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CRÍTICA
Filho bastardo de "O Exorcista"
STEPHEN HOLDEN
do "The New York Times"
O lançamento de "Stigmata" dá
a impressão de ter sido programado para coincidir com o dia do
juízo final, o bug do milênio ou
qualquer outro cataclismo. É uma
mistureba confusa de efeitos especiais e simbolismo religioso
exagerado que, a princípio, parece tratar da volta de Jesus, mas
não passa de ladainha anticlerical
envolvendo política do Vaticano.
Embora o trailer do filme apresente "Stigmata" como uma espécie de "filho" de "O Exorcista", os
vislumbres do inferno que oferece
nada têm da contundência e criatividade de seu antecessor, esse,
sim, profundamente assustador.
Em lugar de cabeças que giram
e vozes de possuídos vociferando
obscenidades, vidro quebrado,
penas de pássaros, sangue pingando por toda parte e tomadas
exageradamente "inventivas".
O cerne dessa confusão sobrenatural é Frankie Paige (Patricia
Arquette), funcionária tolinha de
um salão de beleza em Pittsburgh.
Seus problemas têm início quando chega um pacote do Brasil,
com um terço comprado por mamãe de um camelô carioca.
Ora, nem Frankie nem mamãe
sabem que o terço foi tirado do
cadáver de um padre santo de
uma cidadezinha do interior brasileiro, onde a imagem da Virgem
anda chorando lágrimas de sangue, ao lado do caixão do padre.
Tudo acontece da seguinte maneira: Frankie está tomando banho e resolve olhar o que há no
pacote. Quando pega o terço, as
velas em volta da banheira começam a bruxulear e uma pomba
desorientada surge do nada. Instantes depois, a situação degringola para o caos total.
Entre gritos frenéticos, movimentos ainda mais frenéticos da
câmera e exposições múltiplas,
vemos pregos sendo enfiados nos
pulsos da mocinha e a água da banheira ficando vermelha. Frankie
vai para o hospital; primeiro é
diagnosticada como suicida e,
pouco depois, como epiléptica.
A história de Frankie chega ao
Vaticano, de onde o padre Kiernan (Gabriel Byrne), investigador
especial de fenômenos desse tipo,
é imediatamente despachado para Pittsburgh para analisar o caso.
Numa coincidência para lá de
inverossímil, Kiernan acaba de
retornar da tal igreja brasileira
com Virgem que chora. Mas seu
superior, o mal-humorado cardeal Houseman (Jonathan Pryce),
não leva a sério seu relato.
O filme traça uma conexão nada
evidente entre esses acontecimentos e a descoberta e supressão
de um novo texto bíblico escrito
em aramaico -possivelmente
nas palavras do próprio Jesus
Cristo. Como o texto inclui afirmações que podem enfraquecer a
Igreja Católica, o cardeal, leal ao
Vaticano, faz de tudo para impedir que sejam publicadas.
"Stigmata", dirigido por Rupert
Wainwright, pode ser resumido
como uma série de erupções frenéticas em estilo de videoclipe,
desajeitadamente costuradas
com as cenas lentas e pesadas das
investigações do padre Kiernan. É
claro que surge uma atração entre
o padre investigador e Frankie,
que não é religiosa. Quando está
totalmente possuída pelo demônio, a moça vira uma sedutora perigosa com voz de barítono.
Patricia Arquette, atriz tão expressivamente inerte que faz
Daryl Hannah e Melanie Griffith
parecerem shakespeareanas, representa Frankie como uma figura sexy, mas que não diz nada.
Mesmo quando está em plena
possessão demoníaca, Arquette
não precisa representar. A câmera entra em espasmos em seu lugar e assume o controle da cena.
Tradução Clara Allain
Filme: Stigmata (Stigmata)
Diretor: Rupert Wainwright
Produção: EUA, 1999
Com: Patricia Arquette, Gabriel Byrne
Quando: a partir de hoje, nos cines
Center Iguatemi 2, Butantã 3 e circuito
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