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Estréia amanhã "Cecil Bem Demente", sobre guerrilheiros que sequestram atriz para rodar filme que abalará Hollywood
"Cecil Bem Demente" bombardeia Hollywood
Ação terrorista
Divulgação
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Em "Cecil Bem Demente", Melaine Grifftih é uma diva de Hollywood sequestrada por terroristas |
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Um cineasta louco pretende rodar um filme independente que
mostrará atos terroristas reais
praticados por ele e sua trupe contra Hollywood. Seu nome é Cecil
B. Demented. Para ter sucesso na
empreitada, sequestram uma diva cinematográfica, que se identifica com seus algozes. Contam
também com o auxílio de outros
"excluídos", como fãs de filmes
pornôs e de caratê.
Tudo isso ocorre na pacata Baltimore, cidade natal de John Waters, roteirista e diretor da comédia "Cecil Bem Demente". O cineasta ficou célebre no circuito
underground com filmes como
"Pink Flamingos" (1972) e "Polyester" (1981), que traziam como
"musa" o travesti gorducho Divine. Anos mais tarde, concebeu
uma mãe amorosa, mas que era
"serial killer" nas horas vagas, em
"Mamãe É de Morte" (1994). Em
entrevista à Folha, Waters assegura que ele e Cecil B. Demented não
são a mesma pessoa.
Folha - Em "Cecil Bem Demente",
você satiriza tanto os filmes underground como os dos grandes estúdios. Eles viraram a mesma coisa?
John Waters - De certo modo,
sim. A diferença é que os distribuidores independentes sabem
vender melhor um filme, pois levam em conta se ele é uma produção radical ou voltada para qualquer público. Já os distribuidores
de Hollywood querem vender o
mesmo filme para todo o mundo.
Folha - Você concorda com alguns
dos pontos defendidos por Cecil B.
Demented, mas ao mesmo tempo o
ridiculariza. O que pensa dele?
Waters - Não o odeio, mas não
creio em tudo que ele acredita. Visitaria-o no hospício e compareceria ao julgamento de seu assassino. Mas não gostaria de trabalhar com Cecil. Somos diferentes.
Sempre tive senso de humor e
sempre quis que meus filmes fossem vistos. Mas, assim como ele,
nunca pensei que não poderia fazer um filme, mesmo quando não
sabia fazer. Não tinha noção, tive
de aprender com meus erros. Eu
era ambicioso, roubava roupas
para usá-las como figurinos, cometia crimes, mas não cheguei ao
mesmo ponto que Cecil.
Folha - A que ponto você chegou?
Waters - Certa vez eu e mais
quatro membros de minha equipe fomos presos sob a acusação
de "conspiração para cometer exposição indecente". Foi ótimo.
Fomos parar na capa da "Variety". Gravávamos uma sequência na rua e eu não sabia que era
preciso pedir autorização. Havia
uma cena de nudez e chamaram a
polícia. Divine usava um vestido e
estava em um Cadillac conversível com um homem nu a seu lado, mas a polícia não os pegou.
Folha - Qual foi sua reação quando finalmente teve um filme classificado como censura livre?
Waters - Fiquei constrangido.
Achei que não voltaria a trabalhar
e que meus fãs fossem me linchar.
Mas não tenho preconceito, gosto
de vários filmes. Adoro Pedro Almodóvar. Ano passado, meu favorito foi "Dançando no Escuro"
[de Lars von Trier". Gosto também dos mais comerciais, como
"Entrando numa Fria".
Folha - Falando em projetos comerciais, aceitaria fazer um filme
infantil se a Disney o convidasse?
Waters - Infantil sim, mas não
com a Disney. John Waters e Disney seria uma parceria concebida
no inferno. Adoro crianças. Poderia fazer um filme infantil esquisito. Mas, para isso, talvez tivesse de sair dos EUA.
Folha - Seus primeiros filmes
eram quase pornográficos e escatológicos. Esses elementos parecem ter sumido aos poucos...
Waters - [contrariado" Não diria
isso. Em "Cecil Bem Demente", o
cabelo das pessoas pega fogo e há
gente se masturbando em uma
sala de cinema. Não sei se houve
tanta mudança. Coisas assim ficaram comuns em Hollywood.
Folha - No passado, como fez para emplacar coisas absurdas, tipo
convencer Divine a comer fezes?
Waters - Foi fácil. Estava no roteiro. Perguntei se ele faria, ele
aceitou. A pornografia havia sido
legalizada nos EUA e ninguém
parecia se chocar com mais nada.
Foi um ato de terrorismo cultural.
Folha - Há um cineasta underground brasileiro que recentemente se tornou famoso...
Waters - Coffin Joe [como é conhecido Zé do Caixão nos EUA,
personagem de José Mojica Marins"? Vi seus filmes e eles chocaram até a mim. Virei fã, mas fiquei muito assustado.
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