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Crítica
Busca por final feliz diminui força da ficção
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Meu destino em suas
mãos. De apaixonados descontrolados a
crentes em Deus e outras formas superiores de dominação,
a fórmula nunca deixou de
exercer fascinação. Em "Mais
Estranho que a Ficção", Hollywood adapta a premissa numa
pretensa fábula metafísica sobre um funcionário público que
começa a ouvir vozes e a suspeitar que não existe por conta
própria, pois não passa de um
personagem de um romance.
O filme recorre a uma máscara de metalinguagem para
transformar em entretenimento os nunca muito simples nexos entre narrador e personagens e entre fatos e representação. A primeira referência literária é o Bartleby de Herman
Melville, com sua vida burocrática reduzida à repetição dos
mesmos atos. Mas a inspiração
mais óbvia está nos intrincados
jogos de linguagem dos roteiros
de Charlie Kaufman ("Adaptação"). Porém o resultado é mais
linear e menos estimulante.
O diretor Marc Forster já havia mergulhado de modo mais
interessante na mistura de fato
e ficção com "Em Busca da Terra do Nunca", no qual lançava o
criador de Peter Pan em um
universo infantil paralelo, no
qual amarrava mais profundamente os laços do imaginário,
conduzindo junto o espectador
pelos meandros da fantasia.
Em "Mais Estranho que a
Ficção" o ponto de vista migra
para o lado da criatura, o que
poderia ter como efeito lançar
o público no território da ambigüidade (do tipo "é sonho ou
realidade?", "o personagem está vivendo essas situações ou as
imaginando?"). Mas a necessidade hollywoodiana de resolver os nexos da trama leva o filme a perder as nuances.
Ao planificar as dimensões
da criação e da criatura, impor
aos personagens um ponto de
contato através da figura de um
professor de literatura, o filme
vira uma ficção qualquer, onde
o que interessa é dissolver os
nós e garantir um final que não
perturbe a crença na solução
apaziguadora da "felicidade". O
que o torna um filme agradável,
mas muito menos estranho do
que pode ser uma ficção.
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO
Direção: Marc Forster
Produção: EUA, 2006
Com: Will Ferrell, Emma Thompson
Quando: em cartaz a partir de amanhã
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