|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Record abre museu de afetividades de sofá
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
A nostalgia, precoce ou
com antecedentes históricos
é produto de primeira linha do
veículo cuja linguagem mor é a repetição. De novo e de novo outra
vez. Na novela de Manoel Carlos
("Mulheres Apaixonadas") se repete chororôs à Glória Magadan,
no futebol que educou nosso
olhar para pedir repeteco e tira-teima, na metalinguagem barata
do "Vídeo Show" ou no êxtase de
Alice/Daniella Cicarelli -mirem-se no sorriso do gato de Lewis
Carroll- no "País da MTV".
Lê-se eterno flashback, as imagens dos especiais de comemoração dos 50 anos da TV Record -sábado passado foi o segundo
de uma série de programas-,
que funcionam como um museu
de tudo das nossas afetividades
do sofá. Com a mesma moral de
todas as repetições ditas históricas: "Ah, como era boa a televisão
que se fazia antigamente". Pura
balela. Coisa de quem acredita no
discurso fascistóide que defende
uma "programação de qualidade" na TV.
Coisa de quem via o Chacrinha
como um circo "alienante" até o
começo dos anos 80 e agora o protege sob aura cult -esse truque
usado pela classe média metida
para se apropriar do patrimônio
brega nacional, talvez herança dos
sequestros intertextuais do tropicalismo.
Vistas sem a moral da superioridade histórica, as imagens da TV
Record cinquentona são até divertidas. Foram feitas para entretenimento, quando essa indústria
típica dos anos "Caras"/Adriane
Galisteu -ótima como apresentadora do especial, que tem também Boris Casoy no front- ainda engatinhava e não sabia que no
futuro tudo viraria pó nostálgico
em 15 segundos.
Embora os personagens rejeitem seus infernos anteriores, a coleção de depoimentos dos especiais, que incluem Roberto Carlos
no programa que irá ao ar neste
sábado, é outro divertimento assegurado. O rei da jovem guarda
deve muito da carreira aos tempos dourados da Record, quando
ainda não trocava um brotinho de
minissaia por um templo inteiro
de evangélicas em transe.
Tem também o Miéle (lembram
do Miéle?) que, como poucos, vive o milagre da ressurreição televisiva -quando menos esperamos, lá está o homem de volta.
Mas, por favor, chega de repetir a
imagem do Sérgio Ricardo quebrando de novo aquele violão.
Especial 50 Anos da Record
Quando: sábado (14), às 22h15, na
Record
Texto Anterior: Música: Em "Hail", Radiohead recusa isolamento Próximo Texto: Marcelo Coelho: O Brasil sem inocência de "Desmundo" Índice
|