São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Cinema/estréia

Crítica/"Hércules 56"

Filme reconstitui a mais famosa ação da esquerda na ditadura

Documentário de Silvio Da-Rin conta bastidores do seqüestro do embaixador dos EUA e de sua troca por 15 presos políticos

MAURICIO PULS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Hércules 56", de Silvio Da-Rin, é uma reconstituição cuidadosa do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, que resultou na libertação de 15 presos políticos. "A mais original e bem-sucedida de todas as idéias da esquerda brasileira nos anos 60", como escreve Elio Gaspari, colunista da Folha, em "A Ditadura Escancarada", foi do ministro da Secom, Franklin Martins -que narra o episódio em bate-papo com outros quatro organizadores da ação. Estruturado a partir da famosa fotografia na qual 13 militantes de esquerda aparecem algemados no aeroporto do Galeão, o diretor recupera excelentes imagens de arquivo sobre o desembarque dos brasileiros no México e sua recepção por Fidel Castro, em Cuba.
As cenas da época são complementadas por depoimentos emocionados dos nove sobreviventes (José Dirceu, Vladimir Palmeira e Flávio Tavares, entre outros), além de vídeos e imagens dos que morreram.
Cada preso conta como recebeu a notícia do seqüestro e as circunstâncias em que foi levado ao Hércules da FAB -Maria Augusta teve a minissaia escolhida por soldados, Mario Zanconato foi transportado no avião do ministro. Flávio Tavares e José Ibrahim relatam o medo de que o aeroporto fosse tomado por militares contrários à soltura dos presos, a angústia pela demora em levantar vôo e a certeza de que o piloto retardou a chegada ao México à espera de uma contra-ordem para levá-los de volta.
Segundo o historiador Jacob Gorender ("Combate nas Trevas"), o seqüestro do embaixador dos EUA foi a primeira operação do gênero bem-sucedida no mundo, mas seu custo político foi muito alto, pois precipitou uma ofensiva do regime militar que desmantelou quase todos os grupos de esquerda.
O êxito tático da operação não ocultou o fracasso da estratégia guerrilheira: "Foi um desastre. Nós fomos derrotados em toda linha", afirma Dirceu.
Mas, como revela o filme, tal opção não surgiu do nada: foi uma resposta à falta de resistência demonstrada pela esquerda ante o golpe de 1964. A desmoralização da pregação do PCB sobre a "transição pacífica" ao socialismo convenceu a esquerda a pegar em armas.
Apesar da derrota, há quem avalie positivamente tudo o que foi feito. Franklin Martins diz não ter dúvidas de que a guerrilha contribuiu para que o Brasil se tornasse um país melhor. E Flávio Tavares acrescenta: "Nós não fomos para debaixo da cama. Nós demos o melhor que tínhamos: a vida".


HÉRCULES 56
Produção:
Brasil, 2006
Direção: Silvio Da-Rin
Onde: a partir de hoje nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex, Cine Bombril e HSBC Belas Artes
Avaliação: bom


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