São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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Rumpilezz produz jazz com bases afro-baianas

Orquestra mistura ritmos ancestrais com sofisticados arranjos para os sopros

Para o maestro e compositor Letieres Leite, apesar das influências do candomblé, banda não faz culto e é "estritamente musical".

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na linha de frente, cinco músicos de terno branco, tocando percussões típicas afro-baianas, como os atabaques rum, rumpi e lé. Logo atrás, em formação semicircular, outros 15 instrumentistas, tocando diferentes sopros, de chinelos, bermudas e regatas.
A inversão de hierarquia vem também no som. No centro das músicas estão desenhos rítmicos da música ancestral da Bahia, com influência africana, envolvidos por camada jazzística de sofisticados arranjos de trompetes, trombones, saxes, tuba. É a Orkestra Rumpilezz, do maestro, compositor e saxofonista Letieres Leite, que lançou há pouco o primeiro disco.
Formada em 2006, em Salvador, a orquestra foi a realização das ideias esboçadas por Letieres nos anos 80, quando estudava em conservatório em Viena e teve o estalo de criar a partir do universo percussivo baiano. "Busquei a música sacra do candomblé como recurso criativo para a música instrumental", explica ele. "Percebi que as estruturas rítmicas da música afro-baiana estavam extremamente organizadas, mas não de modo formal, dentro da academia. Tudo foi preservado nas esquinas, nas ruas de Salvador, nos terreiros de candomblé."
Letieres passou a criar, a partir desse ponto central, composições nascendo do encontro com as matrizes africanas e com as particularidades das culturas de tribos que vieram parar aqui na escravidão. Um universo rítmico que existe na cultura afro-baiana soteropolitana, segundo ele. Em Caetano, Gil, Carlinhos Brown, Olodum, Ivete Sangalo. E Letieres sabe: há anos é saxofonista e arranjador da banda de Ivete.
Mas a Rumpilezz existe num universo paralelo, instrumental, com percussões baianas típicas e harmonias notadas por sopros, cada naipe ligado a um tambor. Influência do jazz?
Claro, mas não só -há muito improviso, mas também composições inteiras pela pauta.
O trabalho de arranjador não se esconde: ele ouviu muito Moacir Santos, Gil Evans e Sun Ra, admite. Mas se é para reconhecer um nome no jazz, é John Coltrane. "Ele foi quem mais escutei", conta. "Me influencia não só pelo lado musical. Sempre gostei de como usava recursos, a Cabala, "A Love Supreme", a busca espiritual."
Busca espiritual que encontra paralelo na relação com o candomblé? "Sou simpatizante da religião, mas a Rumpilezz não é culto, não é chamamento, é estritamente musical", separa. "Ainda assim, a força dessa música é clara. Como compositor, quero tocar o coração das pessoas. Todo mundo quando toca busca mágica na música."


LETIERES LEITE & ORKESTRA RUMPILEZZ

Artista: Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 33,90




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