São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Antunes Filho representa marco na TV


Se os desafios eram muitos, variadas eram as soluções do diretor inteligente e inquieto

SE A TELEVISÃO hoje em dia impõe uma série de padrões ao chamado teatrão, já houve épocas em que a produção televisiva se voltava para o teatro em busca de técnicas narrativas, de prestígio cultural e, claro, de trabalho de qualidade com atores. Isso foi lá nos primórdios, quando a TV ainda não tinha linguagem própria e emprestava elementos aqui e ali do rádio, do cinema e do teatro.
Nos anos 70, época em que a TV já ensaiava seus passos em direção a uma dramaturgia própria, os teleteatros subsistiram como um espaço de experimentação e de exibição de textos menos convencionais do que aqueles que alimentavam as novelas.
Era o caso dos excelentes "Casos Especiais", que eram exibidos pela Rede Globo, e da série de teleteatros dirigidos por diretores paulistanos então emergentes, como Antunes Filho, Antônio Abujamra e Ademar Guerra da TV Cultura.
Os 16 episódios dirigidos por Antunes Filho vêm sendo reexibidos pela Cultura num formato bem inteligente -os episódios são acompanhados de debates e comentários de críticos e especialistas ligados a teatro. A experiência de Antunes na TV, embora curta, representa um marco na dramaturgia televisiva.
Se os desafios enfrentados pelo diretor eram inúmeros -como fazer teatro no espaço claustrofóbico da TV? Como fazer TV sem parecer simplesmente teatro filmado?-, também são variadas as soluções encontradas pela inteligência e inquietude de Antunes para enfrentá-los.
Assim, cada episódio aponta experiências com a adaptação do texto, os cenários, a direção de atores etc. etc. que deveriam estar sendo cuidadosamente estudadas por quem faz TV hoje em dia.
E, ainda, embora os episódios até agora tenham um enraizamento forte na tradição teatral, seja por conta da adaptação de autores canônicos com Eugene O'Neil, seja na maneira de atuar, seja no confinamento característico da trama, Antunes se vale muito do cinema para fazer essa transposição de linguagens.
Na verdade, todos os episódios exibidos até agora -foram seis-, são notáveis pelo diálogo entre linguagens que estabelecem.
Além disso, é uma ótima oportunidade de ver atores e atrizes de aparições bissextas na TV, como Rodrigo Santiago, ou antes passarem pela máquina de moer carne das telenovelas, como um Antônio Fagundes jovem e magro ou um Raul Cortez mais radical, mais áspero.

biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Piada com Silvio Santos sobe ibope da Rede TV!
Próximo Texto: Crítica: "Terra dos Mortos" evoca "Metrópolis"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.