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Crítica/Coleção Brigitte Bardot
Mito Bardot mostra sua força em filmes com histórias frágeis
Virtudes de BB como mulher e comediante são o que valem em três longas dos anos 50 e 60 reunidos agora em caixa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Para quem não sabe, o
mito Brigitte Bardot só
tinha rival, entre os
anos 50 e 60, em Marilyn Monroe. Mas eu não me lembro de
Marilyn ter sido tema de marchinha de Carnaval, como a
Bardot foi. A morte de Marilyn
só fez crescer seu mito, enquanto Bardot, retirada, depois
de dedicar-se por uns tempos à
defesa dos animais (o que soava
esquisito, mas não é tanto: estrelas desse porte tendem a ter
mais apreço aos animais do que
aos humanos), houve por bem
tomar a defesa da extrema-direita francesa.
BB, como era conhecida, acabou um tanto esquecida. Era o
que ela queria. Mas que sua ausência faz mal ao cinema, faz.
Não é preciso nem recorrer aos
seus grandes momentos, a "O
Desprezo", de Godard, a "Viva
Maria!", de Louis Malle, nem
mesmo a "E Deus Criou a Mulher", de Vadim, que a projetou
mundialmente.
Qualquer filme, mesmo os
agora lançados pela Universal,
dão conta do que ela representou. Num cinema francês ocupado por divas, BB era um sopro de juventude, de vivacidade. Era dotada de uma sensualidade tão mais eficaz quanto a
ela se superpunha uma capa de
cândida inocência: queria tudo,
mas parecia não querer nada.
Dos filmes dessa caixa, um
talvez exija um tanto de paciência do espectador: "O Repouso
do Guerreiro" (1962), de Roger
Vadim. Ali Bardot faz a noiva
que, em viagem, conhece por
acaso um suicida (Robert Hossein). É ele o centro do filme:
um anarquista, rebelde, debochado. Em uma palavra: livre.
Bardot não é nada livre. Aliás,
até encontrá-lo é sexualmente
frígida. Problema que será resolvido, assim como o de seu
noivado.
Haverá outros pela frente
que, pelo teor (da questão da liberdade colocada à maneira
existencialista à da sexualidade), permitirão compreender o
interesse despertado por esse
filme no começo dos anos 60,
antes de 68. Da mesma forma,
permitirão compreender o enfado do espectador de hoje, para o qual colabora o vazio pomposo de Vadim.
BB dança
"Quer Dançar Comigo?"
(1959) e "Garota Levada"
(1956), duas comédias de Michel Boisrond, parecem com as
comédias americanas da época.
No primeiro, Bardot se faz
passar por professora de dança
para descobrir o autor de um
assassinato e livrar seu marido
da acusação. É claro que da trama policial não se deve esperar
muito. Mas, quando BB se põe a
dançar, parece que o mundo vai
virar de ponta-cabeça.
"Garota Levada" é um filme
dos primórdios de Bardot, o
que não significa que lá não estejam suas virtudes. Ela é uma
menina retirada às pressas do
colégio interno por um famoso
cantor de boate (a boate é do
pai dela, que se apresenta como
homem importante e está sendo perseguido pela polícia).
Nesse processo, o cantor famoso descobrirá que ela não é tão
menina quanto ele pensava.
As duas comédias não entram para a história como
obras-primas, mas se impõem
pela percepção de que, nisso tudo, o que mais valia a pena era
pôr em relevo as virtudes de
BB, que não eram poucas, nem
como comediante, muito menos como mulher. Nesses filmes, o mito BB e sua coloquialidade encontram-se, por vezes,
de maneira deliciosa.
COLEÇÃO BRIGITTE BARDOT
Distribuidora: Universal (R$ 50, em
média, a caixa)
Avaliação: regular ("Garota Levada",
de 1956, e "Quer Dançar Comigo?", de
1959); ruim ("O Repouso do Guerreiro", de 1962)
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