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ERIKA PALOMINO
EM 2002, MUNDO DA MODA ANDA UMA NOVELA
Feliz Ano Novo!! E, para
quem acha que as coisas estão
difíceis aí no Brasil, não viu
ainda o clima aqui em Nova
York, de onde escrevo nesta semana. Estamos falando especificamente de moda, agora, e,
com apenas uma caminhada
pelas ruas, já dá para sentir o
clima. Quem já foi algumas vezes para Nova York não deixa
de sentir a diferença, que está
estampada não só nos rostos
dos nova-iorquinos, mas também dos milhares de estrangeiros que vivem na cidade. Pessoalmente, sou uma apaixonada pela cidade e nunca a vi assim. Não existe mais aquela
energia, aquele frisson, aquela
sensação de estar no olho do
furacão, que a gente tinha antes. As pessoas caminham
preocupadas, as ruas estão
mais vazias e as lojas, mais ainda. E olha que o momento é de
liquidação. Conversando com
algumas pessoas, elas falam
que está frio, que é o início do
ano, que esta época é assim
mesmo etc.. Mas que dá um
certo nervoso dá (fora olhar
para cima e não ver as torres,
claro. O estranhamento é absurdo, o mal-estar, idem). De
toda forma, como eu, milhares
de outros brasileiros adoram
Nova York e, certamente, pretendem vir gastar aqui seu dinheiro (essa foi uma das perguntas que uma vendedora,
polidamente, me fez). Então
compartilho aqui com vocês
algumas coisinhas desta (curta) viagem -não se trata de
um guia.
E, enquanto isso, na noite nova-iorquina, não há muitas novidades, já que o período do
ano não é bom para tanto. O
principal acontecimento da semana fica por conta da volta do
top DJ Erick Morillo ao clube
Centro-Fly e do aniversário de
François Kervokian.
NOVA PRADA FICOU TUDO MESMO
Vale a pena conhecer a nova loja da Prada, na Broadway, na esquina com a Prince. Talvez você
já tenha lido sobre ela, aqui
mesmo, nesta Folha, no caderno Moda. É aquela com projeto
do arquiteto holandês Rem
Koolhas, aberta em dezembro.
Ficou realmente legal e propõe
uma nova experiência de compra. Parece uma grande galeria
de arte, tanto pelo pé-direito
quanto pela vitrine. Não se parece em nada com o que já vi em
termos de loja. Eles chamam de
"antiflagship store". Logo na
entrada, manequins imensos,
misturados àquelas peças em
lamê dourado, lindas e adoravelmente esquisitas, junto a um
futurista elevador cilíndrico,
transparente. É verdade que a
Prada não está tão saudável financeiramente quanto os conglomerados LVMH e Gucci, e
há quem culpe até mesmo a instalação do Prada Universe, o
novo conjunto de prédios espalhados pelo mundo de que a nova loja no SoHo faz parte. Mas
ao menos esse espaço diferenciado anda cheio. E a grande diferença dos outros endereços
da Prada no mundo é que, aqui,
pela democrática atmosfera artística, por um momento você
acha que também pode comprar. A impressão não dura, para muitos, mas sentar nas escadarias de madeira junto a uma
rampa que lembra uma pista de
skate para ver um dos sapatos é
algo único e divertido. Os provadores têm monitores de TV e
espelhos para você se ver de vários ângulos. No andar de cima
(são dois), uma grande passarela com papel de parede de grandes flores digitalizadas, servindo de moldura para grandes
gaiolas onde ficam roupas e
acessórios. O papel de parede
(quem achou que eles estavam
fora de moda?) será trocado a
cada oito meses.
MARC MOSTRA QUE É POSSÍVEL
Outra loja nova é a Marc, que
vende a segunda linha de Marc
Jacobs. Fica na Bleecker com a
11th Street, num ponto bem
charmoso do Village, logo depois da Condomania e perto da
Lulu Guinness, de acessórios
hype. A loja abriu em julho último. É o máximo do cool estilo
Downtown no momento, e a linha é exemplo perfeito de como
fazer peças em puro algodão,
jeans com estilo, design e preços honestos. Os acessórios são
incríveis, tanto os sapatos tipo
vintage quanto os simpáticos
anéis de frutinha ou coração
(quem lembra? Eu usava muito
quando era criança). Mês que
vem, abre, na mesma Bleecker,
uma loja deles só para acessórios. A loja deverá estar pronta
para a Fashion Week, que começa em fevereiro, dia 8.
BALENCIAGA VOLTA À CIDADE
Esta deverá ser uma importante
semana de moda em Nova
York. Acaba de confirmar presença o estilista Nicolas Ghesquière, com sua Balenciaga. A
marca mostrará 25 looks, num
ambiente mais intimista, e o designer vai conversar pessoalmente com algumas editoras.
"É uma experiência de uma nova forma de apresentação de
coleção e uma expressão do
nosso desejo de sempre mudar", declarou o porta-voz da
histórica marca. A apresentação em Nova York deve acontecer em 14 de fevereiro nas tendas do Bryant Park. Esta temporada também será importante, obviamente, porque a de
2001 foi interrompida em 11 de
setembro. A coleção de Marc
Jacobs, aliás, foi a última a ser
mostrada antes do ataque, e a
Marc ganhou uma apresentação bem formal, que depois foi
disponibilizada na internet pelo
site www.style.com, para que
ao menos as pessoas pudessem
ver. O mesmo rolou com Helmut Lang, que mostrou somente na internet. Em tempos difíceis, trata-se de uma interessante e tecnológica alternativa, exatamente o que vai fazer o jovem
estilista paulistano Caio Gobbi.
Ele vai apresentar sua coleção
de inverno 2002 somente na internet, e você poderá conferir
no site www.erikapalomino.com.br em 17 de janeiro.
