São Paulo, terça, 10 de novembro de 1998

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FESTIVAL DE WORLD MUSIC
Brasil é todo ouvidos para o mundo

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O Brasil é negrão. O Brasil é celta. O Brasil é flamenco. O Brasil vai virar o mundo a partir de quinta, quando subirão ao palco do Sesc Vila Mariana as primeiras atrações do Festival de Música Mundial, sem dúvida alguma o mais consistente evento de world music que este país já recebeu (veja ao lado a programação do festival).
Logo no primeiro dia, duas grandes atrações: o iraniano radicado nos EUA Jamshied Sharifi e o senegalês Baaba Maal.
Sharifi apresenta um show baseado no disco "A Prayer for the Soul of Layla", que combina sonoridades árabes, percussão africana e sintetizadores. Esses últimos, porém, nas mãos de Sharifi, tornam-se instrumentos acústicos, graças a uma técnica desenvolvida pelo instrumentista, que controla os timbres do teclado por meio da respiração. É o que vai mostrar nos shows e no workshop (leia abaixo).
Sozinho, Sharifi já seria um show, mas ele vem bem acompanhado pelo marroquino Hassan Hakmoun. É até estranho ver Hakmoun como acompanhante de alguém, já que se trata de uma estrela de primeira grandeza nos EUA e Europa. Hakmoun é um mestre de "gnawa" (candomblé marroquino), rito místico-musical que recebe influências negras, árabes e berberes.
O senegalês Baaba Maal, um emergente da música africana, apresenta-se na mesma noite. Maal tinha tudo para não ser músico, pois pertence a uma família de "griots" (cantores-contadores de história que propagam a tradição de seus povos por meio de canções). Também não cantava em "wolof" (língua dos "griots"), mas em "fulani".
Vá pronto para dançar, pois seu concerto deve ser um dos mais animados do evento. Além do ritmo africano, Maal sofre influências caribenhas e não se abstém de sonoridades ocidentais. Não é difícil sentir uma levada funk aqui e ali.
A atração do fim-de-semana é o grupo siciliano Agricantus, cujo destaque é a voz cristalina de Rosie Wiederker e, como reza a tradição da ilha italiana, as mais variadas influências que recebeu, que vão de cantos dos tuaregues do deserto de Mali a ritmos contemporâneos, como trance e ambient music.
No fim-de-semana seguinte, o público terá oportunidade de conhecer um grupo escocês que prova que a música celta é muito mais rica do que a que apresenta a sonolenta Enya.
Formado por Karen Matheson (vocais), Donald Shaw (acordeão e teclados) e Marc Duff (flauta doce, percussão e sintetizadores), o grupo se apresenta em inglês e gaélico (a língua celta).
Os outros destaques internacionais são o espanhol Gerardo Nuñez, um renovador do flamenco, e o grupo Baka Beyond, que se apropria dos cantos dos pigmeus.
Outro fator importante para o sucesso certeiro do evento é o preço dos ingressos: R$ 10 e R$ 5.



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