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LITERATURA
Escritor alemão, autor do clássico "O Tambor", recebe hoje Prêmio Nobel
Gunter Grass vai à Suécia buscar o Nobel
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
Quando o alemão Günter Grass
receber hoje dos reis da Suécia o
seu Nobel de Literatura, estará
confirmando uma tendência: a
volta do prêmio às suas raízes
"idealistas", com um não assumido toque de esquerdismo.
Há dois indícios claros disso.
Primeiro, Grass tem suas origens
no socialismo e mantém viva a
verve de polemista criticando os
rumos neoliberais da Alemanha
pós-reunificação; segundo, porque sucede a um socialista convicto, o português José Saramago.
Em seus primórdios, os acadêmicos do Nobel de Literatura,
embora sempre garantissem não
haver critérios políticos em sua
escolha, tinham como premissa
indicar um escritor não somente
pelos seus méritos literários, como também pelo "idealismo".
Não foi por acaso que Carl David af Wirsén, o primeiro-secretário da Academia entre 1900 e 1912,
recebeu a alcunha de "o Dom
Quixote do idealismo romântico
sueco". Fato que torna ainda mais
curiosa a nomeação de Grass.
Em seu discurso à Academia, na
terça-feira, Grass citou o personagem de Miguel de Cervantes, falando da influência árabe-mourisca em sua literatura. "Nela, a luta contra os moinhos-de-vento
seguiu um modelo transmissível
através dos séculos", disse.
Também Albert Camus, o Nobel de 57, parecia ter certa inclinação quixotesca: diz-se que levava
frequentemente o livro de Cervantes debaixo do braço, inclusive quando veio ao Brasil, em 49.
Quando esse idealismo foi convertido em "humanismo", na década de 30, a nomeação para o
Nobel de Literatura passou a ser
dividida entre a boa escrita, as
"boas ações" políticas, não necessariamente de esquerda, e a "descoberta" de desconhecidos, como
o búlgaro Elias Canetti (81).
Ataques ao totalitarismo por
meio do Nobel de Literatura sempre houve. Depois da fracassada
tentativa de nomear Boris Pasternak em 58, o dissidente soviético
Alexander Solzhenitsyn acabou
levando o Nobel, em 70.
Solzhenitsyn estava proibido de
deixar o país e o discurso do secretário da Academia naquele
ano fez uma irônica referência à
importância dos passaportes na
formação do indivíduo.
Após a polêmica nomeação do
primeiro-ministro inglês Winston Churchill em 53 por seus méritos "como orador e historiador"
houve outra mudança nos critérios: escritores que tivessem cargos políticos estavam excluídos.
A inclinação mais esquerdista
do que literária do Nobel deixou
de fora nomes como Jorge Luis
Borges e Ezra Pound, banido porque teria aderido ao Holocausto.
Hoje, excepcionalemente, não é publicada a
coluna "Netvox"
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