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DAQUI A 40 ANOS
Leia o que oferece a Ilustrada de 2038
BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha
Abre hoje, às 18h, a exposição
"Quebrando o Código Perdido da
Literatura" (Breaking the Literary
Code), na seção arqueológica do
Museu do Ipiranga. Segundo a curadora, Kidman Mousinho, 40, a
exposição tem como objetivo
(goal) dar uma idéia do que foi o
gênero literário, "uma forma sem
função, elitista, machista, racista e
petulante", diz Kidman, que desapareceu por seleção natural na virada do século com a ajuda do
marketing, da linguagem oral-visual (oral-visual language) e o advento da célebre escola da "verdadeira expressão" (veritable expression). Os autores dessa escola, relatando com coragem suas experiências de vida positivas e humanas ("Meus Dias com as Drogas e
Depois", "Como Venci o Câncer
pelo Amor Cibernético", "A Aventura de um Gaúcho na Amazônia"
já são hoje marcos históricos), foram substituindo pouco a pouco
os obsoletos devaneios literários.
A exposição permite ao visitante
iletrado (mesmo aquele que só lê
inglês) decifrar sem maiores esforços parágrafos (inteiros! -até hoje a experiência havia sido realizada só com frases isoladas) de textos
antigos e intricados (em português) por meio de um método de
tradução em imagens desenvolvido especialmente para a ocasião.
Será lançado hoje, a partir das
20h, na agência cultural do Banco
Digiwebweb, o livro "A Volta ao
Mundo a Nado" (em linguagem
oral-visual, com pequena tiragem
especial e numerada em português
arcaico, para colecionadores), em
que o apresentador de TV Bal Cunha lança mão, outra vez, de meios
anacrônicos de locomoção e se
despe das tecnologias para narrar
sua experiência mística. Depois
dos best sellers "A Subida do Morro Santo, Eu Vi", homenagem à
melhor tradição das antigas letras
brasileiras, e "A Revelação pelo
Gelo", sobre a célebre expedição
Goldenmastermaster (financiada
pelo cartão de crédito), em que o
apresentador relata com sua verve
habitual a conquista do último desafio da natureza pelo homem (a
travessia da Antártida sozinho, de
tênis e com rádio amador), Cunha
diz que seu novo livro é, "ao mesmo tempo, um protesto e uma ode
ao planeta e ao futuro das crianças" (future of our kids). O apresentador faz referência à polêmica
lista de escolhidos como potenciais habitantes da primeira estação orbital de atmosfera não-poluída, em que não foi incluído
-não haverá brasileiros a bordo.
Cunha é o convidado de amanhã
do programa "Puxa!", com os
bambas indefectíveis Seus Colegas
de Mídia como entrevistadores.
Canal 231, 20h.
O grupo Curadores Injustiçados dá hoje, às 20h, na Casa do Artista, a primeira palestra pública
depois de sua volta do exílio. O
grupo é formado por curadores de
arte que foram levados a se exilar
nos anos 10, depois de serem apedrejados e perseguidos como "fomentadores da imbecilidade humana e interesses escusos". Com a
anistia, os curadores já podem trabalhar de novo no país. O tema da
palestra (entrada grátis) é "A Necessidade Imprescindível e Essencial da Curadoria para o Futuro da
Arte". Há ingressos disponíveis.
A banda Tomorrow Never Comes toca hoje, às 22h, no estúdio
Original, com participação especial da atriz Césia Kubrick. O grupo integra o movimento retrógrado, que busca as raízes da música
brasileira, contra a tendência de
pasteurização universal. "A gente
faz uma coisa mais autêntica, partindo do axé do século passado como forma de resistência cultural",
diz Kubrick, Amália da novela
"Ventre Amargo" (Bleak Womb),
remake da versão de 2027, por sua
vez um remake da versão-sucesso
de 2015, baseada livremente na
obra original de 2006.
É hoje, nas ruínas do Playcenter, a partir das 19h, o vernissage
dos artistas Sid Maria, Camponato
Braga, Suzy Impó e Carlos Apoplé,
todos da geração de 30, que retomou a idéia do corpo como espaço
consensual entre o espetáculo e a
provocação, no embate com a matéria sensitiva urbana e a tessitura
da experiência da identidade no
campo da virtualidade lúdica, sem
esquecer a importância do diálogo
com a moda que impregna toda a
arte desde os antigos contemporâneos. A exposição reúne as obras
"Roda Gigante", "Trem Fantasma" e "Telma, a Mulher-Gorila" e
instalações-interativas, retrabalhando o conceito de teia urbana.
Volta a funcionar a partir de
hoje o Money = Culture, site de
compras e entretenimento destruído há dois meses (two months)
por um vírus-bomba. Os responsáveis, um grupo de septuagenários (septuagenaries), todos nascidos nos anos 60 do século passado,
foram presos e respondem a processo. Segundo o promotor, os terroristas se recusam a explicar a
ação. Tudo indica que sejam fanáticos integristas movidos por um
ódio anti-social contra o bem-estar da maioria e das grandes corporações de cultura. Os terroristas
dizem ter sido escritores, artistas e
músicos no passado, embora ninguém tenha ouvido falar deles. Dos
depoimentos de repúdio recolhidos pela promotoria, a reação da
escritora Dana Sinsi, 60, autora da
trilogia "Lush", "Such" e "Much",
que começou como clubber na
noite paulistana dos anos 90 do século 20, é ainda hoje a mais implacável: "Recalcados!" (Resentful!).
Chega ao Brasil amanhã, após
ter sido revelado neste país com
exclusividade por este caderno, o
maior, mais inteligente, mais irônico, mais "cool" dos cineastas da
nova safra independente americana, Garry Adrian (leia entrevista
exclusiva na página ao lado). O
mais genial novo astro da cena internacional, que está mudando os
rumos das imagens em todo o
mundo, vem lançar seu mais recente filme, "Polemical". Este caderno viu o filme com exclusividade. É o melhor do cineasta desde
"Shocking", que resenhamos primeiro, com exclusividade, há três
anos (three years), quando ninguém tinha ouvido falar nele.
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