São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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Almodóvar volta às origens em "Volver"

Cineasta espanhol filma em La Mancha, região onde nasceu e de onde saiu aos 16 anos, com a intenção de nunca voltar

Longa marca a volta de Carmen Maura à batuta do diretor e consolida Penélope Cruz como sua atriz-fetiche; título é aspirante ao Oscar


Divulgação
Penélope Cruz, que lida com a mãe e a filha numa situação- limite em "Volver"


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pedro Almodóvar tinha 16 anos de idade quando saiu da região de La Mancha, onde nasceu. "Eu queria fugir daquele lugar e não voltar nunca mais", declarou o espanhol, hoje uma grife do cinema, aos 57 anos.
Almodóvar descortinou as memórias de sua infância e juventude durante o Festival de Cannes, em maio passado, quando falava sobre "Volver" -o filme que o levou de volta a La Mancha; ao mundo (cinematográfico) das mulheres, após o parêntese masculino de "Má Educação"; e ao reencontro com a atriz Carmen Maura, depois do rompimento pós-sucesso de "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988).
"Na Espanha, nosso retorno é um assunto nacional", disse Maura ao diário francês "Le Monde". Em "Volver", ela é o personagem-fantasma da mãe que reaparece para as filhas Raimunda (Penélope Cruz) e Sole (Lola Dueñas).

Tragédia
Embora o retorno de Carmen Maura seja um acontecimento no universo almodovariano, "Volver" é um filme feito na medida para Penélope Cruz brilhar. Ela é a mulher simples que se vê às voltas com uma tragédia envolvendo a filha adolescente e o padrasto da garota.
Sexo, desejo e culpa, como é comum na filmografia do espanhol, são vistos por uma perspectiva distinta do habitual. Sinal de que Almodóvar voltou a La Mancha, mas para reafirmar o afastamento de um lugar "austero demais" para ele.
"As mulheres se vestiam de negro. Por isso eu amo a cor. Tudo girava em torno da religião. A sensualidade, o prazer da carne eram banidos", descreveu, à revista "Studio".
Na Espanha, "Volver" significou também a reconciliação de Almodóvar com público e crítica (ao mesmo tempo). Sucesso de bilheteria, é o candidato espanhol ao Oscar estrangeiro.
Em Cannes, Almodóvar viu a Palma de Ouro escapar pela segunda vez. Com "Tudo Sobre Minha Mãe", ele levou o título de melhor diretor. Desta vez, Cannes premiou-o pelo roteiro e deu às atrizes do filme um troféu conjunto de interpretação.

Alma do filme
"O prêmio das atrizes é o que significa mais para mim", disse Almodóvar. "Elas são a alma do filme. Sem se dar conta, escreveram a metade do roteiro, só com sua presença. Falo não como o diretor, mas como a mãe de cada uma dessas meninas", disse, brincando novamente com o tema da maternidade, que define a trama de "Volver".
Além das memórias familiares (há muitas frases no filme que saíram de diálogos de Almodóvar com sua mãe), "Volver" é também uma coletânea dos amores cinéfilos do diretor.
Penélope Cruz declarou que a aparência de Raimunda é inspirada na maquiagem de Sophia Loren em início de carreira, no penteado de Claudia Cardinale em "A Moça com a Valise" (Valerio Zurlini) e no figurino de Anna Magnani em "Belíssima" (Luchino Visconti). Ela usa enchimento para avolumar os quadris.
Durante meses, a atriz se preparou para a cena em que Raimunda canta a música-título do filme. "Era uma seqüência importante para Pedro. Ensaiei a maneira de mover as mãos, de me sentar, essas coisas que as cantoras de flamenco nascem sabendo. Filmei a cena olhando nos olhos de Pedro. Cantei para ele", disse. "Ela está no auge da forma", disse ele.


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