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HISTÓRIA
Diplomata, historiador e poeta recebe o Prêmio Intelectual do Ano, da UBE, por livro de ensaios sobre a África
"Africanista" Costa e Silva vence Juca Pato
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Alberto da Costa e Silva nasceu
em São Paulo, radicou-se no Rio,
mas escolheu desde cedo a África
como seu quintal. Já visitou todos
os países do continente, que começou a conhecer há 44 anos, assistiu ao vivo a independência de
boa parte das nações africanas, foi
embaixador do Brasil na Nigéria e
no Benim, e assim por diante.
Mas Costa e Silva não ficou só
no presente. São seus três dos
principais livros produzidos no
Brasil sobre o passado do continente africano: "A Enxada e a
Lança", A Manilha e o Libambo"
e "Um Rio Chamado Atlântico".
Este último, lançado em 2003,
conjunto de 16 ensaios, acaba de
render a Costa e Silva a 41ª edição
do Troféu Juca Pato - Prêmio Intelectual do Ano, organizado pela
União Brasileira dos Escritores,
com patrocínio da Folha.
Não será o primeiro na sua "sala
de troféus". Aos 73 anos, Costa e
Silva pertence ao seleto clube dos
ganhadores de prêmios Jabuti em
dois segmentos sem parentescos:
poesia e história.
"Sigo a máxima de Goethe, que
dizia que a cultura é a soma de
poesia e história", afirma o autor
por telefone de seu apartamento,
em Copacabana.
Os últimos anos têm sido mais
da história. Como uma espécie de
continuação de sua trilogia africana, o "africanista" está lançando
nesta semana, pela mesma editora Nova Fronteira que publicou
os livros anteriores, o volume
"Francisco Félix de Souza - Mercador de Escravos".
"É uma biografia do principal
traficante de escravos brasileiros
da história, talvez um dos maiores
traficantes de escravos de todos os
tempos", afirma.
Segundo o autor, o baiano Félix
de Souza, chamado Chachá de
Ajudá, acumulou uma fortuna
que equivaleria nos valores de hoje a US$ 3 bilhões. O traficante vivia ("e era amigo do rei, como no
poema de Manuel Bandeira",
brinca Costa e Silva) no antigo
Daomé, hoje República do Benin,
país colado à esquerda da Nigéria.
Costa e Silva conhece esse pedaço da África, também escarafunchado com categoria por Pierre
Verger, com distinção e louvor.
"Tenho a felicidade de ter recebido muitos prêmios, mas o de
que mais me orgulho é o de doutor honoris causa na Universidade de Ifé (Nigéria). Foi em Ifé que
surgiu o homem."
O intelectual, que diz ter se apaixonado pela África já aos 16 anos,
diz que poucos conhecem a história de Ifé, como poucos no Brasil
sabem alguma coisa sobre seu
continente irmão de modo geral.
"É estranhíssimo que tenhamos
tido tão poucos estudiosos sérios
da África." Costa e Silva diz que
nos últimos anos esse quadro começou a ter uma leve melhora,
com a criação de muitas cadeiras
de história da África em universidades nacionais.
Embora tenha diversas relações
com o ensino superior e tenha lecionado muitos anos no Itamaraty, Costa e Silva não fez parte
fundamental da sua trajetória intelectual nas universidades.
É acadêmico, mas em outro
sentido. O ensaísta, diplomata e
poeta é titular da cadeira número
9 da Academia Brasileira de Letras desde 2000 e foi presidente da
instituição em 2002 e 2003.
Sua gestão é tida no Petit Trianon como de grandes avanços,
pela modernização da instituição,
que está finalizando uma biblioteca de última geração.
Em outra biblioteca, a Mário de
Andrade, em São Paulo, Costa e
Silva deverá receber no final deste
ano seu Troféu Juca Pato, das
mãos do "Intelectual do Ano" anterior, o poeta e ensaísta Gilberto
Mendonça Telles.
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