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TELEVISÃO
'Metrópolis' revela o berço de bandas do PE
CAMILA VIEGAS
especial para a Folha
A idéia era produzir uma matéria
especial para o Metrópolis sobre as
bandas de rock do Alto José do Pinho, na periferia de Recife. Porém,
logo que as equipes da TV Cultura
chegaram no local, perceberam
que dali não sairia apenas uma matéria de oito ou dez minutos, mas
um programa inteiro.
O resultado de uma semana de
trabalho intenso poderá ser visto
na próxima terça-feira, às 21h30 -
horário em que o Metrópolis falará
com sotaque "hardi cori".
"Nosso único problema era tempo. Tínhamos apenas três dias e
duas noites para captação de imagens e entrevistas", explica a diretora do especial Helga Simões.
"Fomos para cobrir o primeiro
Festival PE no Rock (dissidente do
Abril Pró Rock, com shows de 23
bandas pernambucanas) e produzir uma matéria de cunho social
sobre o morro onde tem ocorrido
um fenômeno maravilhoso."
Ela se refere ao trabalho que bandas de música desenvolve naquela
comunidade. Ao invés de trilhar os
caminhos da política ou da religião
como ocorre em outras favelas, é
na cultura que está o futuro e a auto-estima dos habitantes do morro
Alto Zé do Pinho.
O programa mostra crianças
cantando de cór refrões pauleiras
de bandas como Devotos do Ódio,
Faces do Subúrbio e Matalanamão.
Uma delas, chamada Simone, 11,
diz que adora morar no morro
porque a música sempre anima o
ambiente. "Só que às vezes tem
umas brigas aqui ou ali", diz.
Na verdade, Alto Zé do Pinho já
foi a campeã de matérias nas páginas policiais dos jornais pernambucanos.
Hoje, segundo o vocalista do Faces do Subúrbio, xxx, as páginas
policiais foram substituídas pelas
páginas culturais.
xxx, outros músicos e moradores
do morro são entrevistados por
Cunha Jr., do Metrópolis, e por Canibal, vocalista do Devotos, que
mostra surpreendente naturalidade no papel de repórter. As sonoras tiveram o reforço fundamental
do vídeo-repórter Marcello Novaes.
As imagens obtidas por Novaes e
pelo cinegrafista Valdir Rodrigues
e o trabalho de áudio de Sílvio de
Oliveira são propositalmente simples para retratar o ambiente.
"Além disso, optamos por fazer
uma edição sem efeitos para passar
a emoção que sentimos durante as
gravações", diz Helga.
É interessante notar que a história da comunidade é contada pelos
moradores, por gente até que não
conhece as bandas novas, "porque
é coisa recente", diz uma velhinha
desdentada da janela.
Matérias especiais são comuns
no programa que se tornou a revista cultural mais respeitada da televisão aberta.
Recentemente, o Metrópolis comemorou o centenário do poeta
simbolista francês Stéphane Mallarmé com entrevistas do poeta
concretista Haroldo de Campos;
imagens da exposição de fotografias - inspiradas no poema "Um
Lance de Dados Jamais Abolirá o
Acaso" - do videoartista
Walter Silveira e do fotógrafo Fernando Lazlo, e performance do
ator xxx, que leu trechos de "Um
Lance de Dados" em plena praça
da República.
Outra matéria recente reuniu
grafiteiros para falar sobre sua arte
e a exposição, montada em agosto
na Pinacoteca do Ibirapuera, com
telas e desenhos do colega de técnica Jean-Michel Basquiat - artista
que traduziu a visualidade norte-americana da década de 80 e morreu aos 27 anos vítima de uma
overdose de heroína.
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