São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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DVDs

Lançamentos atualizam Revolução Francesa

"Danton", de Wajda, e "Casanova e a Revolução", de Ettore Scola, saem em DVD

Produzidos nos anos 80, os dois filmes buscam discutir a política contemporânea de forma didática usando o século 18 como referência

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Na década de 1980, talvez por conta da proximidade do bicentenário da Revolução Francesa (iniciada em 1789), vários filmes trataram desse momento histórico. Dois dos mais notáveis deles chegam agora ao DVD: "Casanova e a Revolução" (1982), de Ettore Scola, e "Danton" (1983), de Andrzej Wajda.
Os dois diretores têm estilos diferentes, mas uma preocupação comum: servir-se da história para iluminar a política contemporânea. O resultado, em ambos, é mais interessante para a reflexão política do que propriamente para o cinema, que serve aqui como mera ilustração de idéias preexistentes.
O filme de Scola se concentra no episódio da tentativa de fuga do rei Luís 16 para a Áustria, onde se juntaria a um Exército contra-revolucionário para tentar restaurar o absolutismo na França. Estamos em 1791, e a fuga frustrada do rei (a chamada "noite de Varennes") apressará o fim da monarquia.
A narrativa de Scola acompanha uma carruagem que segue, com algumas horas de distância, a da família real. Nela viajam, entre outros passageiros, o sedutor e aristocrata decadente Giacomo Casanova (Marcello Mastroianni), o escritor libertino Restif de la Bretonne (Jean-Louis Barrault), o escritor liberal Thomas Paine (Harvey Keitel) e a dama de companhia da rainha (Hanna Schygulla).
Por meio desse "road movie" engenhoso -que segue o esquema do conto "Bola de Sebo", de Maupassant, e do filme "No Tempo das Diligências" (1939), de John Ford-, o diretor traça um painel das forças em jogo naquele momento crucial da Revolução.
A reconstituição histórica é acurada, os atores são magníficos, mas o que reduz o brilho do filme é a ânsia de explicar tudo pelos diálogos, como numa aula ilustrada.
Uma exceção é a cena em que só se vêem, por uma fresta, as pernas do rei (de Michel Piccoli, aliás), num momento de puro cinema. Um extra mostra que a versão italiana tinha um final ainda mais didático.
Já o polonês Andrzej Wajda centra seu foco em 1794, em plena fase do Terror, em que os próprios revolucionários mandam uns aos outros para a guilhotina. O confronto aqui é entre o "incorruptível" Robespierre (Wojciech Pszoniak), então chefe do Comitê de Salvação Pública, e o dissidente Danton (Gerard Depardieu).
Wajda usa essa cisão para discutir a perversão dos valores revolucionários, a transformação dos ideais libertários em tirania. Seu alvo evidente eram os regimes comunistas então vigentes no Leste Europeu.
Aqui também o cinema é veículo para a discussão histórica e o discurso prevalece sobre a imagem. Resultado: dois filmes agradáveis e instrutivos. Mas não se espere a invenção poética com que um Visconti ou um Bertolucci se debruçam sobre o passado.


CASANOVA E A REVOLUÇÃO
    
Direção:
Ettore Scola

DANTON - O PROCESSO DA REVOLUÇÃO    
Direção:
Andrzej Wajda
Distribuição: Versátil (R$ 38, em média, cada um)


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