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Cinema/estréia
Crítica/"Hércules 56"
Filme reconstitui a mais famosa ação da esquerda na ditadura
Documentário de Silvio Da-Rin conta bastidores do seqüestro do embaixador dos EUA e de sua troca por 15 presos políticos
MAURICIO PULS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Hércules 56", de Silvio Da-Rin, é uma
reconstituição
cuidadosa do seqüestro do embaixador norte-americano
Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, que resultou
na libertação de 15 presos políticos. "A mais original e bem-sucedida de todas as idéias da
esquerda brasileira nos anos
60", como escreve Elio Gaspari,
colunista da Folha, em "A Ditadura Escancarada", foi do
ministro da Secom, Franklin
Martins -que narra o episódio
em bate-papo com outros quatro organizadores da ação.
Estruturado a partir da famosa fotografia na qual 13 militantes de esquerda aparecem
algemados no aeroporto do Galeão, o diretor recupera excelentes imagens de arquivo sobre o desembarque dos brasileiros no México e sua recepção por Fidel Castro, em Cuba.
As cenas da época são complementadas por depoimentos
emocionados dos nove sobreviventes (José Dirceu, Vladimir
Palmeira e Flávio Tavares, entre outros), além de vídeos e
imagens dos que morreram.
Cada preso conta como recebeu a notícia do seqüestro e as
circunstâncias em que foi levado ao Hércules da FAB -Maria
Augusta teve a minissaia escolhida por soldados, Mario Zanconato foi transportado no
avião do ministro. Flávio Tavares e José Ibrahim relatam o
medo de que o aeroporto fosse
tomado por militares contrários à soltura dos presos, a angústia pela demora em levantar
vôo e a certeza de que o piloto
retardou a chegada ao México à
espera de uma contra-ordem
para levá-los de volta.
Segundo o historiador Jacob
Gorender ("Combate nas Trevas"), o seqüestro do embaixador dos EUA foi a primeira
operação do gênero bem-sucedida no mundo, mas seu custo
político foi muito alto, pois precipitou uma ofensiva do regime
militar que desmantelou quase
todos os grupos de esquerda.
O êxito tático da operação
não ocultou o fracasso da estratégia guerrilheira: "Foi um desastre. Nós fomos derrotados
em toda linha", afirma Dirceu.
Mas, como revela o filme, tal
opção não surgiu do nada: foi
uma resposta à falta de resistência demonstrada pela esquerda ante o golpe de 1964. A
desmoralização da pregação do
PCB sobre a "transição pacífica" ao socialismo convenceu a
esquerda a pegar em armas.
Apesar da derrota, há quem
avalie positivamente tudo o
que foi feito. Franklin Martins
diz não ter dúvidas de que a
guerrilha contribuiu para que o
Brasil se tornasse um país melhor. E Flávio Tavares acrescenta: "Nós não fomos para debaixo da cama. Nós demos o
melhor que tínhamos: a vida".
HÉRCULES 56
Produção: Brasil, 2006
Direção: Silvio Da-Rin
Onde: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Cine Bombril e HSBC Belas Artes
Avaliação: bom
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