São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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OUTRA FREQÜÊNCIA

"Tirem meu anúncio do programa dos rappers"

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um milhão e quinhentos mil ouvintes por minuto. Essa audiência, uma das maiores do rádio, é do "Espaço Rap", programa que ajuda a manter a 105 FM, de Jundiaí, dentre as mais sintonizadas na Grande São Paulo.
Entre o quarto lugar e o sétimo nos dois mais recentes rankings do Ibope, a emissora é conhecida por ter impulsionado o movimento hip hop paulista. "Q.G." oficial dos manos no dial, conta com apresentadores "grifes", como Ice Blue e KL Jay (Racionais MC's), DJ Hum e Rappin'Hood.
O ibope consolidado, no entanto, ainda não inseriu a 105,1 MHz na lista de poderosas agências de publicidade. Para o diretor-geral, Sérgio Pinesi, 32, um dos principais motivos é justamente a programação hip hop (no ar das 16h à 0h). "Há preconceito. E, mesmo dentre os que resolvem ser nossos anunciantes, muitos nos dizem para não tocar o anúncio no horário dos rappers", diz.
Pinesi está na 105 FM desde 1994 e foi o responsável por conduzi-la ao hip hop há sete anos, quando o movimento dava os primeiros passos. "Racionais, RZO, DMN, todos esses hoje famosos tocaram pela primeira vez aqui na 105."
No ar há 20 anos, a 105 FM é uma concessão de Jundiaí (60 km a noroeste de SP), sintonizada na região metropolitana de SP, ABC, Baixada Santista, 280 cidades do interior, sul de Minas e norte do Paraná. Começou com música brega e sertaneja. Em 1991, passou ao samba, antes da "onda" pagodeira. O rap veio em 1997.
De manhã e no início da tarde, ainda conserva programação mais "light" e apreciada por anunciantes, com samba, axé e até uma oração do padre Marcelo Rossi. "Na hora do café da manhã, temos de tomar café da manhã."
Na opinião dele, as agências de publicidade no Brasil "vão demorar anos" para perceber o "potencial mercadológico do hip hop". "Nos EUA, o rap já tomou conta dos jingles da TV, está até na propaganda da Nike. Mas aqui..."
Ele, entretanto, não responsabiliza apenas anunciantes e publicitários por esse "distanciamento".
"Nosso hip hop tem de aprender a ser mais profissional. Precisa parar com esse negócio de botar armas e drogas na capa dos CDs, de falar tanto palavrão. Os Racionais também não podem ficar com essa história de não dar entrevistas para ninguém. Está na hora de ir para a mídia", afirma.
Mas nem todos os grandes anunciantes têm preconceito. Principalmente em governos petistas. Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Prefeitura de São Paulo investem na rádio rap. E, discretamente, rappers já começam a ser assediados para os "showmícios" deste ano eleitoral.

laura@folhasp.com.br


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