|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livro mostra naufrágio como fim de era
da Reportagem Local
Em ``Cântico para a Última Viagem'', o norueguês Erik Fosnes
Hansen, 32, usa o naufrágio do Titanic como o símbolo do final de
uma era: a belle époque, a Europa
do pré-guerras.
Publicado originalmente quando Hansen tinha 25 anos, o livro
conta a história da banda de músicos que tocava no maior navio de
passageiros de todos os tempos
-eram 1.500 pessoas a bordo-
durante sua viagem inaugural, da
Inglaterra para Nova York.
Os personagens de Hansen não
são baseados nos passageiros
reais, têm nomes e histórias fictícias e vêm de várias partes da Europa. Seu destino é conhecido: o
navio afundou cinco dias após o
início da viagem, em 15 de abril de
1912, sem deixar sobreviventes.
``O que fiz foi pegar esses músicos e, ao mostrar suas vidas, exibir
seus desastres individuais e mostrar o desastre de uma velha era. O
naufrágio pode ser interpretado
tanto como um símbolo do naufrágio pessoal, que todos sofremos
-já que todos vamos morrer, temos fracassos seja na carreira ou
no amor-, quanto como símbolo
de um mundo'', afirmou o autor à
Folha, por telefone, da Alemanha.
Hansen, que estudou música,
teatro e drama, além da literatura,
conta que teve a idéia de escrever
sobre o Titanic na manhã seguinte
a uma festa de faculdade, em Oslo,
em que ele havia bebido demais.
``Eu queria escrever sobre músicos. Eu toco piano, conheço muitos músicos e eles são pessoas muito estranhas, como você deve saber. Tive a idéia de fazer um livro
sobre o Titanic e pensei que, nessa
história, poderia incluir tudo, o
navio, o heroísmo e a tragédia do
desastre, histórias individuais por
toda a Europa e a música'', disse.
Para Hansen, o Titanic virou um
símbolo tão recorrente também
por ter sido o primeiro grande desastre envolvendo tecnologia.
``Houve tantos outros acidentes
depois, maiores, que tiraram mais
vidas, mas o Titanic mostrou que
toda a técnica, todas as invenções
não são infalíveis. E aconteceu
apenas dois anos antes do estouro
da Primeira Guerra Mundial. Por
isso, virou um símbolo'', afirmou.
O autor, que já havia escrito um
drama passado no Império Germânico, no ano de 1230, se diz fascinado pelo passado da Europa,
especialmente pela belle époque.
``É um período tão cheio de otimismo: o romantismo sobre a técnica, a nova era das massas, o iluminismo, a arte e a leitura acessível
para as massas. O idealismo prevalecia entre intelectuais, artistas, todos os setores liberais, democratas
e progressistas da sociedade", disse.
"Eles realmente acreditavam
que o novo século traria vida e iluminação para as massas -eu descrevo isso no livro- e decretaria o
fim da pobreza. As coisas mudaram, mas não se tornaram o paraíso que todos esperavam.''
Hansen identifica hoje, na Europa, uma nostalgia muito forte por
esse período.
``Há uma tristeza pelo que foi
perdido, uma nostalgia pelas virtudes de uma era. Devido ao cataclismo das duas guerras, a Europa
perdeu não apenas sua inocência,
mas também parte de sua alma. E
olhamos para trás, para esse mundo mágico e estranho do passado.
Isso me fascina porque é onde estão as raízes do nosso tempo'',
afirmou.
(PD)
Livro: Cântico para a Última Viagem
Autor: Erik Fosnes Hansen
Lançamento: Companhia das Letras
Preço: R$ 29 (424 págs.)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|