São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002

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TEATRO

Marta Suplicy sanciona lei que institui o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo

Arte contra a Barbárie ganha recursos

VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em dezembro de 2000, cerca de 300 artistas da classe teatral paulistana entoaram "Ô, Abre Alas", de Chiquinha Gonzaga, no plenário da Câmara. Anteontem, as alas foram oficialmente abertas com a publicação, no Diário Oficial do Município, da lei que institui o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
"Foi uma vitória", diz o diretor Luiz Carlos Moreira, 52 (grupo Engenho), integrante do núcleo responsável pela redação do projeto de lei concebido a partir dos encontros do movimento Arte contra a Barbárie.
Apresentado pelo vereador Vicente Cândido (PT), o programa foi aprovado por todas as comissões e defendido em plenário por integrantes de outros partidos (PSDB, PDT, PC do B, PPB, PFL etc). A última votação ocorreu na antevéspera de Natal. Terça passada, a prefeita Marta Suplicy (PT) sancionou a Lei 3.279, cujo objetivo é "apoiar a manutenção e criação de projetos de trabalho continuado de pesquisa e produção teatral visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso da população ao mesmo".
O Programa Municipal de Fomento ao Teatro terá, no mínimo, R$ 6 milhões. No bolo de R$ 118,9 milhões do orçamento de 2002 para a Secretaria Municipal de Cultura, uma emenda já garante R$ 2,5 milhões para o programa (verba a ser administrada pelo Departamento de Teatro).
Segundo Cândido, a prefeitura se compromete a repassar os outros R$ 4,5 milhões ao longo do ano, para cumprir o teto mínimo estipulado pela nova lei. Uma comissão selecionará até 30 projetos por ano, não necessariamente espetáculos. O prazo para inscrições será divulgado nos próximos dias.
"A lei é auto-regulamentada e não perde a perspectiva da cidadania", diz o diretor do Departamento de Teatro, Celso Frateschi, 49, que pretende estendê-la a outras áreas a partir de 2003.
"É um programa que surgiu de baixo para cima, a classe conseguiu se articular e sensibilizar o Legislativo e o Executivo. Isso abre flanco para outras mobilizações", afirma o diretor Antônio Araújo, 35 (Teatro da Vertigem).
"Temia que a prefeita criasse algum tipo de problema, depois da bola fora que deu em relação ao Oficina [apoio ao projeto do shopping de Silvio Santos no quarteirão do teatro, no Bexiga". Felizmente, agora foi uma bola dentro", diz Araújo.
"Foi um passo importante. A vitória é evidente quando os artistas se unem em torno de um objetivo", afirma o encenador José Celso Martinez Corrêa, 64 (Oficina Uzyna Uzona).
"Espero que a prefeita aproveite esse momento para rever sua posição sobre a idéia do teatro-estádio, da arte ao vivo, da cidade viva que precisa se elevar além do enquadramento do espetáculo de produto, de consumo, de diversão "shoppingcenterizada", para ir de encontro ao teatro da pessoa, à máxima proliferação popular do teatro", diz Zé Celso.
Iniciativa de companhias como Folias D'arte, União e Olho Vivo, Oficina Uzyna Uzona, Tapa, Parlapatões, Pia Fraus, Cia. do Latão, Teatro da Vertigem, Cia. São Jorge Variedades, o Arte contra a Barbárie surgiu em abril de 99 como fórum itinerante, percorrendo sedes dos grupos para discutir políticas públicas e privadas de apoio à produção cultural.
As primeiras reuniões, lembra o palhaço Hugo Possolo (Parlapatões), "eram verdadeiras aulas sobre ética" dadas pelo encenador e cenógrafo Gianni Ratto, da geração de imigrantes italianos que chegou nos anos 40 e 50.
O movimento superou divergências estéticas e ideológicas, vinculou-se a outras áreas (cinema, dança) e atraiu para seus debates intelectuais como o geógrafo Milton Santos, o filósofo Paulo Arantes e a psicanalista Maria Rita Kehl. Logo inspirou artistas do Rio, Belo Horizonte, Salvador e Florianópolis.

Cinema
O projeto de lei que cria o Cecin (Centro de Cinema de SP), destinado ao fomento da produção e distribuição de filmes, tem garantidos R$ 2,5 milhões na previsão orçamentária deste ano. Segundo o cineasta André Sturm, o documento deve ser votado quando a Câmara retomar as atividades.


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