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repercussão
Franceses se surpreendem com premiação
GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Independentemente de
considerar o prêmio merecido ou não, a impressão
geral é de que a intelectualidade francesa respira
mais aliviada com a premiação de Jean-Marie Le
Clézio. "Quer dizer que
nossa literatura não está
tão decadente quanto andavam dizendo por aí", parece ser o espírito que percorreu o país. A França
não recebia um Prêmio
Nobel de Literatura desde
2000, quando o francês de
origem chinesa Gao Xingjian foi o vencedor.
"Estamos sempre
olhando para o passado e
lamentando a produção
atual. "O que foi feito da
grande literatura francesa
?", nos perguntamos. Dentre desse quadro de tristeza em que vivemos, não
posso deixar de considerar
o prêmio como uma grande notícia", disse Jacques
Leenhardt, diretor de estudos literários da EHESS,
em Paris.
"Independentemente
da qualidade dos outros
concorrentes, Philip Roth
e Ismail Kadaré, Le Clézio
faz uma literatura consistente, bastante arejada para o mundo, acho uma
atribuição bastante pertinente." Para o escritor
francês Richard Vieille, a
premiação surpreende.
"Não tenho como negar
que a escolha me impressiona, talvez porque a prosa de Roth me pareça pelo
menos três vezes melhor.
Le Clézio não toca em problemas sociais. É extremamente poético, mas não
se ocupa das coisas deste
mundo. Ao contrário de
Claude Simon [premiado
em 1985], que era extremamente engajado.
Não quero fazer política
baixa, mas é um fator que
pode ter influenciado a
Academia."
Símbolo da França
Por meio de um comunicado, o presidente da
França, Nicolas Sarkozy,
comentou sua satisfação,
apontando Le Clézio como um símbolo da influência cultural do país
no mundo.
"Uma criança nas Ilhas
Maurício e Nigéria, um
adolescente em Nice e um
nômade pelos desertos da
América e África, Jean-Marie Le Clézio é um cidadão do mundo, filho de todos os continentes e culturas", disse o presidente.
"Um grande viajante, ele
incorpora a influência da
cultura dos valores franceses a um mundo globalizado", completou.
Para Bernard Kouchner, ministro das Relações
Exteriores, "essa magnifica distinção vem coroar
umas das criações romanescas mais singulares de
nosso tempo, uma das escritas mais exigentes e
mais inventivas".
"De Albuquerque a Seul,
de Nova York ao Panamá,
de Londres a Lagos, Jean-Marie Gustave Le Clézio
vive, viaja, atravessa e ama
um grande número de países, povos, civilizações e
culturas."
Reforçar o caráter internacional de Le Clézio pode
ser uma estratégia para diminuir o rumor, bastante
corrente nos EUA, de que
a Academia Sueca seria
eurocentrista.
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