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DVDs
Lançamentos atualizam Revolução Francesa
"Danton", de Wajda, e "Casanova e a Revolução", de Ettore Scola, saem em DVD
Produzidos nos anos 80, os dois filmes buscam discutir a política contemporânea de forma didática usando o século 18 como referência
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Na década de 1980, talvez por conta da proximidade do bicentenário da Revolução Francesa (iniciada em 1789), vários filmes
trataram desse momento histórico. Dois dos mais notáveis
deles chegam agora ao DVD:
"Casanova e a Revolução"
(1982), de Ettore Scola, e "Danton" (1983), de Andrzej Wajda.
Os dois diretores têm estilos
diferentes, mas uma preocupação comum: servir-se da história para iluminar a política contemporânea. O resultado, em
ambos, é mais interessante para a reflexão política do que
propriamente para o cinema,
que serve aqui como mera ilustração de idéias preexistentes.
O filme de Scola se concentra
no episódio da tentativa de fuga
do rei Luís 16 para a Áustria,
onde se juntaria a um Exército
contra-revolucionário para
tentar restaurar o absolutismo
na França. Estamos em 1791, e
a fuga frustrada do rei (a chamada "noite de Varennes")
apressará o fim da monarquia.
A narrativa de Scola acompanha uma carruagem que segue,
com algumas horas de distância, a da família real. Nela viajam, entre outros passageiros, o
sedutor e aristocrata decadente
Giacomo Casanova (Marcello
Mastroianni), o escritor libertino Restif de la Bretonne (Jean-Louis Barrault), o escritor liberal Thomas Paine (Harvey Keitel) e a dama de companhia da
rainha (Hanna Schygulla).
Por meio desse "road movie"
engenhoso -que segue o esquema do conto "Bola de Sebo",
de Maupassant, e do filme "No
Tempo das Diligências" (1939),
de John Ford-, o diretor traça
um painel das forças em jogo
naquele momento crucial da
Revolução.
A reconstituição histórica
é acurada, os atores são magníficos, mas o que reduz o
brilho do filme é a ânsia de
explicar tudo pelos diálogos,
como numa aula ilustrada.
Uma exceção é a cena em que
só se vêem, por uma fresta, as
pernas do rei (de Michel Piccoli, aliás), num momento de puro cinema. Um extra mostra que a versão italiana tinha um
final ainda mais didático.
Já o polonês Andrzej Wajda
centra seu foco em 1794, em
plena fase do Terror, em que os
próprios revolucionários mandam uns aos outros para a guilhotina. O confronto aqui é entre o "incorruptível" Robespierre (Wojciech Pszoniak),
então chefe do Comitê de Salvação Pública, e o dissidente
Danton (Gerard Depardieu).
Wajda usa essa cisão para
discutir a perversão dos valores
revolucionários, a transformação dos ideais libertários em tirania. Seu alvo evidente eram
os regimes comunistas então
vigentes no Leste Europeu.
Aqui também o cinema é veículo para a discussão histórica
e o discurso prevalece sobre a
imagem. Resultado: dois filmes
agradáveis e instrutivos. Mas
não se espere a invenção poética com que um Visconti ou um
Bertolucci se debruçam sobre o
passado.
CASANOVA E A REVOLUÇÃO
Direção: Ettore Scola
DANTON - O PROCESSO DA REVOLUÇÃO
Direção: Andrzej Wajda
Distribuição: Versátil (R$ 38, em média, cada um)
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