REGGAE, DUB E OUTRAS BOSSAS
É possível observar como denominador comum em alguns
discos bacanas que comprei um
hype em torno do reggae e do
dub como cruzamentos sonoros, visando resultados modernos. A onda agora é misturar,
do modo como o delicioso Gotan Project mistura, tango com
downtempo e lounge. Quem
gosta de coisas engraçadas vai
aproveitar também a volta da
turma do Señor Coconut em
"Pop Artificielle", o grupo LB,
que traz, desta vez, versões absurdas de faixas clássicas como
"Ashes to Ashes", de David Bowie, "Angie", dos Stones, e "The
Future", do Prince. Este álbum
foi lançado por aqui em 2000,
mas só agora é que está pegando, e as pessoas estão abrindo
seus ouvidos para este gênero. É
tudo!
CULTURA HIP HOP VIRA ARTE EM MUSEU
Nova York pode estar meio cabisbaixa nestes tempos difíceis,
mas, mais uma vez, é a cultura
jovem que vem das ruas que
traz novidades nas seções de
música e arte nova-iorquinas.
Os movimentos jovens, criativos e contemporâneos dão um
ar fresh e inovador à cidade.
Agora, é o movimento hip hop
que ultrapassa as fronteiras da
música para chegar aos museus, em forma de arte. Fazem
parte do projeto grafites, ilustrações e abstracionismo criados pelos núcleos de hip hop,
que aparecem como samples de
cultura jovem na exposição que
traz o ótimo nome de "One Planet Under a Groove". Ela está
em exibição no Museu do
Bronx, onde mais? Quem vier
pra cá e gostar do gênero vale a
pena dar uma conferida.
NOVIDADES NO FRONT BRASILEIRO
Se há novidades no front americano, no brasileiro elas são muito maiores, já que a temporada
de lançamentos de moda começa neste mês. Os primeiros desfiles rolam a partir do dia 20,
com a Casa de Criadores Semana de Moda. Estarão de volta Jeziel Moraes, a V-Rom e a Mulher do Padre. Estréia, no evento que tem a direção de André
Hidalgo, a marca Maria X Madalena do jovem Guilherme
Matta. A Slam decidiu ficar de
fora, como também o carioca
André Camacho e Fernando
Sommer. Dentro do projeto
LAB, que revela novos talentos,
a entrada de Yoo Kim, assistente de Walter Rodrigues, e Simone Mina, professora da Santa
Marcelina. No Lab, parte do
elenco da novela global "Desejos de Mulher" estará na primeira fila. É que nela Regina
Duarte interpreta uma estilista,
Gloria Pires, uma jornalista, e
Cris Couto, uma editora de moda. Mel Lisboa vive uma modelo. Hoje, no Rio, a diretora Bia
Lessa comanda, com o diretor
Denis Carvalho, a realização de
um prêmio de moda, nos moldes do Prêmio Abit. E, depois
do Lab, rola, no galpão dos desfiles, a festa de lançamento da
novela, que estréia dia 21.
SAIBA COMO SERÁ A FASHION WEEK
Tem muito assunto na São Paulo Fashion Week, claro (o evento começa dia 28 e dura cinco
dias). A começar da montagem
do espaço no prédio da Bienal.
A entrada será feita pela lateral,
e um grande espelho recebe as
pessoas. "A idéia é pensarmos
sobre quem somos", diz o diretor Paulo Borges. "Devemos
agora discutir qual a nossa vocação." Sobre nossas cabeças
estará um grande céu. Logo ali
embaixo estará também um
grande estúdio da DirecTV,
com uma exposição com 28 fotógrafos interpretando a moda
praticada nas ruas do Brasil. A
sala de imprensa muda para o
andar do meio, com um bar só
para os jornalistas, que poderão
assistir também a uma clipagem sobre os cinco anos de
existência do calendário oficial
da moda (antes MorumbiFa-
shion Brasil, agora São Paulo
Fashion Week). Uma mostra de
sapatos ganha o sugestivo título
de "Por Onde Andamos". No
andar superior, fica a exibição
principal do evento, com parte
do material de pesquisa do livro
"Backstage", coordenado por
Borges e pelo diretor de arte
Giovanni Bianco, com texto de
João Carrascosa. Lá em cima,
ainda, um auditório tipo "Roda
Viva" para debates sobre moda.
MERCADO NO BRASIL SE PROFISSIONALIZA
Outra boa notícia diz respeito
"à criação de pré-coleções, somente para compradores". Em
5 de maio, acontece a de verão;
em 11 de novembro, a de inverno. Isso deverá estimular o varejo. E, em relação "à questão
Rio e SP", as conversas de Paulo
Borges com os organizadores
da semana carioca de lançamentos levam a um estilo de
apresentação como Milão, seguida de Paris. Rio segue SP e
não mais as duas cidades se alternam em verão e inverno. Essa negociação está acontecendo
sob a chancela da Associação
Brasileira das Indústrias Têxteis, que vem mobilizando esforços de profissionalização do
calendário brasileiro.
HYPES PRA QUEM GOSTA
Mais hypes de Nova York? Tudo colorido, nos objetos para
casa, e os vasos de vidro e muranos em geral entram em cena
como estrelas. Mais alegre, né?
Eu adoro. É perfeito para este
momento exótico. Também entre as novas tendências de decoração está o mobiliário bem
baixinho, com mesas e pufes tudo junto ao chão. Em São Paulo
e no Rio, já está rolando. Confira os tênis mais modernos na A-Life, que fica na Orchard Street,
perto da Seven.
Colaborou Camila Yahn, free-lance para
a Folha
E-mail: palomino@uol.com.br
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