São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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repercussão

Franceses se surpreendem com premiação

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Independentemente de considerar o prêmio merecido ou não, a impressão geral é de que a intelectualidade francesa respira mais aliviada com a premiação de Jean-Marie Le Clézio. "Quer dizer que nossa literatura não está tão decadente quanto andavam dizendo por aí", parece ser o espírito que percorreu o país. A França não recebia um Prêmio Nobel de Literatura desde 2000, quando o francês de origem chinesa Gao Xingjian foi o vencedor.
"Estamos sempre olhando para o passado e lamentando a produção atual. "O que foi feito da grande literatura francesa ?", nos perguntamos. Dentre desse quadro de tristeza em que vivemos, não posso deixar de considerar o prêmio como uma grande notícia", disse Jacques Leenhardt, diretor de estudos literários da EHESS, em Paris.
"Independentemente da qualidade dos outros concorrentes, Philip Roth e Ismail Kadaré, Le Clézio faz uma literatura consistente, bastante arejada para o mundo, acho uma atribuição bastante pertinente." Para o escritor francês Richard Vieille, a premiação surpreende.
"Não tenho como negar que a escolha me impressiona, talvez porque a prosa de Roth me pareça pelo menos três vezes melhor. Le Clézio não toca em problemas sociais. É extremamente poético, mas não se ocupa das coisas deste mundo. Ao contrário de Claude Simon [premiado em 1985], que era extremamente engajado. Não quero fazer política baixa, mas é um fator que pode ter influenciado a Academia."

Símbolo da França
Por meio de um comunicado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, comentou sua satisfação, apontando Le Clézio como um símbolo da influência cultural do país no mundo.
"Uma criança nas Ilhas Maurício e Nigéria, um adolescente em Nice e um nômade pelos desertos da América e África, Jean-Marie Le Clézio é um cidadão do mundo, filho de todos os continentes e culturas", disse o presidente.
"Um grande viajante, ele incorpora a influência da cultura dos valores franceses a um mundo globalizado", completou.
Para Bernard Kouchner, ministro das Relações Exteriores, "essa magnifica distinção vem coroar umas das criações romanescas mais singulares de nosso tempo, uma das escritas mais exigentes e mais inventivas".
"De Albuquerque a Seul, de Nova York ao Panamá, de Londres a Lagos, Jean-Marie Gustave Le Clézio vive, viaja, atravessa e ama um grande número de países, povos, civilizações e culturas."
Reforçar o caráter internacional de Le Clézio pode ser uma estratégia para diminuir o rumor, bastante corrente nos EUA, de que a Academia Sueca seria eurocentrista.


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