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OUTRA FREQÜÊNCIA
"Tirem meu anúncio do programa dos rappers"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um milhão e quinhentos mil
ouvintes por minuto. Essa
audiência, uma das maiores do
rádio, é do "Espaço Rap", programa que ajuda a manter a 105 FM,
de Jundiaí, dentre as mais sintonizadas na Grande São Paulo.
Entre o quarto lugar e o sétimo
nos dois mais recentes rankings
do Ibope, a emissora é conhecida
por ter impulsionado o movimento hip hop paulista. "Q.G."
oficial dos manos no dial, conta
com apresentadores "grifes", como Ice Blue e KL Jay (Racionais
MC's), DJ Hum e Rappin'Hood.
O ibope consolidado, no entanto, ainda não inseriu a 105,1 MHz
na lista de poderosas agências de
publicidade. Para o diretor-geral,
Sérgio Pinesi, 32, um dos principais motivos é justamente a programação hip hop (no ar das 16h à
0h). "Há preconceito. E, mesmo
dentre os que resolvem ser nossos
anunciantes, muitos nos dizem
para não tocar o anúncio no horário dos rappers", diz.
Pinesi está na 105 FM desde 1994
e foi o responsável por conduzi-la
ao hip hop há sete anos, quando o
movimento dava os primeiros
passos. "Racionais, RZO, DMN,
todos esses hoje famosos tocaram
pela primeira vez aqui na 105."
No ar há 20 anos, a 105 FM é
uma concessão de Jundiaí (60 km
a noroeste de SP), sintonizada na
região metropolitana de SP, ABC,
Baixada Santista, 280 cidades do
interior, sul de Minas e norte do
Paraná. Começou com música
brega e sertaneja. Em 1991, passou
ao samba, antes da "onda" pagodeira. O rap veio em 1997.
De manhã e no início da tarde,
ainda conserva programação
mais "light" e apreciada por
anunciantes, com samba, axé e
até uma oração do padre Marcelo
Rossi. "Na hora do café da manhã,
temos de tomar café da manhã."
Na opinião dele, as agências de
publicidade no Brasil "vão demorar anos" para perceber o "potencial mercadológico do hip hop".
"Nos EUA, o rap já tomou conta
dos jingles da TV, está até na propaganda da Nike. Mas aqui..."
Ele, entretanto, não responsabiliza apenas anunciantes e publicitários por esse "distanciamento".
"Nosso hip hop tem de aprender a ser mais profissional. Precisa parar com esse negócio de botar armas e drogas na capa dos
CDs, de falar tanto palavrão. Os
Racionais também não podem ficar com essa história de não dar
entrevistas para ninguém. Está na
hora de ir para a mídia", afirma.
Mas nem todos os grandes
anunciantes têm preconceito.
Principalmente em governos petistas. Caixa Econômica Federal,
Banco do Brasil e Prefeitura de
São Paulo investem na rádio rap.
E, discretamente, rappers já começam a ser assediados para os
"showmícios" deste ano eleitoral.
laura@folhasp.com.br
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