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"REDENTOR"
Em seu novo filme, diretor narra a história de um jornalista em conflito ético ao receber proposta escusa
Cláudio Torres opõe espiritualidade do povo a materialismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Redentor" é, de longe, o
filme mais interessante
desenvolvido pela Conspiração
Filmes, um projeto de cinema industrial que começa por levar em
conta o público que frequenta hoje os cinemas: a classe média.
Ela será chamada ao interior
desta ficção logo nos primeiros
momentos, quando se sabe da
existência de um construtor que
faliu (não como Sérgio Naya, mas
a lembrança vem à mente, junto
com a da falência de construtoras) e, logo depois, suicidou-se.
O filho Otávio (Miguel Falabella) herda-lhe as dívidas e também
o espírito de vigarice. Isso o põe
em confronto com Célio (Pedro
Cardoso), jornalista e inimigo de
infância do tal Otávio.
Para poder pôr a mão em uma
bolada e passar mais gente para
trás, Otávio propõe a Célio que
entre numa jogada escusa. Este
está prestes a fraquejar, quando
tem uma crise mística, fala com
Deus e toma um novo rumo: decide pôr as coisas no lugar, pagar os
operários que tinham levado o cano, ressarcir os condôminos que
haviam pago por apartamentos
nunca entregues etc.
É aí que a coisa começa a se tornar interessante, na verdade, pois
é quando a ficção vai opor espiritualidade e materialismo. Ou seja:
a velha espiritualidade brasileira,
que se encontra representada
profundamente no Cristo Redentor do Rio de Janeiro vai chocar-se com o espírito de consumo de
que a nação foi acometida de algumas décadas para cá e que atinge, indistintamente, os pobres, a
classe média e os milionários.
Assim, apesar das jogadas para
a platéia do jornalista (tipo querer
ver Brasília destruída por uma
bomba atômica), é evidente que
"Redentor" trabalha com mais
sutileza essa questão e não atribui
a raiz dos problemas nacionais
aos governos, mas procura indagar o que uma mentalidade da
qual cada um de nós faz parte tem
a ver com isso.
Desde o episódio que dirigiu em
"Traição", Cláudio Torres amadureceu. Perdeu, por exemplo, a
ansiedade que o levara a tentar fazer de cada cena um evento. Procura dar corpo a seus personagens, mesmo que não raro ceda
ao empetecamento. É como se
objetivo final fosse chegar à cena
no topo do prédio, com todo o seu
ar expressionista.
O roteiro costura mais ou menos uns cem filmes, de "Sunset
Boulevard", no início, ao "Tesouro de Sierra Madre", no final. Não
é um problema, é até bom sinal:
"Redentor" procura, apesar da
grandiloqüência inútil e de recursos meramente retóricos (exemplo: esse "O Guarani" que entra
ha história como mero signo de
brasilidade).
Mas, se se trata de buscar um cinema de apelo popular, talvez essas demagogias sejam mesmo necessárias. Se se quer conquistar o
mercado, isso será feito com filmes de grande alcance. "Redentor" é uma evolução considerável
neste caminho, pois assim como
esbanja efeitos, consegue formular questões.
Redentor
Direção: Cláudio Torres
Produção: Brasil, 2004
Com: Pedro Cardoso, Miguel Falabella
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco 1, Pátio Higienópolis 3
e circuito
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