São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002

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ERIKA PALOMINO

EM 2002, MUNDO DA MODA ANDA UMA NOVELA

Feliz Ano Novo!! E, para quem acha que as coisas estão difíceis aí no Brasil, não viu ainda o clima aqui em Nova York, de onde escrevo nesta semana. Estamos falando especificamente de moda, agora, e, com apenas uma caminhada pelas ruas, já dá para sentir o clima. Quem já foi algumas vezes para Nova York não deixa de sentir a diferença, que está estampada não só nos rostos dos nova-iorquinos, mas também dos milhares de estrangeiros que vivem na cidade. Pessoalmente, sou uma apaixonada pela cidade e nunca a vi assim. Não existe mais aquela energia, aquele frisson, aquela sensação de estar no olho do furacão, que a gente tinha antes. As pessoas caminham preocupadas, as ruas estão mais vazias e as lojas, mais ainda. E olha que o momento é de liquidação. Conversando com algumas pessoas, elas falam que está frio, que é o início do ano, que esta época é assim mesmo etc.. Mas que dá um certo nervoso dá (fora olhar para cima e não ver as torres, claro. O estranhamento é absurdo, o mal-estar, idem). De toda forma, como eu, milhares de outros brasileiros adoram Nova York e, certamente, pretendem vir gastar aqui seu dinheiro (essa foi uma das perguntas que uma vendedora, polidamente, me fez). Então compartilho aqui com vocês algumas coisinhas desta (curta) viagem -não se trata de um guia.
E, enquanto isso, na noite nova-iorquina, não há muitas novidades, já que o período do ano não é bom para tanto. O principal acontecimento da semana fica por conta da volta do top DJ Erick Morillo ao clube Centro-Fly e do aniversário de François Kervokian.

NOVA PRADA FICOU TUDO MESMO
Vale a pena conhecer a nova loja da Prada, na Broadway, na esquina com a Prince. Talvez você já tenha lido sobre ela, aqui mesmo, nesta Folha, no caderno Moda. É aquela com projeto do arquiteto holandês Rem Koolhas, aberta em dezembro. Ficou realmente legal e propõe uma nova experiência de compra. Parece uma grande galeria de arte, tanto pelo pé-direito quanto pela vitrine. Não se parece em nada com o que já vi em termos de loja. Eles chamam de "antiflagship store". Logo na entrada, manequins imensos, misturados àquelas peças em lamê dourado, lindas e adoravelmente esquisitas, junto a um futurista elevador cilíndrico, transparente. É verdade que a Prada não está tão saudável financeiramente quanto os conglomerados LVMH e Gucci, e há quem culpe até mesmo a instalação do Prada Universe, o novo conjunto de prédios espalhados pelo mundo de que a nova loja no SoHo faz parte. Mas ao menos esse espaço diferenciado anda cheio. E a grande diferença dos outros endereços da Prada no mundo é que, aqui, pela democrática atmosfera artística, por um momento você acha que também pode comprar. A impressão não dura, para muitos, mas sentar nas escadarias de madeira junto a uma rampa que lembra uma pista de skate para ver um dos sapatos é algo único e divertido. Os provadores têm monitores de TV e espelhos para você se ver de vários ângulos. No andar de cima (são dois), uma grande passarela com papel de parede de grandes flores digitalizadas, servindo de moldura para grandes gaiolas onde ficam roupas e acessórios. O papel de parede (quem achou que eles estavam fora de moda?) será trocado a cada oito meses.

MARC MOSTRA QUE É POSSÍVEL
Outra loja nova é a Marc, que vende a segunda linha de Marc Jacobs. Fica na Bleecker com a 11th Street, num ponto bem charmoso do Village, logo depois da Condomania e perto da Lulu Guinness, de acessórios hype. A loja abriu em julho último. É o máximo do cool estilo Downtown no momento, e a linha é exemplo perfeito de como fazer peças em puro algodão, jeans com estilo, design e preços honestos. Os acessórios são incríveis, tanto os sapatos tipo vintage quanto os simpáticos anéis de frutinha ou coração (quem lembra? Eu usava muito quando era criança). Mês que vem, abre, na mesma Bleecker, uma loja deles só para acessórios. A loja deverá estar pronta para a Fashion Week, que começa em fevereiro, dia 8.

BALENCIAGA VOLTA À CIDADE
Esta deverá ser uma importante semana de moda em Nova York. Acaba de confirmar presença o estilista Nicolas Ghesquière, com sua Balenciaga. A marca mostrará 25 looks, num ambiente mais intimista, e o designer vai conversar pessoalmente com algumas editoras. "É uma experiência de uma nova forma de apresentação de coleção e uma expressão do nosso desejo de sempre mudar", declarou o porta-voz da histórica marca. A apresentação em Nova York deve acontecer em 14 de fevereiro nas tendas do Bryant Park. Esta temporada também será importante, obviamente, porque a de 2001 foi interrompida em 11 de setembro. A coleção de Marc Jacobs, aliás, foi a última a ser mostrada antes do ataque, e a Marc ganhou uma apresentação bem formal, que depois foi disponibilizada na internet pelo site www.style.com, para que ao menos as pessoas pudessem ver. O mesmo rolou com Helmut Lang, que mostrou somente na internet. Em tempos difíceis, trata-se de uma interessante e tecnológica alternativa, exatamente o que vai fazer o jovem estilista paulistano Caio Gobbi. Ele vai apresentar sua coleção de inverno 2002 somente na internet, e você poderá conferir no site www.erikapalomino.com.br em 17 de janeiro.

