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DISCO - CRÍTICA
Melancolia domina novo Roberto Carlos
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A não ser por razões de inércia,
"Roberto Carlos" (o 42º disco do
mesmo) chega como o menos esperado do ano. Todo aquele iê-iê-iê que há milênios se repete anualmente já virou "antimarketing".
Na canção de abertura, Roberto
radicaliza -"Meu Menino Jesus",
desbundada, é um tema natalino.
O "Rei", pensa-se aí, já não produz
em prol de arte ou de música , mas
em prol do Natal mesmo.
O folclore que isso implica assassina qualquer possível ansiedade
em torno de um novo "Roberto
Carlos", tanto quanto torna cada
vez menos plausível a insistência
de sua gravadora em postá-lo na
fabular cifra de 1 milhão de cópias
vendidas por disco -e no Brasil,
desgraçadamente, números como
esse não são comprováveis, seja
como falsos ou verdadeiros, já que
o maior interessado (a gravadora)
é seu detentor exclusivo.
Detalhes não tão pequenos deste
"RC" dão a pista de que os números andam precisando de incremento. Na mesma proporção em
que canta cada vez melhor, ele se
torna mercadologicamente mais
apelativo a cada dia. Isso vai à estratosfera no pagode "Vê se Volta
pra Mim", uma redenção humilhante do "Rei" a um dos gêneros
mais vulgares da música de massa
dos 90, o tal "sambanejo".
O artista não precisava disso, é o
que bate no coração. Bate mais
ainda quando se percebe que a
parcela "ao vivo" do CD (60% do
todo) -ou seja, de produção rápida e fácil comercialização, por só
englobar sucessos-chavão- é o
que há nele de mais quente.
Aí há singelezas cantadas de forma melancólica e agora distanciada daqueles velhos cacoetes que
Roberto havia muito ostentava em
shows. "Debaixo dos Caracóis dos
Seus Cabelos" (71) e "Nossa Canção" (66) já eram memoráveis,
continuam sendo aqui.
O mesmo ocorre na instrumental
"O Diamante Cor-de-Rosa" (69)
-nem sequer creditada no CD-,
que dá cama para um belo texto
saudosista declamado por ele.
Até entre as (quatro) inéditas há
sombras de criatividade. "O Baile
da Fazenda", um forró, poderia ser
tão apelativo quanto o resto, não
fossem brutais doçura e tristeza
com que é cantado e a nobre participação do sanfoneiro Dominguinhos -aqui o teimoso Roberto
muda de prumo e lembra que existe, sim, uma coisa chamada MPB.
Mas, como todo ano ele faz tudo
igual, possíveis lampejos ficam diluídos -especialmente nos arranjos aquém do qualificável, de autoria de Eduardo Lages.
Também auxilia a diluição a edição às pressas, que deixa passar no
encarte atrocidades do tipo "está é
a nossa canção" ou, na lista de
agradecimentos, "à Deus" e "à Jesus". Oh, céus, Deus e Jesus não levam crase! Fica difícil crer num CD
de um artista-standard dessa envergadura se até o revisor do encarte -ou seja, a gravadora- ficou com preguiça.
Ele está triste, sua mulher está
doente, talvez não tivesse mesmo
vontade de fazer esse disco. Não
seria então o caso de não fazê-lo,
guardar-se neste Natal e voltar
mais forte daqui a um tempo?
Bem, Roberto é um senhor teimoso, todo mundo já sabe. Não
merece menos respeito por isso, se
ao menos não deixou, ainda, de
aprimorar seu canto -e, sinal de
que nem tudo está perdido, até abdicou dos tons azuis de sempre e
fez uma capa verde. Quem sabe?...
Disco: Roberto Carlos
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média
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