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"DO INFERNO"
Quadrinho inspirador do filme dos irmãos Hughes detalha planejamento dos crimes de Jack, o Estripador
Adaptação desfigura personagens de Alan Moore
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
Adaptar uma HQ para o cinema
exige muita responsabilidade: antes de o filme começar a ser produzido, centenas de sites e listas
de discussões aparecem na internet, do dia para a noite, debatendo os melhores trechos a serem
aproveitados, os efeitos a serem
utilizados e os atores ideais para
encarnarem os heróis e os vilões.
Adaptar uma HQ de Alan Moore, no entanto, é muito, muito
mais complicado. Trata-se do responsável por obras-primas das
graphic novels modernas como
"V de Vingança" e "Watchmen",
do criador do Monstro do Pântano e dos super(anti)-heróis mais
complexos dos últimos tempos.
Para qualquer fã de quadrinhos
hoje, Moore é -ou tem que ser-
uma unanimidade.
E o que dizer da adaptação dos
irmãos Hughes de "Do Inferno",
história de 608 páginas -publicada em quatro volumes aqui no
Brasil- escrita por Moore e ilustrada por Eddie Campbell?
Que a reconstrução das ruelas
de Whitechapel, da arquitetura e
dos figurinos vitorianos esteja
próxima da perfeição fica difícil
negar, mas quando se fala no que
aconteceu aos personagens da
graphic novel original é impossível não pensar em um trocadilho
barato com a palavra mutilação.
Temendo transgredir a regra
número um dos filmes de suspense -esconda o assassino até o final-, os Hughes foram forçados
a omitir passagens da HQ em que
o "estripador" passeia com seu
cocheiro pelas ruas de Londres
planejando as mortes. Pior do que
descobrir o possuidor de uma
mente criminosa é ter de "conviver" com ele durante as centenas
de páginas de "Do Inferno".
Também na HQ, Fred Abberline não é nenhum garotão perspicaz e clarividente (!) como aquele
vivido por Johnny Depp. Ele nunca conseguiu solucionar o caso.
Enfim, incluindo as teorias
conspiratórias envolvendo a maçonaria e a rainha da Inglaterra
nos assassinatos de Whitechapel
(sugeridas no livro "Jack the Ripper: The Final Solution", de Stephen Knight), os dez anos de pesquisas de Moore e Campbell sobre o assunto têm muito mais
consistência na HQ do que no filme. Se não leu, leia.
DO INFERNO - graphic novel de Alan
Moore e Eddie Campbell. Editora: Via
Lettera. Tradução: Jotapê Martins. Preço: R$ 25, em média (cada volume).
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