São Paulo, quarta, 10 de dezembro de 1997.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TROPICÁLIA
Livro revela histórias e imagens inéditas

da Reportagem Local

Ao mergulhar em bibliotecas e jornais semidecompostos, Carlos Calado se deparou, durante a confecção de "Tropicália - A História de uma Revolução Musical, com lances que ele julga que até então permaneciam inéditos.
O mais evidente é o material fotográfico reunido no livro. São mais de 100 imagens, grande parte delas obtida em arquivos pessoais.
"Talvez a melhor imagem seja a de Maria Bethânia de minissaia e guitarra elétrica no ensaio do programa de TV 'Frente Única', que provocou uma briga entre Caetano e Geraldo Vandré e acabou não sendo gravado", diz Calado.
"Mostra muito bem como ela estava ligada àquilo, mesmo não participando ativamente do movimento. É uma imagem essencial."
Entre o material iconográfico, Calado conta duas outras descobertas. Primeiro, há os programas originais, com ficha técnica e todas as músicas, dos shows "Nós, por Exemplo" (em que Caetano, Bethânia e Gal Costa estrearam suas carreiras, em 1964, ao lado de Gil e Tom Zé, entre outros).
Depois, há a reprodução do texto "A cruzada tropicalista", escrito por Nelson Motta em sua coluna "Roda Viva", publicada no jornal carioca "Última Hora". "Foi o texto que lançou a tropicália, e nunca havia sido levado a livro antes. Nem Nelson Motta sabia quando escreveu. Tive que folhear um ano e meio de jornal para achá-lo", diz Calado.
Entre as histórias inéditas, Calado enumera a tortura sofrida por Sandra, mulher de Gil na época, quando veio ao Brasil, com o filho Pedro ainda pequeno, no meio do período de exílio. "Ela nunca havia contado que foi torturada."
Houve ainda o encontro de material inédito. Calado descobriu, por exemplo, que o maestro Júlio Medaglia possui em cassete a gravação do show televisivo com João Gilberto e Gal Costa, que fez Caetano interromper o exílio, em 71.
"Nisso não me meto mais", diz Calado. "Escrevendo a biografia dos Mutantes, encontrei um disco inédito, maravilhoso, que até hoje ninguém se interessou em lançar. Perdi o pique."
Calado também eleva aos detalhes a história da morte de Vicente Celestino, ídolo da velha guarda que havia sido "homenageado" pelos tropicalistas na regravação de "Coração Materno" (história de um homem que arranca o coração da mãe para provar seu amor por uma mulher) por Caetano, no disco-manifesto "Tropicália ou Panis et Circencis" (68).
Convidado a participar de um especial tropicalista de TV com outras estrelas da "antiga", como Dalva de Oliveira e Aracy de Almeida, Celestino assistira aos ensaios -chegando a ralhar com Gil por causa de uma paródia à Santa Ceia. Quando o show estava por começar, chegou a notícia de que ele havia morrido de infarto, num quarto de hotel.
"Verdade Tropical"
É na riqueza de detalhes que Calado aposta para fazer frente a um concorrente inesperado -"Verdade Tropical", o livro de memórias tropicalistas recém-lançado por Caetano Veloso.
"Não consegui ainda ler o livro dele inteiro, mas acredito que tem uma preocupação mais ensaística, menos biográfica. Comecei a escrever o meu antes, é um capricho do destino que eles estejam saindo quase juntos", afirma.
Apesar de ter privilegiado como fontes os protagonistas do tropicalismo, afirma que não teve o propósito de construir uma "biografia oficial". "Não tive a intenção de contar a história por seus protagonistas, mas houve um momento em que tive que fechar a tampa." (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.