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CRÍTICA
Busca por choque e ousadia resulta em convencionalismo
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
"Contra Todos", título que
é a redução da expressão
"cada um por si e Deus contra todos", é um filme que, de fato, parece ter sido feito "contra" a platéia. Não há nada, em uma hora e
meia de projeção, que alivie a experiência diante do que é apresentado. A música, rara, é áspera
como a imagem, captada em vídeo, com uma definição granulada que fica ainda mais evidente na
tela grande. A interpretação dos
atores não é totalmente naturalista e, na maior parte do tempo, está alguns tons acima do padrão.
Com essa proposta clara, o diretor Roberto Moreira obtém momentos de impacto verdadeiro
como, por exemplo, quando se
ouve um tiro pela primeira vez.
Moreira não só dá um susto real
(fez muita gente pular da cadeira
na estréia), mas também quebra
expectativas, desacostuma olho e
ouvido. Só que a pura vontade de
chocar pode obter resultados interessantes aqui e ali, mas não
chega a constituir um filme.
"Contra Todos" parece se preocupar mais em parecer sujo e desconcertante que em entender
seus personagens, na expressão
de uma vontade real de inseri-los
em um contexto.
É apenas parcialmente possível
compreender as contradições do
personagem principal Teodoro
(Giulio Lopes). Ele se diz evangélico (pura hipocrisia?), mas é também um pai autoritário e um assassino profissional. O mesmo
vale para Soninha (Sílvia Lourenço), sua filha: seus arroubos de rebeldia parecem falsos e estúpidos.
O personagem mais consistente é
o da mulher de Teodoro, Cláudia,
feito por Leona Cavalli.
Essa fragilidade dramática culmina com um desfecho convencional no seu desejo de ser ousado. Típica surpresa de filme independente americano, um truque
de roteiro em que uma mesma seqüência é mostrada de pontos de
vista diferentes. Alguns flashbacks ajudam a revelar os pontos
cegos do filme. Descobre-se que
um dos personagens, como um
anjo mau, arquitetou a ruína de
outro. Um recurso desgastado
que, se era para ser shakespeariano, soou apenas folhetinesco.
O crítico Pedro Butcher viajou a convite
da organização do festival
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