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"Eu me proponho mesmo a excitar", afirma Manara
Mestre dos quadrinhos eróticos europeus está no país para o Rio Comicon
Sobre a carga erótica de sua obra, o autor, 65, diz que o cérebro é o órgão mais importante para o sexo, não o corpo
DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
O quadrinista Milo Manara, 65, pinça com calma a palavra que pensa descrever a
reação do público diante do trabalho dele: "apreciação".
As risadas e o olhar travesso que seguem o comentário
explicitam que ele fala de "apreciar" no sentido sexual.
Mestre dos quadrinhos
eróticos europeus e conhecido pela sutileza com que fala
sobre sexo, Manara está se
referindo à masturbação.
O artista falou à Folha na
última segunda, no lobby do
hotel em que se hospedou
em São Paulo, a caminho do
Rio. Enquanto posava para a
foto perto da piscina, cumprimentou uma hóspede de
biquíni, de bruços, ao sol.
Manara é o convidado de
maior renome da Rio Comicon, feira de gibis iniciada
ontem e com previsão de encerramento para domingo.
O desenhista fará palestra no dia 13/11. Ele volta a São Paulo no dia 18/11, para a
abertura da exposição "Uma Vida Chamada Desejo".
"Eu me proponho mesmo a excitar as pessoas", afirma, sobre a tal "apreciação".
"Mas nem todos os meus leitores são garotos de 15 anos de idade, então, acredito que eu faça algo além disso."
A conotação erótica é de fato a superfície do trabalho de Manara.
Apesar de sutil, fala com liberdade sobre sexo. E não se
constrange quando lhe perguntam sobre o fato de ser sexagenário e ter uma obra baseada no erotismo.
"Os gibis são o reino da
fantasia. Desenhar cenas de
sexo não supõe que o autor
tenha um físico que permita
que ele realize, na prática, o que está narrando", diz.
Afinal, aponta, "no sexo, o órgão mais importante continua sendo... o cérebro".
PLASTICIDADE
O traço semelhante ao da
pintura é uma das características que atraem a atenção no trabalho de Manara.
O quadrinista conta que é, desde criança, apaixonado pelas artes plásticas.
Aos 14 anos, fugiu de casa
para ver uma exposição do
pintor metafísico Giorgio de
Chirico (1888-1978) em Roma. "Estava apaixonado não
pela ideia de ver a obra dele,
mas de encontrá-lo pessoalmente." Não o encontrou.
Anos depois, Manara fez teste de aptidão para a academia de pintura de Veneza.
Foi reprovado. Decidiu ser arquiteto, mas logo optou, por fim, pelos quadrinhos.
Apesar da recusa da universidade, Manara tornou-se
referência no mercado de gibis eróticos justamente pela qualidade do desenho.
"Um monte de outros artistas desenham mulheres
bonitas. Não quero ser presunçoso, mas creio que eu
desenho a expressão facial
das garotas de uma maneira que captura seus desejos."
O traço atual, caracterizado pelo uso do claro em detrimento do escuro, é fruto de
anos de treino. E tem data de nascimento: 1983.
Foi quando, ao lado do quadrinista italiano Hugo Pratt (1927-1995), ele lançou
o clássico gibi "Verão Índio".
"Ele era meu ídolo. E ficava me pedindo que eu "limpasse" meu traço." Convencido pelo mestre, passou a desenhar com poucas linhas e hachuras.
QUASE FRANCÊS
Além de Hugo Pratt, Manara cita entre suas influências os quadrinistas Jean-Claude Forest (1930-1998),
de "Barbarella", e Jean Giraud, de "Blueberry", vindos
do mercado francês.
Na Itália, a grande influência do quadrinista é o cineasta Federico Fellini (1920-1993). Foi precisamente a morte do amigo que impediu Manara de vir ao Rio em
1993, na Bienal Internacional dos Quadrinhos.
RIO COMICON
QUANDO até 14/11, das 13h às 22h
ONDE Estação da Leopoldina (av. Francisco Bicalho, s/ nº, tel.0/xx/ 21/2222-0044)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO livre
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