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MÚSICA
Banda surgida na praia de Ipanema, ainda sem gravadora, faz sucesso no Rio de Janeiro ao mesclar samba, hip-hop, funk, reggae e jongo
Farofa Carioca produz mistura original
LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial ao Rio
Poucas vezes o Rio viu um grupo
praticamente desconhecido, sem
disco ou gravadora, ser tão
bem-sucedido quanto o Farofa
Carioca.
Na madrugada de ontem -o
show começou às 0h10 de terça-,
artistas globais (como Regina Casé
e Selton Mello, músicos (Fernanda Abreu, Roberto Frejat...) e gente de gravadoras se acotovelavam
entre o público para ver a banda
no Ballroom.
Duas grandes gravadoras já estão disputando o passe do grupo,
que, há poucas semanas, tocava
na praia de Ipanema -na areia,
de sunga e sem microfone.
Como o nome já indica, a banda
é adepto de misturas. Mas o Farofa
Carioca tem características e qualidades próprias. Misturando
samba, hip-hop, funk, reggae e
jongo, o grupo faz um som extremamente dançante, divertido e
bem-humorado, soando muitas
vezes como discípulos da finada
banda Black Rio e do Jorge Ben
dos bons tempos.
Como em "Bebel", em homenagem à Vila Isabel, ou em "São
Gonça", que poderia servir de hino contemporâneo para o Rio.
"Hoje à tarde a ponte engarrafou,
e eu fiquei a pé/Tentei ligar para
você, e o orelhão da minha rua estava escangalhado."
O grupo foi criado pelo cantor e
violonista Gabriel Moura -sobrinho do saxofonista Paulo Moura-, pelo flautista francês Bertrand Doussain e pelo cantor
"Seu Jorge" -personagem incorporado por Jorge Mário da Silva,
que já trabalhou com o diretor
Amir Haddad.
O performático "Seu Jorge" é
uma das atrações da apresentação.
Lembra um Jay Kay (líder do Jamiroquai) negro, alto e com mais
ziriguidum e telecoteco. É ele
quem dedica à Xuxa a emblemática "Doidinha para Ter Neném".
É verdade que o espírito do grupo é muito carioca, o que pode
atrapalhar a penetração nos dois
maiores mercados fonográficos
regionais do país -normalmente
refratários a carioquices. Mas é
justamente esse espírito que foi
enaltecido pelo público.
No final, Fernanda Abreu rasgava seda nos camarins. Roberto
Frejat também: "Gostei demais. É
totalmente carioca. Mistura música brasileira autêntica e internacional. Fica super pop".
Não que a apresentação -que
contou com a canja de B Negão e
de Marcelo D2 (Planet Hemp) em
"021"- não tenha tido furos.
Eles foram prejudicados pelo
som embolado do lugar. As letras
eram muitas vezes inaudíveis.
O som lamentável não foi o único problema. Falta ainda o polimento que um bom produtor e
um diretor musical dariam. Caso
da constrangedora "Chose de Loque", que poderia ser limada do
repertório.
Nada que empanasse o bom
show do Farofa Carioca, que, no
bis, transformou o Ballroom em
um baile do Monte Líbano, emendando hits carnavalescos como
"Maria Sapatão", "Cabeleira do
Zezé", e "Pega Ela Peru".
Um fim condizente com a história do lugar, que já abrigou Oswaldo Sargentelli e seu Oba-Oba. Ficaram faltando as mulatas.
O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite
da AZ Produções Artísticas
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