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Michael Palmer questiona linguagem
RÉGIS BONVICINO
especial para a Folha
"The Lion Bridge" estampa seleção, contendo 118 poemas, dos
quais sete volumes de Michael Palmer.
A escolha, feita pelo próprio poeta, oferece, pela primeira vez, visão
extensiva de seu trabalho, fundamental não só para a cena norte-americana atual -dividida, digamos, entre "conservadores" e "experimentais".
Os conservadores seriam um
John Hollander ou um Robert
Pinsky, que escrevem em versos livres, "afrouxados", com observações pessoais sobre experiências
particulares. É a dita poesia confessional.
Experimentais seriam os que retomam o legado de Gertrude Stein,
ou George Oppen, ou dos Beats e
circulam, por exemplo, nas imensas antologias como "Poemas para
o Milênio", de Jerome Rothemberg, ou "Antologia de Poesia Pós-Moderna", de Paul Hoover. Ou nos
caminhos da Language Poetry
(anos 80).
Há nessas compilações e nessas
trilhas, também, muito material de
terceira mão.
Michael Palmer, nascido em 1943
e largamente traduzido, por exemplo, para o francês, não se inscreve
em nenhuma dessas duas categorias.
˛
Experimentalismo
Nele, o dado biográfico se transforma em linguagem, se articulando com questões filosóficas e universais, em sua série de "autobiografias" ("Todos os relógios são
nuvens/ partes são maiores do que
o todo/ (...)/ A e não-A são o mesmo/ Meu cachorro não me conhece..."). O experimentalismo se dá
com o questionamento da linguagem.
Em seu caso, não um clichê, mas
um deslocamento, que pode ser
verificado na distância que ele cria
entre a nomeação do objeto e o suposto objeto - o que abre sua poesia para a questão da "dificuldade"
da escrita, para a questão da "fenda", para ficção, para a ironia, o
misterioso e, ao mesmo tempo,
real.
A cisão entre palavra e coisa nele
se associa à vitória da barbárie sobre a civilização, como no poema
"Far Away Near", a respeito da
Guerra do Golfo: "Como está dito
nos fragmentos/ Havia uma língua
com duas palavras...".
Nesse sentido, o crítico Nick Lawrence, percebendo a existência
de um método e de uma contundência na poesia de Michael, chega
a afirmar: "Ser poeta depois de Palmer é algo de bárbaro".
O distanciamento ocorre, também, como espécie de negação
paulatina (pois começou como
discípulo do Black Mountain College) da própria poesia norte-americana com a busca de modelos europeus e/ou latino-americanos (Paul Celan ou o peruano Cesar Vallejo), mais distantes e descentrados.
˛
Antologista
Michael já é um tanto conhecido
aqui no Brasil. Editou a primeira
antologia de poesia brasileira contemporânea nos EUA, nos últimos
25 anos.
O livro, "Nothing the Sun Could
Not Explain" (Sun & Moon Press,
1997, já em segunda edição), foi
uma iniciativa que estimulou de
pronto outras, entre elas a de Haroldo de Campos, que, sempre
desprendido e generoso, prepara,
com basicamente a mesma equipe
de "Nothing the Sun", uma antologia de toda a poesia brasileira, de
Gregório de Mattos a Augusto de
Campos, passando por Sousândrade e Kilkerry.
Há, igualmente, poemas de Michael no livro "Passagens" (Gráfica Ouro Preto, 1996).
Neste "The Lion Bridge", o leitor
vai encontrar textos escritos entre
1971 e 1995 -do primeiro volume,
intitulado "Blake's Newton"
(1972) a "At Passages" (1995), incluindo-se os do fundamental
"Sun", de 1987.
˛
Régis Bonvicino é poeta, autor de "Ossos de
Borboleta" (Ed. 34) e "Poemas /Robert Creeley"
(Ateliê Editorial).
˛
Livro: The Lion Bridge
Autor: Michael Palmer
Lançamento: New Directions
Quanto: US$ 18,95 (272 págs.)
Onde encomendar: www.amazon.com
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