UOL


São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Alemã tinha 101 anos e foi responsável por filmes oficiais do regime, em que introduziu diversas técnicas de filmagem

Morre Riefenstahl, cineasta do nazismo

DA REDAÇÃO

A alemã Leni Riefenstahl, que foi a cineasta oficial do nazismo, morreu anteontem, aos 101 anos, em sua casa, em Poecking (sul de Munique, Alemanha).
Segundo declaração de seu amigo Horst Kettner, a cineasta -que tinha câncer e estava debilitada nos últimos meses- morreu enquanto dormia.
Riefenstahl negou até o fim da vida que tivesse convicções políticas ao trabalhar para Adolf Hitler (1899-1945), e enfrentou o ostracismo na Alemanha durante anos após o fim da Segunda Guerra (1939-1945). Sua obra começou a ser revista quando cineastas como Luis Buñuel (1900-1983) reconheceram seu valor, e mostras retrospectivas começaram a surgir.
A relação com o nazismo começou em 1934, quando a cineasta dirigiu "O Triunfo da Vontade", documentário que registra um congresso nazista em Nuremberg. O resultado impressionou tanto Hitler e o chefe de propaganda, Josef Goebbels, que ela ganhou outra encomenda: realizar o filme oficial das Olimpíadas de Berlim, em 1936, "Olimpia".
Nesses filmes, Riefenstahl foi a pioneira em diversas técnicas, como colocar câmeras em carros elétricos em trilhos para filmar corridas, uso de gruas, slow motion e variações de perspectivas.
Diversas vezes na vida a cineasta tentou explicar sua participação no nazismo. "Estava interessada apenas em fazer um filme que não fosse estúpido como um simples informativo de propaganda, mas sim mais inteligente", disse em uma entrevista à BBC, sobre "Triunfo". "Ele reflete a verdade como era em 1934; é um documentário, não uma propaganda."
No fim da guerra, ela foi inocentada duas vezes por cortes aliadas e começou a trabalhar como fotógrafa. Apenas em 2002 Riefenstahl foi alvo de nova investigação. Uma organização alemã acusou a cineasta de ter usado 120 ciganos vindos de campos de concentração como extras no seu filme "Tiefland" (1954). A organização diz que ela teria enviado-os novamente aos campos, condenando-os à morte, após a conclusão das filmagens. Novamente, nada foi provado, e a atriz emitiu uma declaração em que afirmava não ter conhecimento do fato.
Nos anos 60, mudou-se para a África e tentou construir sua carreira fazendo fotos da tribo nuba, no Sudão. O resultado saiu no livro "Die Nuba". Na época, enfrentou críticas que a acusavam de promover o mesmo trabalho de glorificação do corpo humano. "Sempre olho mais para o bom e o belo do que para o feio e doente", disse na ocasião.
Aos 72, começou a praticar mergulho e tirar fotos aquáticas. O resultado é o filme "Impressões Debaixo d'Água" (2001), em que registra a vida submarina.


Texto Anterior: Outra frequência: Miro e a promessa de acabar com a "caixa-preta" das concessões
Próximo Texto: Análise: Ilusões cinematográficas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.