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BIA ABRAMO
Antunes Filho representa marco na TV
Se os desafios eram
muitos, variadas eram
as soluções do diretor
inteligente e inquieto
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SE A TELEVISÃO hoje em dia impõe uma série de padrões ao
chamado teatrão, já houve épocas em que a produção televisiva se
voltava para o teatro em busca de
técnicas narrativas, de prestígio cultural e, claro, de trabalho de qualidade com atores. Isso foi lá nos primórdios, quando a TV ainda não tinha
linguagem própria e emprestava elementos aqui e ali do rádio, do cinema
e do teatro.
Nos anos 70, época em que a TV já
ensaiava seus passos em direção a
uma dramaturgia própria, os teleteatros subsistiram como um espaço
de experimentação e de exibição de
textos menos convencionais do que
aqueles que alimentavam as novelas.
Era o caso dos excelentes "Casos Especiais", que eram exibidos pela Rede Globo, e da série de teleteatros dirigidos por diretores paulistanos então emergentes, como Antunes Filho, Antônio Abujamra e Ademar
Guerra da TV Cultura.
Os 16 episódios dirigidos por Antunes Filho vêm sendo reexibidos
pela Cultura num formato bem inteligente -os episódios são acompanhados de debates e comentários de
críticos e especialistas ligados a teatro. A experiência de Antunes na TV,
embora curta, representa um marco
na dramaturgia televisiva.
Se os desafios enfrentados pelo diretor eram inúmeros -como fazer
teatro no espaço claustrofóbico da
TV? Como fazer TV sem parecer
simplesmente teatro filmado?-,
também são variadas as soluções encontradas pela inteligência e inquietude de Antunes para enfrentá-los.
Assim, cada episódio aponta experiências com a adaptação do texto, os
cenários, a direção de atores etc. etc.
que deveriam estar sendo cuidadosamente estudadas por quem faz TV
hoje em dia.
E, ainda, embora os episódios até
agora tenham um enraizamento forte na tradição teatral, seja por conta
da adaptação de autores canônicos
com Eugene O'Neil, seja na maneira
de atuar, seja no confinamento característico da trama, Antunes se vale muito do cinema para fazer essa
transposição de linguagens.
Na verdade, todos os episódios
exibidos até agora -foram seis-,
são notáveis pelo diálogo entre linguagens que estabelecem.
Além disso, é uma ótima oportunidade de ver atores e atrizes de aparições bissextas na TV, como Rodrigo
Santiago, ou antes passarem pela
máquina de moer carne das telenovelas, como um Antônio Fagundes
jovem e magro ou um Raul Cortez
mais radical, mais áspero.
biabramo.tv@uol.com.br
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