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DVD
"Arquitetura da Destruição", filme que aborda o projeto do Terceiro Reich a partir da estética de Hitler, é relançado
Cohen fez melhor documentário sobre nazismo
Divulgação
![](../images/i1104200601.jpg) |
Hitler em cena de "Arquitetura da Destruição", o premiado documentário de Peter Cohen, relançado agora em DVD pela Versátil |
MARCOS GUTERMAN
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO
A certa altura do primeiro
livro de "Fausto", o protagonista pede a Mefistófeles que o
mundo seja reduzido a "um monte de destroços" para que, em seu
lugar "outro surja assim fecundo". Cerca de 130 anos mais tarde,
o sonho romântico da renovação
lírica daria lugar ao pesadelo da
aniquilação total. "Arquitetura da
Destruição", o premiado documentário de Peter Cohen, relançado agora em DVD, localiza a gênese e o processo dessa explosão
cósmica de violência que foi a
principal característica do Terceiro Reich.
A menção a Goethe, aqui, não
significa que Hitler tenha se inspirado nele ou que seja tributário do
romantismo alemão tal como o
conhecemos. Antes pelo contrário: em "Minha Luta", em que expôs suas razões para quem quisesse lê-las já nos anos 20, o führer
deixou claro que o grande autor
alemão do século 19 e outros gigantes da literatura não eram dignos de integrar o universo cultural da "nova Alemanha": "Que
são Goethe, Schiller ou Shakespeare em comparação com os heróis da nova poesia alemã? Gastas
e obsoletas coisas de um passado
que não podia mais sobreviver! A
característica desses literatos é
que eles não só produzem somente sujeira, mas, pior do que isso,
lançam lama sobre tudo o que é
realmente grande no passado".
Essa hostilidade, porém, não
anula o fato evidente de que a essência do projeto hitlerista se assemelhava à dos devaneios da entediada burguesia européia do final do século 19: o mundo, tal como se apresentava, com a prevalência cada vez mais acentuada da
velocidade e da descartabilidade,
não era mais suportável.
A morte e a destruição eram vistas como as únicas coisas capazes
de restaurar a ordem e, assim, devolver a sensação de segurança à
sociedade. Por esse motivo, a Primeira Guerra Mundial, quando
começou, foi celebrada até mesmo por gente razoavelmente
equilibrada, como Freud.
Mas Hitler foi além, razão pela
qual entrou para a história. A aniquilação, para ele e seus seguidores, tornou-se um fim em si mesmo. "Significativamente, o último
desejo de Hitler foi destrutivo e
desvenda, como um símbolo, a
motivação dominante de sua vida
-a ordem de queimar seu corpo", escreve Joachim Fest, um dos
principais biógrafos de Hitler.
Estética
Na concepção de Hitler, a luta
de classes acabaria não por força
da vitória do proletariado, mas
sim pela uniformização estética
-e, para que todos se parecessem, era necessário que os diferentes fossem eliminados. Eis por
que, como mostra o documentário, a medicina tornou-se uma
das principais atividades da Alemanha nazista: os médicos, que
em grande parte definiam quem
deveria viver ou morrer, eram os
"estetas" do Reich, moldando o
corpo social como escultores assassinos.
"Arquitetura da Destruição" é
assim o mais importante documentário sobre o nazismo porque
revela como o Terceiro Reich pretendia "salvar o mundo" do caos,
revolucionando-o de modo a fazer prevalecer as leis harmoniosas
da natureza e da história, conhecidas de antemão somente pelos
seus iluminados líderes. Hitler, o
führer, via-se como o principal arquiteto dessa nova sociedade -e,
em suas mãos, os homens transformaram-se em massa plástica à
mercê da "arte total" nazista.
Arquitetura da Destruição
Direção: Peter Cohen
Distribuidora: Versátil; R$ 40, em média
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