São Paulo, quarta, 11 de fevereiro de 1998

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MÚSICA
Banda surgida na praia de Ipanema, ainda sem gravadora, faz sucesso no Rio de Janeiro ao mesclar samba, hip-hop, funk, reggae e jongo
Farofa Carioca produz mistura original

LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial ao Rio

Poucas vezes o Rio viu um grupo praticamente desconhecido, sem disco ou gravadora, ser tão bem-sucedido quanto o Farofa Carioca.
Na madrugada de ontem -o show começou às 0h10 de terça-, artistas globais (como Regina Casé e Selton Mello, músicos (Fernanda Abreu, Roberto Frejat...) e gente de gravadoras se acotovelavam entre o público para ver a banda no Ballroom.
Duas grandes gravadoras já estão disputando o passe do grupo, que, há poucas semanas, tocava na praia de Ipanema -na areia, de sunga e sem microfone.
Como o nome já indica, a banda é adepto de misturas. Mas o Farofa Carioca tem características e qualidades próprias. Misturando samba, hip-hop, funk, reggae e jongo, o grupo faz um som extremamente dançante, divertido e bem-humorado, soando muitas vezes como discípulos da finada banda Black Rio e do Jorge Ben dos bons tempos.
Como em "Bebel", em homenagem à Vila Isabel, ou em "São Gonça", que poderia servir de hino contemporâneo para o Rio. "Hoje à tarde a ponte engarrafou, e eu fiquei a pé/Tentei ligar para você, e o orelhão da minha rua estava escangalhado."
O grupo foi criado pelo cantor e violonista Gabriel Moura -sobrinho do saxofonista Paulo Moura-, pelo flautista francês Bertrand Doussain e pelo cantor "Seu Jorge" -personagem incorporado por Jorge Mário da Silva, que já trabalhou com o diretor Amir Haddad.
O performático "Seu Jorge" é uma das atrações da apresentação. Lembra um Jay Kay (líder do Jamiroquai) negro, alto e com mais ziriguidum e telecoteco. É ele quem dedica à Xuxa a emblemática "Doidinha para Ter Neném".
É verdade que o espírito do grupo é muito carioca, o que pode atrapalhar a penetração nos dois maiores mercados fonográficos regionais do país -normalmente refratários a carioquices. Mas é justamente esse espírito que foi enaltecido pelo público.
No final, Fernanda Abreu rasgava seda nos camarins. Roberto Frejat também: "Gostei demais. É totalmente carioca. Mistura música brasileira autêntica e internacional. Fica super pop".
Não que a apresentação -que contou com a canja de B Negão e de Marcelo D2 (Planet Hemp) em "021"- não tenha tido furos.
Eles foram prejudicados pelo som embolado do lugar. As letras eram muitas vezes inaudíveis.
O som lamentável não foi o único problema. Falta ainda o polimento que um bom produtor e um diretor musical dariam. Caso da constrangedora "Chose de Loque", que poderia ser limada do repertório.
Nada que empanasse o bom show do Farofa Carioca, que, no bis, transformou o Ballroom em um baile do Monte Líbano, emendando hits carnavalescos como "Maria Sapatão", "Cabeleira do Zezé", e "Pega Ela Peru".
Um fim condizente com a história do lugar, que já abrigou Oswaldo Sargentelli e seu Oba-Oba. Ficaram faltando as mulatas.


O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite da AZ Produções Artísticas


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