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MÚSICA
De suspensórios, Neil Young faz seu maior espetáculo
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
De suspensórios e com um
cabelo tigela, Neil Young fez
em 1978 a série de shows mais importante de sua carreira. Era a turnê que culminaria com o lançamento do álbum "Rust Never
Sleeps", no qual Young gravaria
algumas de suas canções mais
marcantes. Destaque para a balada "My My, Hey Hey (Out of the
Blue)" e sua irmã pesada "Hey
Hey, My My (Into the Black)".
Young queria um documentário sobre a turnê, mas a produção,
"Rust Never Sleeps", que sai agora
em DVD no Brasil, acabou sendo
a filmagem de um único show, o
de São Francisco, realizado em 22
de outubro de 78.
Dirigido por ele mesmo, sob o
pseudônimo de Bernard Shakey,
"Rust..." não apresenta imagens
de bastidores ou entrevistas com
os músicos de sua banda, a Crazy
Horse. Como disse Young na época, o registro "é melhor que o espetáculo ao vivo, especialmente
para os amigos que não querem
passar pela paranóia que rodeia
esse tipo de espetáculo".
Seja como for, o show é um apanhado dos hits da carreira de
Young (como "The Loner", "After the Gold Rush" e "The Needle
and the Damage Done") intercalado com as novas canções de
"Rust Never Sleeps". A trilha sonora do filme seria lançada em
disco duplo no ano seguinte, sob
o nome de "Rust Live".
São 18 músicas, incluindo
"Thrasher" e "Welfare Mothers",
que ficaram de fora na edição em
vinil. No caso de "Thrasher", é fácil agora entender o porquê:
Young esquece um trecho da quilométrica letra, mas segue.
O espetáculo traz alguns números um tanto teatrais. Os roadies
(profissionais que cuidam e carregam os instrumentos), por exemplo, fazem parte do show.
Vestidos com túnicas marrons e
com olhos luminosos (idéia copiada dos mercadores de andróides de "Guerra nas Estrelas", sucesso cinematográfico do ano anterior), eles se esforçam para erguer os aparelhos gigantescos que
fazem parte do cenário. Mas a
brincadeira cria momentos constrangedores, como quando os
roadies dançam "Cinnamon Girl"
no estilo caipira americano.
Young brinca ainda com a ferrugem (rust, em inglês), oferecendo à platéia óculos especiais, tipo
3D, para que todos possam vê-la.
"Todas as bandas enferrujam e
agora você vai poder ver Neil
Young e Crazy Horse enferrujando no palco", diz um apresentador. Luzes cor sépia garantem o
efeito especial.
Prestes a completar 33 anos, e
sendo um astro do rock and roll,
Young estava mesmo preocupado com seu envelhecimento. Na
canção "My My, Hey Hey", ele
saudava o estouro do punk, que
prometia esmagar os velhos dinossauros do rock. Dizia, sem nenhuma ironia aparente: "The king
is gone, but he's not forgotten/
this is the story of a Johnny Rotten" ("O rei se foi, mas não está esquecido/ esta é a história de um
Johnny Rotten"). Rotten é o cantor da banda punk Sex Pistols,
que já havia terminado.
Dizia mais: "It"s better to burn
out than to fade away" ("É melhor
queimar logo do que desaparecer
aos poucos"), frase que estaria 16
anos depois no bilhete de suicídio
de Kurt Cobain (1967-1994).
Ao admitir a própria ferrugem,
Young parece ter encontrado, de
alguma forma, um antídoto para
a corrosão. O que explicaria por
que é um dos raríssimos astros de
rock a envelhecer dignamente.
Rust Never Sleeps (DVD)
Artista: Neil Young
Lançamento: Jive/Globo
Quanto: R$ 41,50, em média
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