São Paulo, Sexta-feira, 10 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Filho bastardo de "O Exorcista"

STEPHEN HOLDEN
do "The New York Times"

O lançamento de "Stigmata" dá a impressão de ter sido programado para coincidir com o dia do juízo final, o bug do milênio ou qualquer outro cataclismo. É uma mistureba confusa de efeitos especiais e simbolismo religioso exagerado que, a princípio, parece tratar da volta de Jesus, mas não passa de ladainha anticlerical envolvendo política do Vaticano.
Embora o trailer do filme apresente "Stigmata" como uma espécie de "filho" de "O Exorcista", os vislumbres do inferno que oferece nada têm da contundência e criatividade de seu antecessor, esse, sim, profundamente assustador.
Em lugar de cabeças que giram e vozes de possuídos vociferando obscenidades, vidro quebrado, penas de pássaros, sangue pingando por toda parte e tomadas exageradamente "inventivas".
O cerne dessa confusão sobrenatural é Frankie Paige (Patricia Arquette), funcionária tolinha de um salão de beleza em Pittsburgh. Seus problemas têm início quando chega um pacote do Brasil, com um terço comprado por mamãe de um camelô carioca.
Ora, nem Frankie nem mamãe sabem que o terço foi tirado do cadáver de um padre santo de uma cidadezinha do interior brasileiro, onde a imagem da Virgem anda chorando lágrimas de sangue, ao lado do caixão do padre.
Tudo acontece da seguinte maneira: Frankie está tomando banho e resolve olhar o que há no pacote. Quando pega o terço, as velas em volta da banheira começam a bruxulear e uma pomba desorientada surge do nada. Instantes depois, a situação degringola para o caos total.
Entre gritos frenéticos, movimentos ainda mais frenéticos da câmera e exposições múltiplas, vemos pregos sendo enfiados nos pulsos da mocinha e a água da banheira ficando vermelha. Frankie vai para o hospital; primeiro é diagnosticada como suicida e, pouco depois, como epiléptica.
A história de Frankie chega ao Vaticano, de onde o padre Kiernan (Gabriel Byrne), investigador especial de fenômenos desse tipo, é imediatamente despachado para Pittsburgh para analisar o caso.
Numa coincidência para lá de inverossímil, Kiernan acaba de retornar da tal igreja brasileira com Virgem que chora. Mas seu superior, o mal-humorado cardeal Houseman (Jonathan Pryce), não leva a sério seu relato.
O filme traça uma conexão nada evidente entre esses acontecimentos e a descoberta e supressão de um novo texto bíblico escrito em aramaico -possivelmente nas palavras do próprio Jesus Cristo. Como o texto inclui afirmações que podem enfraquecer a Igreja Católica, o cardeal, leal ao Vaticano, faz de tudo para impedir que sejam publicadas.
"Stigmata", dirigido por Rupert Wainwright, pode ser resumido como uma série de erupções frenéticas em estilo de videoclipe, desajeitadamente costuradas com as cenas lentas e pesadas das investigações do padre Kiernan. É claro que surge uma atração entre o padre investigador e Frankie, que não é religiosa. Quando está totalmente possuída pelo demônio, a moça vira uma sedutora perigosa com voz de barítono.
Patricia Arquette, atriz tão expressivamente inerte que faz Daryl Hannah e Melanie Griffith parecerem shakespeareanas, representa Frankie como uma figura sexy, mas que não diz nada. Mesmo quando está em plena possessão demoníaca, Arquette não precisa representar. A câmera entra em espasmos em seu lugar e assume o controle da cena.


Tradução Clara Allain


Filme: Stigmata (Stigmata) Diretor: Rupert Wainwright Produção: EUA, 1999 Com: Patricia Arquette, Gabriel Byrne Quando: a partir de hoje, nos cines Center Iguatemi 2, Butantã 3 e circuito

Texto Anterior: Cinema - Estréias: "Stigmata" é um fenômeno real, diz atriz
Próximo Texto: Teatro: "Réveillon" de Flávio Márcio ganha leitura
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.