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"CURTA ÀS SEIS"
Olhares para o idoso
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Há sociedades que reverenciam
os idosos, portadores da sabedoria e da memória. Não é o caso da
nossa, que hipervaloriza a juventude e estimula uma resistência
desesperada ao envelhecimento.
Mas o estigma da velhice -relegada ao isolamento, à inutilidade,
ao abandono da sensualidade-
está em xeque. É o que expressa a
16ª edição do projeto "Curta às
Seis", que estréia hoje.
Até o dia 23, sempre às 18h, você
pode assistir gratuitamente, na
sala 4 do Espaço Unibanco, a uma
coletânea que reúne quatro curtas
de ficção que lidam com idosos.
Os filmes dessa seleção "Curta o
Idoso" são bem realizados e, de
alguma forma, chamam a atenção
para o abandono.
Uns ficam na denúncia, outros
vão além, e rompem a atmosfera
de tristeza e solidão que usualmente cerca os velhos. A novidade no tratamento da velhice vai
num crescendo de filme para filme, para explodir no recém-concluído "A Idade do Coração", que
encerra o programa.
"Litania da Velha" é uma homenagem à cidade de São Luiz do
Maranhão, comparada aqui com
uma velha, pobre, desamparada,
negra e solitária.
Baseado em poema de Arlete
Nogueira da Cruz, o filme de Frederico Cruz é narrado em "off" e
ilustrado pela trajetória de uma
velha pela arquitetura colonial de
uma bela cidade brasileira. O resultado é amargo.
"Ruídos de Passos", de Denise
Gonçalves, é baseado em um conto de Clarice Lispector. A idéia
convencional da vida de uma viúva de 81 anos é rompida pela revelação da persistência de seu desejo sexual. O corpo nu da elegante
senhora transmite sensualidade.
"Bolo" de José Roberto Torero
não é uma comédia como outros
filmes do diretor. O trabalho
compartilha o clima asfixiante
que prevalece nos dois trabalhos
que o precedem no programa.
Trata-se de um casal. A mulher
cuida do marido doente e aposentado. Eles não se largam, mas se
agridem o tempo todo. Celebram
seu 50º aniversário de casamento.
Afinal, o linguajar ferino, que invariavelmente marca seu cotidiano, ganha um mínimo de poesia
no cuidado de um com o outro.
Finalmente "A Idade do Coração", de Tamy Marrachine, como
o título sugere, rompe com a
amargura que caracteriza o retrato dos idosos. A idade é a do espírito. A viúva bisavó se diverte tocando seu piano, bem-humorada,
vaidosa e bem-cuidada. É querida
pela neta, mantém amigas e não
abandona a possibilidade de interferir no mundo.
Não vale a pena revelar detalhes
da história, que é hilariante e conta com Eva Todor e Lucélia Santos. O filme tem ainda uma participação especial, a última em cinema, da atriz Consuelo Leandro,
morta em julho deste ano.
"Curta o Idoso" estimula a repensar o lugar da velhice na sociedade contemporânea. Vale o programa de fim de tarde.
Avaliação:
Ciclo: Curta às Seis - Curta o Idoso
Filmes: Litania da Velha
(Maranhão,1997, 17 min); Ruídos de
Passos (São Paulo, 1995, 11 min); Bolo
(Rio Grande do Sul, 1995, 14 min); A
Idade do Coração (São Paulo, 1999, 17
min)
Quando: de hoje a 23/12, às 18h, no
Espaço Unibanco 4
Quanto: entrada franca
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