São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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Estréia amanhã "Cecil Bem Demente", sobre guerrilheiros que sequestram atriz para rodar filme que abalará Hollywood

"Cecil Bem Demente" bombardeia Hollywood

Ação terrorista

Divulgação
Em "Cecil Bem Demente", Melaine Grifftih é uma diva de Hollywood sequestrada por terroristas


BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um cineasta louco pretende rodar um filme independente que mostrará atos terroristas reais praticados por ele e sua trupe contra Hollywood. Seu nome é Cecil B. Demented. Para ter sucesso na empreitada, sequestram uma diva cinematográfica, que se identifica com seus algozes. Contam também com o auxílio de outros "excluídos", como fãs de filmes pornôs e de caratê.
Tudo isso ocorre na pacata Baltimore, cidade natal de John Waters, roteirista e diretor da comédia "Cecil Bem Demente". O cineasta ficou célebre no circuito underground com filmes como "Pink Flamingos" (1972) e "Polyester" (1981), que traziam como "musa" o travesti gorducho Divine. Anos mais tarde, concebeu uma mãe amorosa, mas que era "serial killer" nas horas vagas, em "Mamãe É de Morte" (1994). Em entrevista à Folha, Waters assegura que ele e Cecil B. Demented não são a mesma pessoa.

Folha - Em "Cecil Bem Demente", você satiriza tanto os filmes underground como os dos grandes estúdios. Eles viraram a mesma coisa?
John Waters -
De certo modo, sim. A diferença é que os distribuidores independentes sabem vender melhor um filme, pois levam em conta se ele é uma produção radical ou voltada para qualquer público. Já os distribuidores de Hollywood querem vender o mesmo filme para todo o mundo.

Folha - Você concorda com alguns dos pontos defendidos por Cecil B. Demented, mas ao mesmo tempo o ridiculariza. O que pensa dele?
Waters -
Não o odeio, mas não creio em tudo que ele acredita. Visitaria-o no hospício e compareceria ao julgamento de seu assassino. Mas não gostaria de trabalhar com Cecil. Somos diferentes. Sempre tive senso de humor e sempre quis que meus filmes fossem vistos. Mas, assim como ele, nunca pensei que não poderia fazer um filme, mesmo quando não sabia fazer. Não tinha noção, tive de aprender com meus erros. Eu era ambicioso, roubava roupas para usá-las como figurinos, cometia crimes, mas não cheguei ao mesmo ponto que Cecil.

Folha - A que ponto você chegou?
Waters -
Certa vez eu e mais quatro membros de minha equipe fomos presos sob a acusação de "conspiração para cometer exposição indecente". Foi ótimo. Fomos parar na capa da "Variety". Gravávamos uma sequência na rua e eu não sabia que era preciso pedir autorização. Havia uma cena de nudez e chamaram a polícia. Divine usava um vestido e estava em um Cadillac conversível com um homem nu a seu lado, mas a polícia não os pegou.

Folha - Qual foi sua reação quando finalmente teve um filme classificado como censura livre?
Waters -
Fiquei constrangido. Achei que não voltaria a trabalhar e que meus fãs fossem me linchar. Mas não tenho preconceito, gosto de vários filmes. Adoro Pedro Almodóvar. Ano passado, meu favorito foi "Dançando no Escuro" [de Lars von Trier". Gosto também dos mais comerciais, como "Entrando numa Fria".

Folha - Falando em projetos comerciais, aceitaria fazer um filme infantil se a Disney o convidasse?
Waters -
Infantil sim, mas não com a Disney. John Waters e Disney seria uma parceria concebida no inferno. Adoro crianças. Poderia fazer um filme infantil esquisito. Mas, para isso, talvez tivesse de sair dos EUA.

Folha - Seus primeiros filmes eram quase pornográficos e escatológicos. Esses elementos parecem ter sumido aos poucos...
Waters -
[contrariado" Não diria isso. Em "Cecil Bem Demente", o cabelo das pessoas pega fogo e há gente se masturbando em uma sala de cinema. Não sei se houve tanta mudança. Coisas assim ficaram comuns em Hollywood.

Folha - No passado, como fez para emplacar coisas absurdas, tipo convencer Divine a comer fezes?
Waters -
Foi fácil. Estava no roteiro. Perguntei se ele faria, ele aceitou. A pornografia havia sido legalizada nos EUA e ninguém parecia se chocar com mais nada. Foi um ato de terrorismo cultural.

Folha - Há um cineasta underground brasileiro que recentemente se tornou famoso...
Waters -
Coffin Joe [como é conhecido Zé do Caixão nos EUA, personagem de José Mojica Marins"? Vi seus filmes e eles chocaram até a mim. Virei fã, mas fiquei muito assustado.


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