São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Osesp interpreta Sofia Gubaidulina

A russa, uma das principais compositoras eruditas do mundo, tem suas obras de vanguarda tocadas hoje, amanhã e sábado

Perseguida pelo regime comunista, Gubaidulina passou anos de sua vida compondo para animações, filmes e documentários


ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A senhora de olhar doce e mãos ágeis que, muito provavelmente, é hoje a compositora erudita mais importante viva começou sua história de experimentações sonoras ainda menina, batucando num piano caindo aos pedaços.
As lembranças do piano de cauda vagabundo comprado pela família pobre para alegrar os dias cinzentos das duas filhas na cidade industrial de Chistopol, na região central da então União Soviética, são o início da conversa com Sofia Gubaidulina, 78.
"Explorávamos tudo, abríamos o teclado, mexíamos no pedal, tocávamos as cordas. Na vida real não tínhamos nenhum tipo de riqueza, mas aquele piano preencheu a minha vida e deu sentido a ela. Ali percebi que da maior pobreza podemos extrair riquezas.
Aprendi a experimentar e a improvisar, descobrindo na música o meu refúgio", diz ela. Pouco antes da entrevista, com partituras em punho e um bloquinho de anotações na mão, Gubaidulina podia ser vista solitária na plateia da Sala São Paulo, em meio a um ensaio da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
Serena, toda vez que era chamada pelo maestro, o alemão Alexander Mickelthwate, corria rapidamente até a beirada do palco, para dar pistas sobre as dissonâncias de sua música repleta de contrastes sonoros.
Gubaidulina faz sua primeira visita ao Brasil atendendo a um convite da Osesp. A cada temporada, a orquestra escolhe um compositor vivo de peso para, com a presença dele, fazer a estreia de peças contemporâneas.
Foi assim com o polonês Krzysztof Penderecki e será assim hoje quando Gubaidulina assistir à estreia nacional de "Two Paths", de 1998, e "Stimmen... Verstummen...", de 1986, num programa que tem ainda a "Sinfonia nº 26, Lamentação", de Haydn, escolhida como complemento pela autora.
"Sinto que as três têm a mesma raiz. É como se buscassem o mesmo sentido", explica ela. Apesar das perseguições políticas e religiosas (um dos avôs dela era muçulmano) e até de uma doença (escorbuto), Gubaidulina chegou ao Conservatório de Moscou ainda jovem. Como desde cedo se interessou por pesquisas mais inusitadas, sofreu censuras na escola, onde era vista como mais próxima da vanguarda ocidental do que do comunismo.
Um dos seus principais incentivadores, lembra, foi Dmitri Shostakóvich (1906-1975). "Ele era o presidente da banca para a minha pós-graduação. Ele não só teve muito interesse na minha obra, como defendeu as minhas pesquisas estéticas." Seu estilo vanguardista, contudo, não agradava ao regime.
Para sobreviver nos anos 70 e 80, Gubaidulina compôs para o cinema. Filmes, documentários e desenhos animados foram o terreno perfeito para suas experimentações. No fim dos anos 80, com a abertura política, suas composições começaram a romper a "cortina de ferro". "Offertorium", peça de 1980, foi gravada pelo violinista Gidon Kremer.
A Rússia, enfim, começava a reconhecer seu talento. Mas em 1992, em busca de tranquilidade, Gubaidulina mudou-se para a periferia de Hamburgo, na Alemanha, onde vive.


OSESP

Quando: hoje e amanhã, às 21h; sáb., às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Julio Prestes, s/nº, tel.: 0/xx/11/3223-3966)
Quanto: de R$ 30 a R$ 104
Classificação: 7 anos




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