São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONEXÃO POP

Pop "inteligente"

Não é apologia da burrice, mas o adjetivo incomoda na música. E Lily Allen fala do novo CD

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

EM MUITOS sites e revistas por aí, o nome Micachu & the Shapes recebe não apenas espaço considerável, mas elogios variados. Um adjetivo que se associa à música do grupo é "inteligente".
Não vou aqui fazer apologia da burrice ou da estupidez, mas há algo que incomoda quando o termo "inteligente" é utilizado para descrever uma banda pop. Serve, muitas vezes, para esconder experimentalismos inúteis ou pretensão descabida. Um gênero inteiro foi colocado sob esse guarda-chuva. No início dos anos 1990, época da massificação da dance music, alguém criou o termo IDM: intelligent dance music.
Servia, basicamente, para descrever produtores de eletrônica que faziam música de ritmo fragmentado, permeada por ruídos, para ser ouvida sentado, fumando um charuto e "analisando" cada batida. Boa parte do bom selo Warp (o duo Autechre é o principal exemplo) foi rotulada dessa maneira. Essa era a IDM, a dance music inteligente -em contrapartida, a dance music que se ouvia nas pistas e nas raves era o quê? Em alguns artigos, o Micachu & the Shapes é descrito como "pop inteligente". Porque suas canções apresentam variação rítmica absurda, feita a partir de guitarras simples, samples obscuros ou com o barulho de um aspirador de pó.
Micachu & the Shapes são Mica Levi, inglesa de 21 anos, Raisa Kahn e Mark Pell. O trio acaba de lançar "Jewellery", disco que sai pelo recomendadíssimo selo Rough Trade e que foi produzido por um nome forte da IDM: Matthew Herbert. Em faixas como "Vulture" e "Lips", rápidas, dinâmicas, quase intraduzíveis, o inteligente cai bem. Mas por metade do disco a banda parece tentar colocar o máximo possível de referências em três ou quatro minutos. Aí soa apenas confuso e bobo. Nada inteligente.

 

Lembra do show da Lily Allen no Planeta Terra? Talvez pelo excesso de cigarros e álcool, sua voz estava fraca e, como consequência, a apresentação foi chocha.
No segundo disco, "It's Not Me, It's You", lançado há pouco, Allen troca o pop-ska-retrô por um pop-electro-dance. Em entrevista a esta coluna, ela conta que decidiu mudar o direcionamento de suas faixas para tornar os shows mais legais: "Não queria ficar fazendo a mesma coisa, me repetir. Por isso decidi mudar de produtor. Além disso, queria canções que tornassem os shows mais energéticos".
O que não mudou foram as letras: ainda pessoais e baseadas em histórias cotidianas: "A inspiração [para compor] vem de todo lugar, das experiências que tenho com meus familiares, lendo o jornal, assistindo a TV, saindo com meus amigos", diz ela, que elogia a banda Keane (que faria show em São Paulo ontem).
Uma das melhores músicas do disco é a que tem o título mais polêmico: "Fuck You". "Não, pelo contrário", diz Allen, sobre se o nome da canção causou problemas. "Muita gente disse que gosta da música, inclusive gente da gravadora."

thiago.ney@grupofolha.com.br


Texto Anterior: CDs/DVDs
Próximo Texto: Crise põe em risco produção de filmes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.