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NET CETERA
Vídeo de Daniel Pearl é documento histórico
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Apesar dos esforços do FBI
(a polícia federal norte-americana) de tirar do ar todos os sites
que ousaram exibir as cenas, ainda é possível ver o vídeo com o assassinato de Daniel Pearl na internet. A iniciativa é do site do jornal
"The Boston Phoenix" (www.bostonphoenix.com), que publica
em seu site link para as cenas
(prohosters.com/pearl).
De acordo com editorial da publicação, intitulado "Liberdade de
Escolha", era preciso mostrar as
cenas em que o correspondente
do diário econômico "The Wall
Street Journal" no Oriente Médio
é morto por extremistas islâmicos
no Paquistão. A questão, diz o jornal, é histórica.
O contra-argumento do FBI é
que se trata de uma prova de crime e, como tal, não pode ser exibida fora de um tribunal em que o
crime esteja sendo julgado. Já a família do jornalista declarou que
aqueles que assistem ao vídeo "se
prestam sem vergonha ao plano
dos terroristas".
Todos são pontos defensáveis.
Eu assisti ao vídeo no último fim
de semana. Trata-se na verdade
de um clipe montado pelos extremistas. Por sua importância histórica e tudo o que representa, é o
"Zapruder Film" de minha geração. Para quem não se lembra,
Abraham Zapruder foi o único cinegrafista amador que registrou o
assassinato de JFK, em 21 de novembro de 1963.
No "Pearl Film", a cena em que
o jornalista norte-americano é decapitado impressiona, claro, pela
violência, embora passe a sensação de que Pearl já estivesse morto ao ser decepado. Se não diminui a selvageria, ao menos sugere
o consolo de que ele não tenha sofrido tanto.
Paradoxalmente, no entanto,
não é essa a cena mais violenta.
Impressiona mais ver o repórter
no segmento prévio. É quando ele
é obrigado a fazer sua declaração
de simpatia à criação de um Estado palestino e contra Israel.
"Sou judeu, meu pai é judeu",
começa ele, quase esboçando um
sorriso, como se estivesse falando
para uma platéia de estudantes de
jornalismo. Seus olhos vagam
sem se fixar na câmera, talvez já
consequência das torturas que sofreu, talvez por estar sem os óculos que usou durante a vida toda.
Pearl está obviamente perturbado, mas se esforça para mostrar
uma certa descontração, por certo
tentando ganhar a simpatia dos
terroristas, barganhando internamente em sua cabeça que, se fizesse tudo "direito", poderia sair daquela com vida.
Não sai, como todos nós sabemos. Ou deveríamos saber, e para
isso a liberdade de poder acessar o
vídeo é fundamental.
E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Site: www.uol.com.br/sergiodavila
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