São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

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Festival internacional em São Paulo irá celebrar neste mês o ska, gênero que é a raiz da música moderna jamaicana

O pai do reggae

Divulgação
O grupo Desorden Público, que se apresenta em São Paulo no dia 28 de janeiro dentro do festival Sons de uma Noite de Verão


SHIN OLIVA SUZUKI
DA REPORTAGEM LOCAL

A paternidade não é discutida, mas tampouco é muito lembrada. Então vale dizer: para Bob Marley ser eternizado como o rei do reggae, as bases para a história de sucesso da música jamaicana tiveram de ser lançadas por um ritmo chamado ska. Nada mais justo, portanto, que o estilo onde tudo começou seja celebrado. E assim será feito nos dias 26, 27 e 28 o festival Sons de uma Noite de Verão, no Sesc Pompéia de São Paulo.
Sonoridade de batidas mais aceleradas e menos entorpecidas do que o reggae, o seu filho bem-sucedido, o ska possui moda própria -com os terninhos em combinação preto-e-branco e chapéus ao estilo dos personagens detetivescos de Humphrey Bogart- e tribo própria -a do "rude boy", personagem-símbolo da onda iniciada nas grandes festas a céu aberto das ruas da capital Kingston, nos anos 60.
Estarão no festival tanto um representante que se apegou às raízes do ska quanto outro que o reinterpretou com a sua cara local: no primeiro caso, o nova-iorquino The Slackers recuperou o som seco e cheio de ecos dos estúdios jamaicanos e, no seguinte, os venezuelanos do Desorden Público acrescentaram ritmos caribenhos e letras mais próximas da realidade latino-americana.
Os dois grupos estão entre os maiores nomes de um gênero de ritmo festivo e, ao mesmo tempo, tão engajado quanto o reggae no terreno da consciência social. Experimentou picos de sucesso, mas sempre voltou para uma área restrita a poucos e dedicados fãs.
"Não vou ser hipócrita e dizer que gostaria de estar à parte do sucesso, mas é melhor ter poucas e interessadas pessoas no seus shows do que um bando de imbecis que estão lá pela moda", diz Vic Ruggiero, do Slackers. O grupo está próximo de lançar novo disco, mas privilegiará nos shows canções anteriores do repertório iniciado em 1996.
À época, o grupo decidiu não surfar a onda mais rentável comercialmente, a mistura de ska com o hardcore, trilha sonora de dez entre dez filmes norte-americanos sobre calouros ávidos por barbarizar em festas universitárias. "Não funcionava para nós. Pensamos, então, por que insistir em algo que não fazemos bem? O nosso negócio é tocar a raiz da música jamaicana", diz Ruggiero.
A seu modo, o Desorden Público, de Caracas, é uma característica banda de ska, mas conseguiu fazer uma bem-sucedida ponte com ritmos locais como o calipso e a cumbia. Conseguiu levar o gênero jamaicano ao topo das paradas de seu país e é conhecido em outros países da América Latina.
Com quase 21 anos de estrada, os venezuelanos compuseram músicas inspiradas em livros de Eduardo Galeano e construíram paralelos entre conquistas amorosas e a sedução que países emergentes tinham de exercer sobre os mercados financeiros. Apesar de apostar no lema "pense e dance", a banda não quer fazer uma abordagem direta da Venezuela chavista, diz o vocalista Horacio Blanco. "A política satura as nossas vidas todos os dias aqui em Caracas." Sobra a festa, então.
Completam a programação musical do Sons de uma Noite de Verão os norte-americanos Victor Rice e Chris Murray, além dos nacionais Móveis Coloniais de Acaju, Firebug, Trenchtown Rockers, Kongo e Los Djangos. Ainda haverá um bate-papo com especialistas e um desfile de moda inspirada no estilo concebido pela estilista gaúcha Karol Stocklos.


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