São Paulo, sábado, 10 de outubro de 1998

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TELEVISÃO
'Metrópolis' revela o berço de bandas do PE

CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

A idéia era produzir uma matéria especial para o Metrópolis sobre as bandas de rock do Alto José do Pinho, na periferia de Recife. Porém, logo que as equipes da TV Cultura chegaram no local, perceberam que dali não sairia apenas uma matéria de oito ou dez minutos, mas um programa inteiro.
O resultado de uma semana de trabalho intenso poderá ser visto na próxima terça-feira, às 21h30 - horário em que o Metrópolis falará com sotaque "hardi cori".
"Nosso único problema era tempo. Tínhamos apenas três dias e duas noites para captação de imagens e entrevistas", explica a diretora do especial Helga Simões. "Fomos para cobrir o primeiro Festival PE no Rock (dissidente do Abril Pró Rock, com shows de 23 bandas pernambucanas) e produzir uma matéria de cunho social sobre o morro onde tem ocorrido um fenômeno maravilhoso."
Ela se refere ao trabalho que bandas de música desenvolve naquela comunidade. Ao invés de trilhar os caminhos da política ou da religião como ocorre em outras favelas, é na cultura que está o futuro e a auto-estima dos habitantes do morro Alto Zé do Pinho.
O programa mostra crianças cantando de cór refrões pauleiras de bandas como Devotos do Ódio, Faces do Subúrbio e Matalanamão. Uma delas, chamada Simone, 11, diz que adora morar no morro porque a música sempre anima o ambiente. "Só que às vezes tem umas brigas aqui ou ali", diz.
Na verdade, Alto Zé do Pinho já foi a campeã de matérias nas páginas policiais dos jornais pernambucanos.
Hoje, segundo o vocalista do Faces do Subúrbio, xxx, as páginas policiais foram substituídas pelas páginas culturais.
xxx, outros músicos e moradores do morro são entrevistados por Cunha Jr., do Metrópolis, e por Canibal, vocalista do Devotos, que mostra surpreendente naturalidade no papel de repórter. As sonoras tiveram o reforço fundamental do vídeo-repórter Marcello Novaes.
As imagens obtidas por Novaes e pelo cinegrafista Valdir Rodrigues e o trabalho de áudio de Sílvio de Oliveira são propositalmente simples para retratar o ambiente. "Além disso, optamos por fazer uma edição sem efeitos para passar a emoção que sentimos durante as gravações", diz Helga.
É interessante notar que a história da comunidade é contada pelos moradores, por gente até que não conhece as bandas novas, "porque é coisa recente", diz uma velhinha desdentada da janela.
Matérias especiais são comuns no programa que se tornou a revista cultural mais respeitada da televisão aberta.
Recentemente, o Metrópolis comemorou o centenário do poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé com entrevistas do poeta concretista Haroldo de Campos; imagens da exposição de fotografias - inspiradas no poema "Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso" - do videoartista Walter Silveira e do fotógrafo Fernando Lazlo, e performance do ator xxx, que leu trechos de "Um Lance de Dados" em plena praça da República.
Outra matéria recente reuniu grafiteiros para falar sobre sua arte e a exposição, montada em agosto na Pinacoteca do Ibirapuera, com telas e desenhos do colega de técnica Jean-Michel Basquiat - artista que traduziu a visualidade norte-americana da década de 80 e morreu aos 27 anos vítima de uma overdose de heroína.



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