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CRÍTICA
Filme revalida oposição do artista à pressa
DA REPORTAGEM LOCAL
O verso "Quando penso no
futuro não esqueço meu
passado" é creditado por Paulinho da Viola, em "Meu Tempo É
Hoje", como síntese de sua obra,
de sua vida. Recolhido de sua
"Dança da Solidão" (72), que ali
ele canta em dueto com Marisa
Monte, é também um dos fios que
alinhavam o documentário de
Izabel Jaguaribe.
O trunfo da diretora é justamente a compreensão do peso de
tais palavras -tudo que se fala e
se canta no filme vai sendo alinhavado com precisão milimétrica.
Paulinho e o veterano portelense Casquinha contam, em cenas
separadas, como foi feita a parceria de "Recado", instante fundador da música do sambista. A direção do filme exibe "Recado"
ilustrando como ele foi composto:
Paulinho canta a primeira parte, a
Velha Guarda da Portela complementa na segunda.
Samba, feira livre e peixada se
interligam no subúrbio de Oswaldo Cruz, enquanto a roda canta o
samba de Paulo da Portela a Paulinho da Viola. Lila ralha carinhosamente com o marido, ele entra
cantando "Filosofia" ("O mundo
me condena/ e ninguém tem pena"), de Noel Rosa. Paulinho conta que "a música cria muitas tensões, não é uma coisa sempre prazerosa", justificando a existência
de seu cantinho terapêutico de
marcenaria. E canta "Retiro", exatamente naquele espaço.
Mais que tudo, o filme compreende que a velha e atípica "Sinal Fechado" (69) continua sintetizando o pensamento de Paulinho. Fecha em closes profundos
quando ele refaz aquela canção
tensa de crítica à pressa e à impaciência dos "tempos modernos".
A ficha cai, e o espectador percebe que toda sua obra posterior
foi dedicada a revalidar, com toda
a sutileza possível, aquela mesma
proposição. E que assim é sua vida. E que assim é também o manso filme sobre sua vida.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Meu Tempo É Hoje
Produção: Brasil, 2003
Diretora: Izabel Jaguaribe
Quando: amanhã, às 21h, no CineSesc (r.
Augusta, 2.075, tel. 3082-0213);
domingo, às 20h, no MIS (av. Europa,
158, Jardim Europa, tel. 3062-9197)
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