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CRÍTICA
"Pra Falar de Amor" é produto de maturidade do cantor
DO ENVIADO AO RIO
Ainda que com essas idéias
de jerico de country urbano,
a Abril Music realiza o que era o
óbvio ululante: o retorno de Erasmo Carlos, um dos artistas cruciais da música popular brasileira
como ela é conhecida hoje.
Mais conhecido como sombra
de Roberto Carlos -o que ele não
é-, Erasmo é daqueles raros artistas de síntese, que elaboram o
trânsito de vertentes que aos
olhos e ouvidos de todos pareceriam irreconciliáveis.
Erasmo é (como seus parceiros
Jorge Ben e Tim Maia são ou foram) jovem guarda, é samba, é
bossa nova, é rock'n'roll, é samba-rock, é black music, é tropicália, é besteirol. É Roberto Carlos e
Caetano, Wanderléa e Elis, Rita
Lee e Chico, todos num só.
"Pra Falar de Amor" é, então,
um produto de maturidade do cara que é tudo isso aí. Chega intimidado pela besteira do country,
esquecido um tico do samba, do
samba-rock, do soul, do funk.
Mas quem é rei não perde a majestade, nem cantando tolice feita
para Kátia ("não está sendo fácil...") ou por jovem roqueiro
imaturo ("Pra Falar de Amor", de
Marcelo Camelo) -são os momentos mais frouxos do CD.
De resto, o tratamento "roots"
não afoga espantos e espantos.
Tudo o que há de bom em Erasmo Carlos Marisa Monte conseguiu sintetizar em uma frase de
"Mais Um na Multidão" -quando ela canta "sou mais um na
multidão", assoma das entranhas
do tempo o Erasmo de "Sonhos e
Memórias" (72), do rock pintado
de samba, da voz mais doce e terna de todo o pop nacional.
Felizmente há muitos desses
momentos. "Seu Bicho de Estimação" morde-sopra o parceiro
eterno de todas as glórias. "Outernet" assume tudo o que tem de
antiquada, nosso tiozinho resmungando bem-humorado que o
mundo aqui fora é bem mais jóia
que as internets. "Quem Vai Ficar
no Gol?" brinca de "Pega na Mentira" (81), passa pito nos políticos,
pede uma lambuja do mercado.
"Desenho Animado" faz farofa
de jovem guarda, do cara que em
65 fazia "Tom & Jerry". O pato
que protagoniza a canção é um
pato iê-iê-iê, mas também o da
bossa; guarda todos os patos que
fazem quaquá Brasil afora.
"A Família" e "Ela Conversava
com o Olhar", enfim, encenam a
morna melancolia do eterno
bem-humorado. Ele canta e chora
as belezas perdidas, senhor das
tristezas, senhor do tempo. É,
Erasmo ainda é demais para nossos pobres corações.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Pra Falar de Amor
Artista: Erasmo Carlos
Lançamento: Abril Music
Quanto: R$ 25, em média
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