São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/Coleção Brigitte Bardot

Mito Bardot mostra sua força em filmes com histórias frágeis

Virtudes de BB como mulher e comediante são o que valem em três longas dos anos 50 e 60 reunidos agora em caixa

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para quem não sabe, o mito Brigitte Bardot só tinha rival, entre os anos 50 e 60, em Marilyn Monroe. Mas eu não me lembro de Marilyn ter sido tema de marchinha de Carnaval, como a Bardot foi. A morte de Marilyn só fez crescer seu mito, enquanto Bardot, retirada, depois de dedicar-se por uns tempos à defesa dos animais (o que soava esquisito, mas não é tanto: estrelas desse porte tendem a ter mais apreço aos animais do que aos humanos), houve por bem tomar a defesa da extrema-direita francesa.
BB, como era conhecida, acabou um tanto esquecida. Era o que ela queria. Mas que sua ausência faz mal ao cinema, faz. Não é preciso nem recorrer aos seus grandes momentos, a "O Desprezo", de Godard, a "Viva Maria!", de Louis Malle, nem mesmo a "E Deus Criou a Mulher", de Vadim, que a projetou mundialmente.
Qualquer filme, mesmo os agora lançados pela Universal, dão conta do que ela representou. Num cinema francês ocupado por divas, BB era um sopro de juventude, de vivacidade. Era dotada de uma sensualidade tão mais eficaz quanto a ela se superpunha uma capa de cândida inocência: queria tudo, mas parecia não querer nada.
Dos filmes dessa caixa, um talvez exija um tanto de paciência do espectador: "O Repouso do Guerreiro" (1962), de Roger Vadim. Ali Bardot faz a noiva que, em viagem, conhece por acaso um suicida (Robert Hossein). É ele o centro do filme: um anarquista, rebelde, debochado. Em uma palavra: livre.
Bardot não é nada livre. Aliás, até encontrá-lo é sexualmente frígida. Problema que será resolvido, assim como o de seu noivado.
Haverá outros pela frente que, pelo teor (da questão da liberdade colocada à maneira existencialista à da sexualidade), permitirão compreender o interesse despertado por esse filme no começo dos anos 60, antes de 68. Da mesma forma, permitirão compreender o enfado do espectador de hoje, para o qual colabora o vazio pomposo de Vadim.

BB dança
"Quer Dançar Comigo?" (1959) e "Garota Levada" (1956), duas comédias de Michel Boisrond, parecem com as comédias americanas da época.
No primeiro, Bardot se faz passar por professora de dança para descobrir o autor de um assassinato e livrar seu marido da acusação. É claro que da trama policial não se deve esperar muito. Mas, quando BB se põe a dançar, parece que o mundo vai virar de ponta-cabeça.
"Garota Levada" é um filme dos primórdios de Bardot, o que não significa que lá não estejam suas virtudes. Ela é uma menina retirada às pressas do colégio interno por um famoso cantor de boate (a boate é do pai dela, que se apresenta como homem importante e está sendo perseguido pela polícia). Nesse processo, o cantor famoso descobrirá que ela não é tão menina quanto ele pensava.
As duas comédias não entram para a história como obras-primas, mas se impõem pela percepção de que, nisso tudo, o que mais valia a pena era pôr em relevo as virtudes de BB, que não eram poucas, nem como comediante, muito menos como mulher. Nesses filmes, o mito BB e sua coloquialidade encontram-se, por vezes, de maneira deliciosa.


COLEÇÃO BRIGITTE BARDOT
Distribuidora: Universal (R$ 50, em média, a caixa)
Avaliação: regular ("Garota Levada", de 1956, e "Quer Dançar Comigo?", de 1959); ruim ("O Repouso do Guerreiro", de 1962)



Texto Anterior: Santoro faz papel de suspeito
Próximo Texto: Vigiada pelo governo, âncora da CNN visita Coréia do Norte
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.