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scritor critica análise da obra de Cervantes feita por colegas; Rushdie diz que seu novo livro é mais "comercial"
Suassuna defende sonho quixotesco na Flip
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
O escritor pernambucano Ariano Suassuna dedicou parte de sua
fala ontem, no último dia da Flip,
à crítica de dois de seus colegas na
festa: o historiador Evaldo Cabral
de Mello e o escritor Alberto Mussa. O primeiro, por ter comparado a Espanha de Dom Quixote
aos EUA de Bush; o segundo, por
ter dito que o personagem de Cervantes, que neste ano completa
400 anos, é egoísta.
Suassuna não disse os nomes
dos escritores, mas tinha à mão
uma entrevista de Mello concedida à Folha e um artigo de Mussa
no "Globo", publicados no sábado. "É possível que meu conterrâneo compare, que diga que Bush
está querendo espalhar democracia no mundo?", indagou Suassuna a uma platéia lotada. "A gente
tem autoridade moral para dizer
que o atentado em Londres foi
uma monstruosidade, mas Bush e
Blair, não. Fazem brutalidades e
querem reclamar do revide?"
Suassuna criticou Mello ainda
por ter dito, na entrevista, que a
única figura da literatura brasileira que se aproximou de Quixote
foi o capitão Vitorino Carneiro da
Cunha, de "Fogo Morto", de José
Lins do Rego. "É uma grande injustiça com Lima Barreto e "O
Triste Fim de Policarpo Quaresma", que foi o Quixote brasileiro.
E também com o Rubião de
"Quincas Borba" de Machado de
Assis", reclamou Suassuna.
Ao falar do artigo de Mussa,
Suassuna fez uma pequena digressão: lembrou-se de uma pesquisa feita em 2000 para eleger o
escritor do milênio que acabava, e
que teve como vencedor William
Shakespeare. E disparou: "Prefiro
Cervantes. O maior personagem
de Shakespeare é Hamlet, este sim
um individualista. Quixote é
quem parte para consertar o que
está errado no mundo".
Evaldo Cabral de Mello e Alberto Mussa não foram encontrados
pela reportagem da Folha para
comentar as críticas. Suassuna,
cuja palestra tinha como tema
"Brasil, Arquipélago de Culturas", fez várias referências a Cervantes. Falou sobre a preguiça
brasileira ou "o ócio criativo dos
poetas brasileiros, como povo
quixotesco que é". E lembrou que
seu personagem Joaquim Simão,
de "Farsa da Boa Preguiça", é um
misto de Quixote e Sancho Pança.
A crise política brasileira apareceu apenas de modo sutil na fala
de Suassuna. O escritor chorou ao
lembrar-se que, no livro de Lima
Barreto, Policarpo Quaresma era
tido como homem ridículo, quixotesco, apenas porque amava
seu país e seu povo. E, ao dizer
que ficou surpreso com sua foto
na capa da nova edição de uma revista literária, ironizou: "Que raça
feia que é a de escritor. E, como
disse o Roberto Jefferson, eu não
estou me excluindo, não".
Rushdie
Na noite anterior, Salman Rushdie lançou "Shalimar, o Equilibrista" numa participação que seguiu os moldes de um "talk
show", comandado pela jornalista britânica Mariella Frostrup, da
rádio BBC. Rushdie disse que seu
novo livro pode ser visto como
mais comercial do que os anteriores e que pode até virar filme
hollywoodiano, pois tem um bom
número de personagens brancos.
Sobre a dimensão trágica de
seus livros como reflexo dos dias
de hoje, disse: "Se o mundo ficar
mais alegre, espero escrever livros
mais alegres também. Ou não".
Ontem à noite Rushdie participou
da mesa de encerramento da Flip,
sobre "Livros de Cabeceira". Contou que começara a ler "Memórias de Minhas Putas Tristes", de
Gabriel García Márquez. "Estou
lendo com muito prazer. Em vários sentidos", brincou.
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