São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2000 |
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DISCO - LANÇAMENTOS Pioneiros do punk voltam à ativa
MARCELO VALLETTA da Redação Após ter interrompido as atividades por dois anos, a Rollins Band retorna com nova formação e novo disco, "Get Some Go Again", lançado há um mês nos EUA. O vocalista Henry Rollins, 39, um dos pioneiros do punk rock norte-americano -de 1981 a 1986, ele esteve à frente do Black Flag, um dos mais importantes grupos do gênero-, recrutou os integrantes do Mother Superior, um trio de rapazes de Los Angeles que toca um hard rock tradicional, sem grandes inovações. E é exatamente isso que o disco traz. A banda reproduz uma série de clichês do rock pesado nas 13 músicas que compõem o CD. A faixa de abertura, "Illumination", começa com uma linha de baixo, os pratos da bateria, ruidinho agudo de guitarra, até explodir em repetitivas séries de dois acordes, enquanto Rollins começa a desfiar seu discurso sobre o caminho que percorreu em sua vida e as valiosas lições que aprendeu nesse percurso. Ele já fez isso antes, com mais ironia e contundência, em "The End of Silence" (92) e em "Weight" (94). As repetições chamam a atenção. O riff de "Monster" soa como "Paradise City", dos Guns'n'Roses (!) -sem falar que inúmeros grupos já gravaram músicas com esse título. "You Let Yourself Down" é muito parecida com "Ace of Spades", do Motorhead, clássico do heavy metal britânico do início dos anos 80. "Brother Interior" é lenta e pesada, com um vocal meio fantasmagórico, evoca o velho Black Sabbath. As letras de Rollins continuam apontando os defeitos dos outros -e ignorando os dele. Em "Thinking Cap", após criticar mulheres que fazem cirurgia plástica, dizendo "você pode vestir um porco, mas ele ainda será um porco", imita um suíno e dá uma risada sarcástica. Em "Change It Up", diz: "Não justifique sua complacência para mim". Ai, que medo. A música que encerra o álbum, "Illuminator", com 14 minutos de duração, começa com Rollins apresentando o convidado especial, Wayne Kramer, ex-integrante da lendária banda MC5 -que misturou blues pesado e rock psicodélico no final dos anos 60-, chamando-o de "deus da guitarra" e de "irmão", enquanto a bateria proporciona uma base funk para a longa palestra do vocalista sobre o cotidiano de Los Angeles. Lá pelo 11º minuto, após o segundo solo de guitarra, surge um saxofone (alguém lembrou-se de "Funhouse", dos Stooges?). "Você ouviu isso? Saxofone! Isso é pra você ter uma idéia da minha recém-adquirida maturidade e sentir o gostinho da minha credibilidade de rua", diz o fanfarrão. Além da falta de originalidade, incomoda o fato de Rollins levar-se a sério em demasia. O vocalista é geralmente incluído no grupo dos velhos punks norte-americanos "intelectualizados" que lutam contra o "sistema" fazendo parte dele, como Jello Biafra (ex-Dead Kennedys, fundador do selo Alternative Tentacles) e Ian MacKaye (ex-Minor Threat, fundador da Dischord). Rollins também fundou sua empresa, a editora 2.13.61, que publica os seus livros -meras coletâneas de "brainstorms" e poemas- e os de outros artistas, como Nick Cave e Iggy Pop. Mas, ao contrário de seus colegas mais radicais, ele não se importa de aparecer na MTV dos EUA dando dicas de musculação ou testando as barraquinhas de cachorro-quente do Lollapalooza. Em suma, "Get Some Go Again" é um disco de hard rock feito com competência, mas sem brilho. E o primarismo e o bom humor do Black Flag eram bem mais divertidos e estimulantes que a atual bazófia de Rollins. Avaliação: Disco: Get Some Go Again Artista: Rollins Band Lançamento: Dreamworks (importado) Quanto: R$ 36, em média Onde encomendar: London Calling (0/xx/11/223-5300 ) Texto Anterior: Televisão: Eurochannel exibe a última entrevista de Petrucciani à TV Próximo Texto: Banda retorna "moderna" Índice |
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