São Paulo, Sexta-feira, 10 de Dezembro de 1999


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"CURTA ÀS SEIS"
Olhares para o idoso

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha


Há sociedades que reverenciam os idosos, portadores da sabedoria e da memória. Não é o caso da nossa, que hipervaloriza a juventude e estimula uma resistência desesperada ao envelhecimento. Mas o estigma da velhice -relegada ao isolamento, à inutilidade, ao abandono da sensualidade- está em xeque. É o que expressa a 16ª edição do projeto "Curta às Seis", que estréia hoje.
Até o dia 23, sempre às 18h, você pode assistir gratuitamente, na sala 4 do Espaço Unibanco, a uma coletânea que reúne quatro curtas de ficção que lidam com idosos. Os filmes dessa seleção "Curta o Idoso" são bem realizados e, de alguma forma, chamam a atenção para o abandono.
Uns ficam na denúncia, outros vão além, e rompem a atmosfera de tristeza e solidão que usualmente cerca os velhos. A novidade no tratamento da velhice vai num crescendo de filme para filme, para explodir no recém-concluído "A Idade do Coração", que encerra o programa.
"Litania da Velha" é uma homenagem à cidade de São Luiz do Maranhão, comparada aqui com uma velha, pobre, desamparada, negra e solitária.
Baseado em poema de Arlete Nogueira da Cruz, o filme de Frederico Cruz é narrado em "off" e ilustrado pela trajetória de uma velha pela arquitetura colonial de uma bela cidade brasileira. O resultado é amargo.
"Ruídos de Passos", de Denise Gonçalves, é baseado em um conto de Clarice Lispector. A idéia convencional da vida de uma viúva de 81 anos é rompida pela revelação da persistência de seu desejo sexual. O corpo nu da elegante senhora transmite sensualidade.
"Bolo" de José Roberto Torero não é uma comédia como outros filmes do diretor. O trabalho compartilha o clima asfixiante que prevalece nos dois trabalhos que o precedem no programa.
Trata-se de um casal. A mulher cuida do marido doente e aposentado. Eles não se largam, mas se agridem o tempo todo. Celebram seu 50º aniversário de casamento. Afinal, o linguajar ferino, que invariavelmente marca seu cotidiano, ganha um mínimo de poesia no cuidado de um com o outro.
Finalmente "A Idade do Coração", de Tamy Marrachine, como o título sugere, rompe com a amargura que caracteriza o retrato dos idosos. A idade é a do espírito. A viúva bisavó se diverte tocando seu piano, bem-humorada, vaidosa e bem-cuidada. É querida pela neta, mantém amigas e não abandona a possibilidade de interferir no mundo.
Não vale a pena revelar detalhes da história, que é hilariante e conta com Eva Todor e Lucélia Santos. O filme tem ainda uma participação especial, a última em cinema, da atriz Consuelo Leandro, morta em julho deste ano.
"Curta o Idoso" estimula a repensar o lugar da velhice na sociedade contemporânea. Vale o programa de fim de tarde.


Avaliação:    

Ciclo: Curta às Seis - Curta o Idoso Filmes: Litania da Velha (Maranhão,1997, 17 min); Ruídos de Passos (São Paulo, 1995, 11 min); Bolo (Rio Grande do Sul, 1995, 14 min); A Idade do Coração (São Paulo, 1999, 17 min) Quando: de hoje a 23/12, às 18h, no Espaço Unibanco 4 Quanto: entrada franca


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