paraibanos
"Road movie" evita conflitos e fica no idílio
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A história do caminhoneiro desempregado que viajou
de bicicleta com a família da Paraíba ao Rio de Janeiro em busca
de um emprego de R$ 1.000 é daquelas que suscitam o comentário: "Puxa, daria um filme".
O jovem cineasta Vicente Amorim acreditou nisso e baseou nela
seu primeiro longa-metragem de
ficção, "O Caminho das Nuvens".
Só não se deu conta de que, ao
passar a história para o cinema,
teria de lhe dar um sentido: aventura, parábola moral, drama familiar, saga, retrato social, sátira
de costumes, o que fosse.
"O Caminho das Nuvens" esboça, aqui e ali, todos esses caminhos, mas não desenvolve nenhum. Como consequência, o filme todo parece ser apenas uma
ilustração de sua sinopse. Não há
surpresa, descoberta ou aprendizado para o espectador.
Parece haver uma operação deliberada de esvaziamento dos
conflitos sugeridos, seja por respeito excessivo à história da família real, seja pelo intuito de manter
a narrativa num meio-tom confortável e sem grandes riscos.
Eis algumas das linhas dramáticas deixadas a meio caminho: o
choque entre o pai (Wagner Moura) e o filho mais velho (Ravi Ramos Lacerda), a tensão entre a
mulher letrada (Cláudia Abreu) e
o marido analfabeto, a hostilidade
do meio físico e social.
Por esse temor de ir fundo em
suas linhas de força, o filme acaba
desperdiçando seus próprios
acertos, como o achado de casting
que foi a escalação de Sidney Magal como um empresário picareta
de shows populares.
Cláudia Abreu mostra esforço e
talento na tentativa de ser convincente como uma sertaneja pobre,
mãe de cinco filhos. Mas a pergunta é: por que ela? Não havia
neste Brasil outra atriz mais adequada para o papel?
O filme cresce em densidade
dramática quando estão em cena
os excelentes Wagner Moura e
Ravi Lacerda. Mas sempre que isso acontece, dá-se um jeito de voltar correndo para o idílio. E tome
Roberto Carlos na voz adocicada
de Cláudia Abreu.
Desde "Iracema - Uma Transa
Amazônica", passando por "Bye
Bye Brasil" e desembocando em
"Central do Brasil", o filme de estrada brasileiro tem, sob formas
variadas, uma tradição de descoberta e revelação do país.
Em "O Caminho das Nuvens"
há, ao contrário, uma espécie de
apagamento. Se sobra alguma
coisa, é uma mistificação do "povo simples", com seu otimismo
pitoresco e sem razão.
O Caminho das Nuvens
Produção: Brasil, 2003
Direção: Vicente Amorim
Com: Wagner Moura, Cláudia Abreu,
Ravi Ramos Lacerda
Quando: em cartaz a partir de sexta
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