São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HISTÓRIA

Diplomata, historiador e poeta recebe o Prêmio Intelectual do Ano, da UBE, por livro de ensaios sobre a África

"Africanista" Costa e Silva vence Juca Pato

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Alberto da Costa e Silva nasceu em São Paulo, radicou-se no Rio, mas escolheu desde cedo a África como seu quintal. Já visitou todos os países do continente, que começou a conhecer há 44 anos, assistiu ao vivo a independência de boa parte das nações africanas, foi embaixador do Brasil na Nigéria e no Benim, e assim por diante.
Mas Costa e Silva não ficou só no presente. São seus três dos principais livros produzidos no Brasil sobre o passado do continente africano: "A Enxada e a Lança", A Manilha e o Libambo" e "Um Rio Chamado Atlântico".
Este último, lançado em 2003, conjunto de 16 ensaios, acaba de render a Costa e Silva a 41ª edição do Troféu Juca Pato - Prêmio Intelectual do Ano, organizado pela União Brasileira dos Escritores, com patrocínio da Folha.
Não será o primeiro na sua "sala de troféus". Aos 73 anos, Costa e Silva pertence ao seleto clube dos ganhadores de prêmios Jabuti em dois segmentos sem parentescos: poesia e história.
"Sigo a máxima de Goethe, que dizia que a cultura é a soma de poesia e história", afirma o autor por telefone de seu apartamento, em Copacabana.
Os últimos anos têm sido mais da história. Como uma espécie de continuação de sua trilogia africana, o "africanista" está lançando nesta semana, pela mesma editora Nova Fronteira que publicou os livros anteriores, o volume "Francisco Félix de Souza - Mercador de Escravos".
"É uma biografia do principal traficante de escravos brasileiros da história, talvez um dos maiores traficantes de escravos de todos os tempos", afirma.
Segundo o autor, o baiano Félix de Souza, chamado Chachá de Ajudá, acumulou uma fortuna que equivaleria nos valores de hoje a US$ 3 bilhões. O traficante vivia ("e era amigo do rei, como no poema de Manuel Bandeira", brinca Costa e Silva) no antigo Daomé, hoje República do Benin, país colado à esquerda da Nigéria.
Costa e Silva conhece esse pedaço da África, também escarafunchado com categoria por Pierre Verger, com distinção e louvor.
"Tenho a felicidade de ter recebido muitos prêmios, mas o de que mais me orgulho é o de doutor honoris causa na Universidade de Ifé (Nigéria). Foi em Ifé que surgiu o homem."
O intelectual, que diz ter se apaixonado pela África já aos 16 anos, diz que poucos conhecem a história de Ifé, como poucos no Brasil sabem alguma coisa sobre seu continente irmão de modo geral. "É estranhíssimo que tenhamos tido tão poucos estudiosos sérios da África." Costa e Silva diz que nos últimos anos esse quadro começou a ter uma leve melhora, com a criação de muitas cadeiras de história da África em universidades nacionais.
Embora tenha diversas relações com o ensino superior e tenha lecionado muitos anos no Itamaraty, Costa e Silva não fez parte fundamental da sua trajetória intelectual nas universidades.
É acadêmico, mas em outro sentido. O ensaísta, diplomata e poeta é titular da cadeira número 9 da Academia Brasileira de Letras desde 2000 e foi presidente da instituição em 2002 e 2003.
Sua gestão é tida no Petit Trianon como de grandes avanços, pela modernização da instituição, que está finalizando uma biblioteca de última geração.
Em outra biblioteca, a Mário de Andrade, em São Paulo, Costa e Silva deverá receber no final deste ano seu Troféu Juca Pato, das mãos do "Intelectual do Ano" anterior, o poeta e ensaísta Gilberto Mendonça Telles.


Texto Anterior: Outros lançamentos: Prince volta à realeza black
Próximo Texto: Música: Pixinguinha roda país a partir de setembro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.