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TROPICÁLIA
Livro revela histórias e imagens inéditas
da Reportagem Local
Ao mergulhar em bibliotecas e
jornais semidecompostos, Carlos
Calado se deparou, durante a confecção de "Tropicália - A História
de uma Revolução Musical, com
lances que ele julga que até então
permaneciam inéditos.
O mais evidente é o material fotográfico reunido no livro. São
mais de 100 imagens, grande parte
delas obtida em arquivos pessoais.
"Talvez a melhor imagem seja a
de Maria Bethânia de minissaia e
guitarra elétrica no ensaio do programa de TV 'Frente Única', que
provocou uma briga entre Caetano e Geraldo Vandré e acabou não
sendo gravado", diz Calado.
"Mostra muito bem como ela
estava ligada àquilo, mesmo não
participando ativamente do movimento. É uma imagem essencial."
Entre o material iconográfico,
Calado conta duas outras descobertas. Primeiro, há os programas
originais, com ficha técnica e todas
as músicas, dos shows "Nós, por
Exemplo" (em que Caetano, Bethânia e Gal Costa estrearam suas
carreiras, em 1964, ao lado de Gil e
Tom Zé, entre outros).
Depois, há a reprodução do texto
"A cruzada tropicalista", escrito
por Nelson Motta em sua coluna
"Roda Viva", publicada no jornal
carioca "Última Hora". "Foi o
texto que lançou a tropicália, e
nunca havia sido levado a livro antes. Nem Nelson Motta sabia
quando escreveu. Tive que folhear
um ano e meio de jornal para
achá-lo", diz Calado.
Entre as histórias inéditas, Calado enumera a tortura sofrida por
Sandra, mulher de Gil na época,
quando veio ao Brasil, com o filho
Pedro ainda pequeno, no meio do
período de exílio. "Ela nunca havia contado que foi torturada."
Houve ainda o encontro de material inédito. Calado descobriu,
por exemplo, que o maestro Júlio
Medaglia possui em cassete a gravação do show televisivo com João
Gilberto e Gal Costa, que fez Caetano interromper o exílio, em 71.
"Nisso não me meto mais", diz
Calado. "Escrevendo a biografia
dos Mutantes, encontrei um disco
inédito, maravilhoso, que até hoje
ninguém se interessou em lançar.
Perdi o pique."
Calado também eleva aos detalhes a história da morte de Vicente
Celestino, ídolo da velha guarda
que havia sido "homenageado"
pelos tropicalistas na regravação
de "Coração Materno" (história
de um homem que arranca o coração da mãe para provar seu amor
por uma mulher) por Caetano, no
disco-manifesto "Tropicália ou
Panis et Circencis" (68).
Convidado a participar de um
especial tropicalista de TV com
outras estrelas da "antiga", como
Dalva de Oliveira e Aracy de Almeida, Celestino assistira aos ensaios -chegando a ralhar com Gil
por causa de uma paródia à Santa
Ceia. Quando o show estava por
começar, chegou a notícia de que
ele havia morrido de infarto, num
quarto de hotel.
"Verdade Tropical"
É na riqueza de detalhes que Calado aposta para fazer frente a um
concorrente inesperado -"Verdade Tropical", o livro de memórias tropicalistas recém-lançado
por Caetano Veloso.
"Não consegui ainda ler o livro
dele inteiro, mas acredito que tem
uma preocupação mais ensaística,
menos biográfica. Comecei a escrever o meu antes, é um capricho
do destino que eles estejam saindo
quase juntos", afirma.
Apesar de ter privilegiado como
fontes os protagonistas do tropicalismo, afirma que não teve o propósito de construir uma "biografia oficial". "Não tive a intenção
de contar a história por seus protagonistas, mas houve um momento
em que tive que fechar a tampa."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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