REGGAE, DUB E OUTRAS BOSSAS
É possível observar como denominador comum em alguns discos bacanas que comprei um hype em torno do reggae e do dub como cruzamentos sonoros, visando resultados modernos. A onda agora é misturar, do modo como o delicioso Gotan Project mistura, tango com downtempo e lounge. Quem gosta de coisas engraçadas vai aproveitar também a volta da turma do Señor Coconut em "Pop Artificielle", o grupo LB, que traz, desta vez, versões absurdas de faixas clássicas como "Ashes to Ashes", de David Bowie, "Angie", dos Stones, e "The Future", do Prince. Este álbum foi lançado por aqui em 2000, mas só agora é que está pegando, e as pessoas estão abrindo seus ouvidos para este gênero. É tudo!

CULTURA HIP HOP VIRA ARTE EM MUSEU
Nova York pode estar meio cabisbaixa nestes tempos difíceis, mas, mais uma vez, é a cultura jovem que vem das ruas que traz novidades nas seções de música e arte nova-iorquinas. Os movimentos jovens, criativos e contemporâneos dão um ar fresh e inovador à cidade. Agora, é o movimento hip hop que ultrapassa as fronteiras da música para chegar aos museus, em forma de arte. Fazem parte do projeto grafites, ilustrações e abstracionismo criados pelos núcleos de hip hop, que aparecem como samples de cultura jovem na exposição que traz o ótimo nome de "One Planet Under a Groove". Ela está em exibição no Museu do Bronx, onde mais? Quem vier pra cá e gostar do gênero vale a pena dar uma conferida.

NOVIDADES NO FRONT BRASILEIRO
Se há novidades no front americano, no brasileiro elas são muito maiores, já que a temporada de lançamentos de moda começa neste mês. Os primeiros desfiles rolam a partir do dia 20, com a Casa de Criadores Semana de Moda. Estarão de volta Jeziel Moraes, a V-Rom e a Mulher do Padre. Estréia, no evento que tem a direção de André Hidalgo, a marca Maria X Madalena do jovem Guilherme Matta. A Slam decidiu ficar de fora, como também o carioca André Camacho e Fernando Sommer. Dentro do projeto LAB, que revela novos talentos, a entrada de Yoo Kim, assistente de Walter Rodrigues, e Simone Mina, professora da Santa Marcelina. No Lab, parte do elenco da novela global "Desejos de Mulher" estará na primeira fila. É que nela Regina Duarte interpreta uma estilista, Gloria Pires, uma jornalista, e Cris Couto, uma editora de moda. Mel Lisboa vive uma modelo. Hoje, no Rio, a diretora Bia Lessa comanda, com o diretor Denis Carvalho, a realização de um prêmio de moda, nos moldes do Prêmio Abit. E, depois do Lab, rola, no galpão dos desfiles, a festa de lançamento da novela, que estréia dia 21.

SAIBA COMO SERÁ A FASHION WEEK
Tem muito assunto na São Paulo Fashion Week, claro (o evento começa dia 28 e dura cinco dias). A começar da montagem do espaço no prédio da Bienal. A entrada será feita pela lateral, e um grande espelho recebe as pessoas. "A idéia é pensarmos sobre quem somos", diz o diretor Paulo Borges. "Devemos agora discutir qual a nossa vocação." Sobre nossas cabeças estará um grande céu. Logo ali embaixo estará também um grande estúdio da DirecTV, com uma exposição com 28 fotógrafos interpretando a moda praticada nas ruas do Brasil. A sala de imprensa muda para o andar do meio, com um bar só para os jornalistas, que poderão assistir também a uma clipagem sobre os cinco anos de existência do calendário oficial da moda (antes MorumbiFa- shion Brasil, agora São Paulo Fashion Week). Uma mostra de sapatos ganha o sugestivo título de "Por Onde Andamos". No andar superior, fica a exibição principal do evento, com parte do material de pesquisa do livro "Backstage", coordenado por Borges e pelo diretor de arte Giovanni Bianco, com texto de João Carrascosa. Lá em cima, ainda, um auditório tipo "Roda Viva" para debates sobre moda.

MERCADO NO BRASIL SE PROFISSIONALIZA
Outra boa notícia diz respeito "à criação de pré-coleções, somente para compradores". Em 5 de maio, acontece a de verão; em 11 de novembro, a de inverno. Isso deverá estimular o varejo. E, em relação "à questão Rio e SP", as conversas de Paulo Borges com os organizadores da semana carioca de lançamentos levam a um estilo de apresentação como Milão, seguida de Paris. Rio segue SP e não mais as duas cidades se alternam em verão e inverno. Essa negociação está acontecendo sob a chancela da Associação Brasileira das Indústrias Têxteis, que vem mobilizando esforços de profissionalização do calendário brasileiro.

HYPES PRA QUEM GOSTA
Mais hypes de Nova York? Tudo colorido, nos objetos para casa, e os vasos de vidro e muranos em geral entram em cena como estrelas. Mais alegre, né? Eu adoro. É perfeito para este momento exótico. Também entre as novas tendências de decoração está o mobiliário bem baixinho, com mesas e pufes tudo junto ao chão. Em São Paulo e no Rio, já está rolando. Confira os tênis mais modernos na A-Life, que fica na Orchard Street, perto da Seven.


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

E-mail: palomino@uol.com.br


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