São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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MÔNICA BERGAMO

No coração do Brasil

Cássio Vasconcellos
Os helicópteros sobrevoam o cerrado, num trajeto de 3.000 km, levando 37 pessoas para dez localidades e consumindo 16 mil litros de querosene


Durante sete dias, sete helicópteros percorreram, na semana passada, 3.000 quilômetros no coração do Brasil. Sobrevoaram rios, cachoeiras, aldeias indígenas e pedaços de terra de até 300 km de extensão sem sinais de civilização. Levavam dentro deles 37 pessoas, na primeira Expedição Brasil, formada por amantes de helicópteros que se juntaram na aventura.

O ponto de encontro para a partida foi Goiânia. De Miami veio o empresário Sérgio Vilhena, 51, e a mulher, Bettina Blikstad, 37. Se juntaram ao sócio, Marcelo Almeida, 52 -os dois têm uma empresa que compra e vende helicópteros. Marcelo chegou do Rio com um Esquilo AS 350 BA, que ele mesmo pilotou, e um Robinson 44 pilotado por seu irmão, Márcio.

Do Rio compareceu também Jefferson de Oliveira, 43, um dos donos da Universo (Universidade Salgado de Oliveira), num Esquilo AS 350 B3.

De São Paulo pousou Luciano Zogbi, 29, com seu Esquilo AS 350 B3. Há cinco meses, a família vendeu o banco Zogbi, que ele ajudava a administrar, para o Bradesco, e Luciano mergulhou num período sabático.

Em Goiânia já estavam as outras aeronaves, como o Esquilo AS 350 BA, de Sebastião Abreu, dono de uma empresa de táxi aéreo e organizador da expedição, e um Esquilo AS 350 BA, de Walterci de Melo, 49, dono do laboratório Teuto.

Às 10 horas da sexta-feira, 2 de julho, os helicópteros partiram de Goiânia para um roteiro que passaria, em sete dias, pela Cidade de Goiás e Aruanã, São Félix do Araguaia e Ilha do Bananal (GO), Palmas e Jalapão (TO), Chapada dos Veadeiros (GO) e Brasília (DF) e terminaria em Caldas Novas (GO).

Um avião Seneca, do governo de Goiás, decolou logo em seguida com mantimentos para os aventureiros. Algumas malas seguiram por terra, em caminhonetes e vans que levavam galões de querosene e também técnicos responsáveis pelo abastecimento dos helicópteros em cada ponto de pouso.

A primeira parada foi na Cidade de Goiás, onde as 37 pessoas da expedição visitaram a casa de Cora Coralina e almoçaram arroz com pequi. Em Aruanã, foram recebidas com festa pela prefeita Ana Paula de Souza, 34, e por uma pequena multidão no centro da cidade que também festejava a passagem do rally dos sertões -corrida de motos, carros e caminhões que vai de Goiânia a Fortaleza.

Naquele dia o grupo dormiu na beira do rio Araguaia, no acampamento "Rabodearraia", o mais equipado da região e que só funciona nos meses de inverno, quando os rios baixam formando praias. As cabanas eram feitas todas de papel reciclado, com banheiro e ducha fria.

Como Luciano Zogbi fazia aniversário, foi providenciado um bolo. Walterci de Melo, do laboratório Teuto, saboreava um bom uísque. O grupo fez serenata até as 2h. O mergulho no rio, cheio de arraias, ficou para o dia seguinte. Era possível circular pelas ilhotas, ver botos mergulhando e tuiuiús no céu. Na hora de partir, um imprevisto: a caminhonete que levava querosene não apareceu e eles tiveram que dividir o combustível disponível entre si -cada um voou com 60% do tanque cheio. Foi o suficiente para se chegar até a pousada de São Félix do Araguaia, onde as vans descarregaram uma pilha de malas Louis Vuitton da turma.

Nessa noite a festa foi num acampamento dos índios Karajá, que cantaram e dançaram em torno da fogueira. Apenas o cacique, Iwyraro Karaja, falava português.

Ao acordar, na manhã seguinte, Cláudia Almeida, 42, mulher do empresário carioca Marcelo Almeida, e Maria Cláudia Blanco, 40, foram tatuadas por duas índias karajá com omarura, mistura da tinta do jenipapo com fuligem do carvão. Mãe de três adolescentes, Cláudia tem feito sessões de análise para vencer o medo de voar. Maria Cláudia, que é nora do compositor Billy Blanco, era a religiosa do grupo. É que ela foi missionária por 18 anos, e até hoje reza todos os dias.

O paulistano Fábio Eid, 25, que estava com Luciano Zogbi, pediu que as índias tatuassem um heliporto em seu antebraço. "Aqui só é proibido pousar pernilongo", dizia ele.

Ainda nesse terceiro dia foi possível visitar Palmas. A cidade parou para ver os helicópteros -até o governador Marcelo Miranda, do TO, foi ao centro da cidade recebê-los. Os pilotos retribuíram com as aeronaves paradas no ar, lado a lado, por três minutos, 150 m sobre o rio Tocantins. A multidão delirou.

O grupo passou ainda por Jalapão, Chapada dos Veadeiros e Brasília, onde foi recebido pelo ministro Walfrido do Mares Guia, do Turismo. No fim da viagem, a choradeira foi geral. Eles agora planejam uma viagem parecida à Patagônia.


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