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"Do Inferno", sobre o serial killer que aterrorizou Londres no século 19, estréia hoje
O estripador ataca
O ator Johnny Depp, que interpreta um investigador no filme, explica sua atração pelo dark
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Em "Do Inferno", filme dos irmãos-cineastas Albert e Allen
Hughes que estréia hoje no Brasil,
Johnny Depp interpreta Fred Abberline, um investigador inglês
que tenta elucidar um dos maiores casos das páginas policiais de
todos os tempos: a série de assassinatos de prostitutas promovida
com requintes de terror por Jack,
o Estripador.
Fã desde criança do criminoso
que atormentou a Londres do século 19, Depp acrescenta mais um
personagem dark à sua extensa
galeria de tipos estranhos e góticos. Nos últimos dois anos, depois
do nascimento de sua primeira filha, Lily-Rose, com a atriz e cantora francesa Vanessa Paradis, o
ator vem se diversificando. Foi
drag queen em "Antes do Anoitecer", traficante em "Profissão de
Risco" e cigano em dois filmes:
"Chocolate" e "The Man Who
Cried", este último ainda inédito.
Apesar de dizer que vive "uma
vida mais regrada e maçante"
desde que se tornou pai, Depp definitivamente não perdeu sua pose de cool. Ele chega para a entrevista usando uma malha rasgada
na gola e um chapéu furado na cabeça. "Posso fumar aqui?", ele
pergunta. "É que ainda não consegui largar esse vício."
Folha - Boa parte dos filmes que
você escolhe para fazer lida com
elementos góticos. Como explica
essa atração pelo dark?
Johnny Depp - Sempre gostei
desse tipo de história, desde
criança. Mas, a cada dia que passa,
venho me fascinando mais pelo
comportamento humano, pelo
que motiva as pessoas a fazerem o
que fazem; pelo que faz uma pessoa se tornar dark e outra, solar.
Folha - Qual é a sua fase agora?
Depp - Ah, agora eu estou no lado ensolarado da calçada. Pelo fato de ter me tornado pai, testemunhei um pedaço da vida que achava que não existia. Sei que é estranho, pois antes de conhecer Vanessa estava fazendo filmes dark,
inclusive o de [Roman" Polanski
["O Último Portal"".
Folha - Por que então decidiu fazer "Do Inferno"?
Depp - Lembro que, aos sete
anos, assisti a um documentário
na TV sobre Jack, o Estripador. E
isso criou certo interesse. Desde
então, tenho lido os livros e as
mais diversas teorias sobre o caso.
O mais fascinante para mim é o
fato de que crimes tão horrendos
assim não tenham sido resolvidos, apesar de sólidas teorias.
Folha - Acha que a teoria que "Do
Inferno" explora é a verdadeira?
Depp - Acho que é bem sólida,
sim. É uma das melhores e, certamente, a mais elaborada. Tem
uma outra de que gosto muito e
está esmiuçada no livro "The
Lodger", que parte do pressuposto de Jack ser um médico americano meio charlatão que estaria
em Londres na época dos crimes.
Tudo é muito documentado. Ele
foi até preso e interrogado. Assim
que tomou um navio de volta para os EUA, os crimes pararam.
Folha - Você é tido como um ator
meticuloso. Como foi seu preparo
para o ritual das drogas ingeridas
no filme? Já tinha familiaridade
com o absinto e o láudano?
Depp - Sim [risos". A idéia do
láudano era uma coisa que quis
jogar na trama. Nunca ninguém
dá muita atenção ao láudano, embora fosse droga muito comum
em 1800, inclusive usada por donas-de-casa. Achei interessante
criar um personagem que estava
se inebriando com ópio para afugentar seus demônios e ter mais
claridade em mente para resolver
uma série de assassinatos.
Folha - Você já tomou absinto?
Depp - Estava filmando "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça", em
Londres, quando publicaram reportagens sobre a volta da legalidade do absinto. Imediatamente,
disse: "Me mandem uma caixa.
Preciso experimentar" [risos".
Mas definitivamente diria para as
pessoas: "Proceda com cautela".
Folha - E ópio? Você já tentou?
Depp - Ópio, sim. Você não fica
com vontade de se mover muito,
parece que virou um líquido. Fora
que eu vomitei muito depois. A
gente tem esse sonho recorrente
de que, ao chegarmos aos 65 anos,
o que queremos é deitar num sofá
e ficar à base de ópio o dia inteiro
[risos". Mas isso foi antes de eu
me tornar pai. Agora que tenho
uma filha, minha vida é maçante.
Folha - Como você vai abordar o
assunto das drogas com sua filha?
Depp - Falarei tudo sobre drogas
para ela. Você nunca quer que seu
filho mexa com drogas, mas essa
não é uma maneira muito realista
de lidar com a vida.
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