São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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Diáspora cigana


Ruth Escobar produz seu 8º festival, a partir de outubro, só com ciganos


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Folha - A pergunta óbvia é...
Ruth Escobar -
Por que ciganos?
A atriz e empresária ri. Seu Festival Internacional de Artes Cênicas, Fiac, que já trouxe peças de Robert Wilson e outros diretores, este ano terá só grupos ciganos, na maioria de música.
"Eu acho que a coisa começou", diz ela, arriscando uma primeira resposta, "porque o espetáculo de maior sucesso no festival do ano passado foi o da Índia, e eles eram ciganos. É o pessoal do Rajastão. O público não deixava eles irem embora. Eles tinham que voltar cinco, seis vezes".
O "pessoal do Rajastão", que é o grupo Divana de músicos e poetas daquele Estado no norte da Índia, está de volta. Deve abrir a mostra, que começa dia 21 de outubro e vai até 7 de novembro com apresentações em teatros paulistanos como o Municipal, a Sala São Paulo e o Sesc Pompéia. O espetáculo é novo, com elenco maior, inclusive uma bailarina.
"A gente resolveu abrir com eles", diz Ruth Escobar, "porque os ciganos saíram da Índia". Cigano, diz o "Aurélio", é "um povo nômade, provavelmente originário da Índia e que emigrou em grande parte para a Europa". Mas cigano é também o "indivíduo boêmio, erradio, de vida incerta", ou pior, "trapaceiro".
Essa é uma segunda razão para um festival só de ciganos. "Eles são dos povos mais perseguidos do mundo", diz a diretora do festival. "Não são respeitados como as outras etnias. Mesmo agora, na guerra dos Bálcãs, eles foram prensados dos dois lados, acusados pelos dois lados."
Ruth Escobar lembra rindo que, "quando era menina", em Portugal, sua mãe a impedia de sair à rua, quando passavam ciganos, "porque eles roubavam crianças". Até hoje, ela não escapa de dizer: "Nós estamos enlouquecidos. Você sabe que os ciganos não têm passaporte. Eles vendem (ri). São muito desorganizados".
Mas ela garante que está tudo certo. Entre outros, estarão na cidade o músico bósnio Goran Bregovic (28 a 31 de outubro, no Municipal), compositor dos filmes de Emir Kusturica, como "Underground" (Palma de Ouro em Cannes, em 95), filmes que devem ser apresentados durante o festival; e a bailarina espanhola de flamenco Eva Garrido, chamada "La Yerbabuena" (5 a 7 de novembro, na Sala São Paulo).
Paralelamente ao festival, que este ano terá pouco de "artes cênicas", está previsto um seminário, com participantes inusitados -ainda a confirmar- como a secretária da Cultura do Piauí e a americana Isabel Fonseca, autora de "Enterrem-me em Pé" (Cia.das Letras, 96), história da perseguição nazista aos ciganos.
Outros grupos e artistas programados para o festival: Kocani Orkestar, da Macedônia, Taraf de Haidouks, da Romênia, Músicos do Nilo, do Egito, Kek Lang, da Hungria, Koumpaneia Kostas Xalkias, da Grécia, e o cigano Wagner Tiso, do Brasil.


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